Tratamento da leucemia mieloide aguda poderá contar com novo tipo de droga
Última atualização em 30 de setembro de 2021
Estudo brasileiro detecta uma proteína que influencia no prognóstico da LMA e pode ser usada como alvo para futuras terapias
O tratamento da leucemia mieloide aguda (LMA), geralmente, é feito por meio da quimioterapia e do transplante de medula óssea. Entretanto, como essa é uma doença que nem sempre se apresenta com as mesmas características e é mais comum em pessoas com mais de 60 anos, a resposta à terapia pode não acontecer conforme o esperado. Mas, cientistas da Universidade de São Paulo (USP) identificaram uma proteína, a ezrina, que pode ajudar a identificar com mais detalhes aquela leucemia e dizer se ela é de melhor ou pior prognóstico. Além disso, a constatação dessa substância pode levar ao desenvolvimento de novas terapias para a neoplasia.
A leucemia mieloide aguda se desenvolve quando ocorre uma série de mutações genéticas nas células-tronco mieloide que ainda não amadureceram. Esse processo gera os blastos, que são justamente células imaturas, e eles passam a se multiplicar de forma descontrolada e atrapalhar o crescimento das células saudáveis. Dessa forma, a medula fica cheia de células doentes.
Devido ao fato da doença acontecer em células imaturas, ela tem uma evolução mais rápida e, por isso, é chamada de aguda. Enquanto a LMA atinge as células mieloides, que dão origem aos leucócitos, plaquetas e hemácias, a leucemia linfoide aguda (LLA), afeta as células linfoides, responsáveis pelo sistema imunológico, onde são produzidos os anticorpos.
Tratamento da leucemia mieloide aguda
O mais comum é que ele seja realizado com quimioterapia e, dependendo das condições clínicas do paciente, pode ou não ser realizado o transplante de medula óssea (TMO).
Na quimioterapia, o padrão é iniciar com esquema de indução, usando a combinação entre Citarabina e Antraciclina. Depois são feitos de um a quatro ciclos de consolidação com drogas quimioterápicas ou TMO.
Vale lembrar que nem sempre os médicos mantêm a primeira opção de terapia escolhida durante todo o tratamento. Eles podem alterá-la, já que pode haver melhora ou piora da doença. Por isso, é feita uma avaliação a cada ciclo.
O transplante pode ser indicado em algumas situações:
- Para pacientes que não entram em remissão apenas com a quimioterapia.
- Quando a doença apresenta alto risco de recaída, baseado nos exames realizados ao diagnóstico ou
- Quando se deseja reduzir o número de ciclos de quimioterapia de consolidação.
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Ezrina e tratamento da leucemia mieloide aguda
Em um estudo foi descoberto que a expressão da proteína ezrina possibilita prever quão grave é a LMA, qual paciente tem mais chance de não sobreviver e o tempo no qual isso pode acontecer.
A pesquisa, realizada no Instituto de Ciências Biomédicas da USP, foi coordenada pelo professor João Agostinho Machado-Neto, biólogo e pós-doutor em clínica médica, e conduzida por Jean Carlos Lipreri da Silva, doutorando em Farmacologia com bolsa da CAPES. Os resultados foram publicados em um artigo na revista Cellular Oncology, do grupo SpringerNature.
“A ezrina é uma proteína que atua fazendo a ligação dos sinais de receptores de membrana das células e o citoesqueleto de actina (uma estrutura que dá sustentação e forma às células). Assim, ela se torna uma proteína-chave na comunicação entre o meio extracelular e intracelular”, explica João Agostinho Machado-Neto.
O professor ainda esclarece que a ezrina está presente nas células saudáveis do organismo. Mas, quando ela se associa a outras proteínas e se envolve em processos de proliferação e sobrevivência das células, pode contribuir para fenótipo maligno, atuando como um oncogene (gene ligado ao desenvolvimento do câncer).
“Nossos estudos em modelos de leucemia mieloide aguda indicam que a abundância desta proteína/gene é maior nas células cancerosas. Provavelmente, em ambas as células, saudáveis e cancerosas, a ezrina exerce as mesmas funções, mas nossas pesquisas sugerem que as células cancerosas são mais dependentes dos processos regulados pela ezrina, visto a presença da proliferação exacerbada”, ele complementa.
Ou seja, o estudo identificou, de forma pioneira, que o papel da proteína na LMA é participar da manutenção da sobrevivência e na multiplicação celular.
Como isso afeta o prognóstico?
“Pacientes com LMA que apresentam alta expressão de ezrina têm pior prognóstico. Inclusive, a expressão de ezrina foi capaz de definir um grupo de pior prognóstico dentre os pacientes com LMA de risco intermediário (um grupo de pacientes com manejo clínico e terapêutico mais incerto)”, Machado-Neto conta.
Entretanto, ele esclarece que ainda não se sabe o porquê pacientes que têm mais ezrina têm mais tendência a não sobreviver e considera que esse é um ponto que precisa ser melhor explicado em estudos futuros.
Diga sim aos estudos clínicos
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Possíveis novos tratamentos para leucemia mieloide aguda
A partir das descobertas do estudo, é possível ter a ezrina como um alvo de atuação para os tratamentos da LMA no futuro.
“Atualmente dois inibidores farmacológicos comerciais de ezrina estão disponíveis para pesquisa (NSC305787 e NSC668394). Esses inibidores são capazes de se ligar e inibir as funções de ezrina. A continuidade dos nossos estudos em modelos pré-clínicos de neoplasia hematológica pode abrir caminhos para ensaios clínicos no futuro, e quem sabe uma nova classe de inibidores poderia vir a compor os métodos antineoplásicos contra as LMA”, diz o professor.
Outra questão que precisa ser mais analisada e desenvolvida é como fazer para identificar se um paciente de LMA tem mais ou menos quantidade dessa proteína. Atualmente, não há kits comerciais ou padronizados para tal, essa determinação somente pode ser feita em pesquisas por meio de técnicas de quantificação absoluta dos níveis de mRNA de amostras de medula óssea.
“Entretanto, existe a possibilidade do desenvolvimento de kits mais simples e que poderiam, inclusive, dosar os níveis de ezrina em amostras de blastos leucêmicos presentes no sangue. O desenvolvimento desses kits teria que ser realizado em parceria com grupos de pesquisa ou empresas especializadas em medicina diagnóstica”, João Agostinho Machado-Neto afirma.
Como seria possível submeter um paciente com diagnóstico de LMA , o qual se encontra em tratamento de quimioterapia a esta pesquisa para levantar a predominância da ezrina e, assim ser oportunizado-lhe o uso desses inibidores?. Paciente com 52 anos, sinais clínicos, plaquetas baixa e manchas arroxeadas nos membros superiores, internado há 18 dias.
Olá, Josenilda, como vai?
Infelizmente, as pesquisas relacionadas a essa proteína ainda estão muito no início e ainda não estão recrutando pacientes. Mas, caso o paciente tenha interesse em entrar em estudos clínicos para o tratamento de LMA, é possível verificar se há algum em aberto neste site: https://ensaiosclinicos.gov.br/
Abraços!