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Vacina contra a COVID-19: estudo indicaria menor eficácia em pacientes com cânceres hematológicos

Pessoa tomando a vacina contra a covid-19
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Última atualização em 29 de julho de 2021

A imunização, mesmo que possa gerar respostas inferiores, é altamente recomendada para essas pessoas


No Brasil, a vacina contra a COVID-19 começou a ser aplicada nos pacientes oncológicos em maio de 2021, pois eles são considerados como grupo prioritário por comorbidade. Assim, na maioria das cidades, essas pessoas já tomaram, pelo menos, a primeira dose do imunizante. Mas, recentemente, foi publicado um estudo norte-americano que indicaria que indivíduos com leucemia e mieloma múltiplo não produziram anticorpos a partir da vacina. Mas calma, nós vamos explicar se isso realmente acontece e se é preciso se preocupar!

Vale lembrar que:

Antes de falarmos sobre o estudo, é importante relembrar alguns pontos sobre a COVID-19 e pacientes oncológicos.

Pessoas com câncer são consideradas como grupo de risco para a doença, pois são imunossuprimidas. Isso quer dizer que o sistema imunológico desses indivíduos é mais fraco, não tem tanta capacidade de combater ameaças. Sejam elas infecções virais, bacterianas ou qualquer outro tipo de coisa que possa fazer mal ao corpo. Dessa forma, caso contraiam o coronavírus, esses indivíduos têm maior probabilidade de evoluir para um quadro grave.

No caso dos pacientes que possuem cânceres hematológicos, como leucemia, especialmente as agudas, e mieloma múltiplo, há um comprometimento ainda maior do sistema imunológico. Sendo que o grau de impacto na defesa do corpo pode variar desde algo leve, até muito intenso. Isso acontece tanto por conta da doença em si, quanto devido aos tratamentos utilizados, principalmente quando é feito o transplante de medula óssea (TMO).

Pacientes oncológicos e pessoas que realizaram o TMO não fizeram parte dos estudos clínicos das vacinas da COVID-19. 

  •  Para pessoas com câncer

A imunização dessas pessoas foi indicada por conta do histórico das instituições que desenvolveram e das que produzem os imunizantes. Mas, principalmente, por conta das evidências existentes em relação a outros imunizantes.

As vacinas contra a COVID-19, aprovadas, até hoje, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), funcionam por meio de mecanismos já conhecidos e avaliados nesses grupos. Ou seja, são seguras e eficazes. 

Em relação às pessoas com câncer, a Sociedade Brasileira de Oncologia (SBOC) divulgou, em fevereiro deste ano, que “existem evidências suficientes  de outras vacinas e que o malefício de não vacinar é significativamente maior, dada a mortalidade associada”. O mesmo documento ainda aponta que “dados da vacinação de pacientes oncológicos em outros contextos sugerem haver um efeito protetor. (…) Baseados na extrapolação destes dados e de outras vacinas, associado à interpretação dos mecanismos de ação das vacinas contra a COVID-19 (vacinas com agentes não vivos) pressupõe-se que a eficácia e segurança da vacinação contra o SARS-CoV-2 seja similar à população geral.”

  • Para pessoas que fizeram TMO

Essa população, inicialmente, não fazia parte do Plano de Imunização Nacional (PNI). Mas, devido aos esforços da Abrale, da Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea (SBTMO) e outras organizações, ela foi incluída no PNI no início de fevereiro

De acordo com o documento criado pela SBTMO contendo as recomendações para a vacinação dessas pessoas, “todas as vacinas da COVID-19, aprovadas para uso emergencial até dezembro de 2020, são consideradas seguras para serem administradas em receptores de TCTH.”

Entretanto, a Sociedade ressalta a não inclusão dessas pessoas nos testes e que, por isso, elas deveriam ser informadas que a eficácia dessas vacinas era desconhecida até aquele momento (09/01/2021). Mas que, também com base nos imunizantes já utilizados, essas vacinas seriam eficazes. Possivelmente, com uma “potência” menor, quando comparados com pessoas sem problemas de saúde. Mas essa é uma condição já sabida e comum para esses casos.

Dentre as recomendações finais, o documento da SBTMO apontou: I) os receptores de transplante devem ser vacinados com qualquer uma das vacinas da COVID-19 (exceto vacinas LAV e VVr), assim que forem aprovadas e estiverem disponíveis; II) Todos os receptores devem receber a vacina e III) candidatos ao TMO também devem receber a vacina de COVID-19 (com algumas condições).

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Resultados da vacina contra a COVID-19

Voltando ao estudo, citado no início desta matéria, que foi publicado no periódico Cancer Cell, foram analisados 131 pacientes oncológicos que receberam imunizantes com a tecnologia de RNA mensageiro (Pfizer e Moderna). 19% dos voluntários possuíam algum tipo de câncer hematológico.

Calendário indicando o dia de tomar a segunda dose da vacina

Quatro semanas depois da segunda dose, 94% haviam desenvolvido uma boa resposta imunológica.  Mas sete pacientes não produziram anticorpos após a imunização completa. Sendo que 71% dessas pessoas que não produziram anticorpos tinham leucemia ou mieloma múltiplo. 86% havia recorrido à quimioterapia ou ao rituximabe nos últimos seis meses.  Ambos são tratamentos que afetam o sistema imunológico.

Entretanto, esses resultados não devem ser vistos como motivo de pânico!

Tá passada??? A gente explica! 

A Drª. Marcia Garnica Maiolino, professora na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro e infectologista, explica que a menor resposta às vacinas nessa população é uma situação já sabida em vacinas que são amplamente conhecidas e administradas. Por exemplo, a vacina da gripe (Influenza) e contra o vírus da Hepatite B.

“É importante ressaltar que embora a resposta à vacina não seja a ideal, a resposta gerada, muitas vezes, já é suficiente para prevenir a infecção”, a especialista conta.

Ela complementa dizendo que, atualmente, caso um imunizante não gere as respostas ideais, são feitas adaptações nos esquemas vacinais. Isto é, podem ser aplicadas novas doses, doses mais altas ou, até mesmo, refazer o esquema vacinal após o fim do tratamento. Essas adaptações acontecem de maneira frequente na vacinação para a Hepatite B e contra o pneumococo.

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E o que isso significa?

Como as vacinas contra a COVID-19 são novas, os estudos, neste momento, estão tentando descobrir quais grupos têm diferença em relação à resposta vacinal. Alguns desses testes sugerem que há uma possível diferença na resposta imune, mas esses são resultados obtidos com grupos pequenos e com vacinas específicas. Como é o caso do estudo tratado nesta matéria.  

Profissional da saúde aplicando a vacina contra a covid-19

“Estes resultados, se confirmados em estudos maiores, podem indicar a necessidade de ajustes no esquema vacinal. Mas, ainda não temos resultados sólidos para estas adaptações”, reforça a Drª. Marcia.

Outra limitação do estudo é que os pesquisadores mediram a resposta do sistema imunológico e não a real eficácia. Isto é, eles avaliaram quantas pessoas desenvolveram anticorpos e não quantas não pegaram a doença após imunizadas.

Por outro lado, a infectologista diz que um dado extremamente positivo é que a taxa de resposta das vacinas da COVID-19, embora inferior à da população saudável, é muito semelhante ou mesmo melhor que a resposta vacinal obtida com outras vacinas em pessoas em tratamento do câncer.

Portanto, a médica orienta que todos os pacientes se vacinem e, ainda mais importante, tomem as doses necessárias. E além disso, mantenham as medidas de proteção: uso de máscaras, distanciamento social e higienização das mãos.

“Como é possível que a resposta não seja ideal, a vacinação dos contactantes é fundamental. Quanto mais indivíduos que convivem com a pessoa em tratamento do câncer estiverem imunizadas, menor o risco deste paciente entrar em contato com o vírus. E esta regra vale para todas as doenças transmissíveis: COVID-19, Influenza, varicela, sarampo. Se haverá necessidade de ajustes nos esquemas vacinais da COVID-19, os estudos vão nos mostrar o caminho mais seguro e mais eficaz para isso, mas por ora, vamos todos nos vacinar e manter todas as recomendações sanitárias”, alerta a Drª. Marcia Garnica Maiolino.


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