Imunoterapia: o que é e como funciona
Última atualização em 14 de dezembro de 2021
Esse tipo de tratamento pode ser uma importante indicação para os pacientes onco-hematológicos, pois apresenta bons resultados e causa menos toxicidade
A imunoterapia é um conjunto de terapias que fazem uso de algum fator do sistema imunológico do próprio paciente para tratar o câncer. Essas drogas podem ser indicadas para diversos tipos de neoplasias malignas e, em geral, são mais bem toleradas em comparação com a quimioterapia tradicional. As pesquisas têm desenvolvido imunoterapias que funcionam por meio de diferentes estratégias, aumentando a quantidade de doenças que podem ser tratadas.
Em outras palavras, no tratamento oncológico, enquanto a quimioterapia está relacionada com produtos e substâncias químicas que atacam as células cancerosas, a imunoterapia potencializa ou bloqueia processos do próprio sistema imunológico da pessoa para fazer com que ele passe a atacar o câncer.
“A grande vantagem da imuno é que por ela ser uma terapia biológica, ela tende, de uma maneira geral, a poupar as células normais. Por isso, causa menos efeitos colaterais. Então, grande parte das imunos são mais bem toleradas e menos tóxicas que as quimioterapias”, compara o Dr. Guilherme Perini, hematologista e membro do Comitê de Cuidados Paliativos da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH).
Ele ressalta, entretanto, que isso não significa que não acontecem efeitos colaterais, mas que eles são diferentes e, normalmente, não tão intensos. Além dessa vantagem, o Dr. Perini afirma que também há o benefício de ser possível combinar a imunoterapia com a quimioterapia, gerando resultados ainda melhores.
“Como são mecanismos diferentes, você pode ter uma adição de benefícios sem ter aumento de toxicidade. As quimio-imunoterapia são, hoje, uma realidade para todos os linfomas B, para leucemia linfoide crônica (LLC) e para uma parte das leucemias linfoides agudas (LLA)”, ele diz.
Como a imunoterapia funciona?
O hematologista explica que há alguns tipos de imunoterapia e cada um funciona de uma maneira diferente. Inicialmente, foram desenvolvidos os potencializadores da resposta imune, depois os anticorpos monoclonais, seguido dos imunoconjugados. Depois, vieram os biespecíficos e, mais recentemente, os bloqueadores de checkpoint.
Esse tratamento é feito, principalmente, com as interleucinas e com o interferon.
“O interferon, por exemplo, foi utilizado como imunoterapia no linfoma folicular no passado e as interleucinas foram utilizadas para melanoma”, o Dr. Perini detalha.
Esses medicamentos têm como objetivo atingir um alvo específico, um antígeno, determinado previamente em laboratório. Na Onco-Hematologia, o tratamento mais importante desenvolvido foi o rituximabe, utilizado para tratar alguns linfomas não-Hodgkin (LNH). Essa droga é um anticorpo que ataca uma proteína expressa na célula do câncer, a CD20.
“Então, esse anticorpo anti-CD20 mostrou um ganho muito importante de sobrevida livre de progressão e sobrevida global nos LNH e também na LLC”, o médico conta.
Atualmente, os anticorpos monoclonais são utilizados na Onco-Hematologia para os linfomas B, com rituximabe e obinutuzumabe e para LLC e mieloma múltiplo (MM), com o daratumumabe.
Os imunoconjugados também são um anticorpo que tem como alvo uma determinada proteína. Mas, junto a esse anticorpo, também é utilizada uma quimioterapia.
De acordo com o hematologista, “esse é o caso do Brentuximabe vedotina. Brentuximabe é o nome do anticorpo e, a vedotina, é a parte da quimioterapia. Essa é uma medicação transformadora no linfoma de Hodgkin (LH). Também temos, chegando no Brasil, o polatuzumabe. Ele é um anticorpo monoclonal, com um antígeno de células B ligado a essa mesma vedotina, e que tem um efeito muito bom para os LNH de células B. ”
Essa imunoterapia é indicada, principalmente, para LH e linfomas T, com o Brentuximabe-vedotina; para linfomas B, com o Polatuzumabe vedotina e para LLA, com uma molécula chamada inotuzumab.
Como o próprio nome indica, essa terapia possui dois tipos de alvos: os linfócitos T do corpo do paciente e a célula tumoral. Dessa forma, o medicamento aproxima essas duas células para gerar uma resposta imunológica. Sendo que eles podem ser encontrados na forma de engagers ou de anticorpos biespecíficos.
“Um exemplo clássico disso atualmente já disponível no Brasil é o Blinatumumabe. Esse engager faz a aproximação do CD3 com o CD19 para gerar uma resposta imunológica”, o especialista pontua.
Inicialmente, os específicos foram desenvolvidos como engagers, mas, atualmente, são produzidos como anticorpos monoclonais. Algumas doenças, como o MM, com alvo BCMA, e também os linfomas B podem ser beneficiadas por esse novo formato.
Os biespecíficos são utilizados, na maioria das vezes, para LLA, com o Blinatumumabe, e, a tendência é que, em um futuro próximo, os pacientes de mieloma e linfomas B também sejam beneficiados por drogas com esse mecanismo.
O Dr. Perini esclarece que para escapar do sistema imunológico a célula tumoral expressa uma proteína. Ao bloquear essa proteína ou o receptor dessa proteína no organismo, é possível gerar uma resposta imune. É exatamente fazendo um desses bloqueios que os inibidores de checkpoint atuam.
“Isso é feito, principalmente, por um eixo chamado PD1PDL1. Os nossos linfócitos expressam um receptor chamado PD1 e as células tumorais expressam uma proteína chamada PDL1, que é o ligante do PD1. Grande parte dos tumores usam essa via para escapar da nossa resposta imunológica, então eles hiperexpressam o PD1. Assim, esses anticorpos fazem com que a gente potencialize nossa resposta imunológica, normalizando ela, evitando o escape imunológico da célula tumoral”, ele explica.
Essa terapia é utilizada, especialmente, no LH e no linfoma primário de mediastino.
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Efeitos colaterais da imunoterapia
Como falado anteriormente, a imunoterapia pode causar reações adversas, mas elas costumam ser diferentes e mais bem toleradas em comparação com as causadas pela quimioterapia. Assim, não é comum que os pacientes apresentem sintomas como náuseas e queda de cabelo.
Devido a cada tipo de imunoterapia agir de uma determinada forma, os efeitos colaterais também variam. Os principais são:
- Brentuximabe pode causar neuropatia periférica
- Blinatumumabe pode gerar neurotoxicidade
- Inibidores de checkpoint podem fazer com que uma “doença autoimune” se desenvolva, sendo a mais comum a tireoidite, seguida de pneumonite e colite.
O Dr. Perini diz que não é possível evitar que esses efeitos colaterais se manifestem, mas há formas de tratá-los e amenizá-los. Para isso, ele orienta que é fundamental diagnosticar esses sintomas precocemente para poder tratar o mais rápido possível.
“Existe até uma suspeita de que pacientes que desenvolvem processos imunológicos (“doenças autoimunes”) podem até ter uma resposta maior contra o tumor. Isso foi visto, especialmente, no melanoma. Então, o melanoma é um tipo de câncer dos melanócitos, que é a célula que produz o pigmento da pele. Foi visto que alguns pacientes, quando tomavam imunoterapia, desenvolviam vitiligo, que é um processo autoimune contra essas células. E esses pacientes tinham uma chance menor do melanoma voltar. Isso é alvo de bastante discussão”, ele pontua.
Já em relação aos anticorpos monoclonais, principalmente os anti-CD20, pode acontecer queda na imunidade.
“Isso é importante porque a gente sabe que, por exemplo, a resposta vacinal pode estar prejudicada nesses pacientes que usam o anti-CD20. Então, em épocas como a que estamos vivendo agora, é uma das coisas que nos preocupa por conta da vacina da COVID-19”, o médico alerta.
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Imunoterapia no SUS
O Sistema Único de Saúde (SUS) já disponibiliza algumas imunoterapias, como o rituximabe para os linfomas difusos de grandes células B e para o linfoma folicular.
“Recentemente, foi incorporado o brentuximabe-vedotina no SUS para LH recaídos e refratários, mas ainda não houve um processo de viabilização financeira dessa incorporação. Então, muitos centros ainda não estão fazendo por causa disso”, conclui o Dr. Guilherme Perini.
Fui diagnosticado com LNH folicular em 2009 sem tratamento na época. Em 2015 primeiro protocolo com Rituximabe, remissão até 2020. Novo protocolo Rchop. Remissão desde então.
Olá, Julio, como vai?
Muito obrigada por compartilhar a sua experiência conosco e com os outros pacientes! ?
Ficamos muito felizes em saber que o senhor está em remissão!
O senhor já conhece o trabalho da Abrale? Nós somos uma ONG que auxilia pacientes com alguns tipos de cânceres, como o LNH, por meio de diversos serviços gratuitos! Estou encaminhando o seu contato para o nosso Apoio ao Paciente para que a gente possa estar mais próximos e consigamos te ajudar sempre que preciso! Dentro de alguns dias, a equipe do Apoio enviará uma mensagem para o endereço de e-mail que o senhor indicou quando fez o comentário!
Abraços!
[…] Uma das grandes vantagens desse tipo de terapia está na preservação de outras células do corpo, algo que nem sempre é possível de ser feito com tratamentos como a radioterapia e a quimioterapia. Assim, essa é uma boa estratégia coadjuvante a essas terapias, evitando danos extras ao organismo durante o combate à doença9. […]
Boa noite! Vocês tem a informação se a imunoterapia é indicada para casos de Câncer de Ovário do Cordão Sexual? Minha mãe está em tratamento com quimioterapia mas ja há dois anos, porém no momento não está tendo um bom resultado… fiquei interessado na imunoterapia e gostaria de saber mais sobre o assunto. obrigado.
Olá, Marcos, como vai?
A Abrale é uma ONG que auxilia pacientes com cânceres do sangue, por isso, não temos tanta expertise nesse tipo de câncer. Mas, em geral, por enquanto, ainda não imunoterapias aprovadas para o câncer de ovário, porém existe uma série de outras estratégias que podem ser utilizadas e que têm mostrado bons resultados!
O ideal, é conversar com o médico da paciente, para que ele possa expor quais são os tratamentos existentes e discutir com vocês qual a melhor opção.
Abraços!