Diagnóstico de mieloma múltiplo: quais exames fazer
Última atualização em 12 de junho de 2024
Ao suspeitar desta doença, é indispensável que o paciente passe em um especialista para saber quais exames fazer e ter os resultados avaliados corretamente
Para fechar o diagnóstico de mieloma múltiplo é necessário que a pessoa realize alguns exames, como a biópsia de medula óssea, eletroforese de proteínas e testes de imagem. As alterações encontradas, geralmente, incluem a presença de mais de 10% de plasmócitos anômalos, anemia, disfunção renal, proteína monoclonal e as lesões líticas. É fundamental que os resultados dos exames sejam avaliados por um profissional da Onco-Hematologia, para que ele possa chegar ao resultado correto e também possa orientar quais são os próximos passos.
O mieloma múltiplo (MM) é um câncer que se desenvolve em uma célula do sangue, que se origina na medula óssea, e é chamada de “plasmócito”. Essa célula passa por uma série de mutações, por conta de erros genéticos, transformando-se em um plasmócito anormal.
De acordo com o Dr. José Ulysses Amigo Filho, médico hematologista da BP–A Beneficência Portuguesa de São Paulo, no âmbito mundial, essa doença tende a atingir pessoas com idades entre 60 e 65 anos. Porém, no Brasil, ela tende a aparecer em pessoas um pouco mais novas, na faixa etária dos 50 – 55 anos.
Quando suspeitar de mieloma múltiplo?
A suspeita é levantada quando uma pessoa apresenta sintomas relacionados ao mieloma múltiplo, que costumam incluir fadiga, palidez, funcionamento anormal dos rins, dores ósseas, perda de peso e infecções recorrentes.
O Dr. José Ulysses explica que o mau funcionamento dos rins pode ser percebido por meio de uma mudança do hábito urinário. “Às vezes, o paciente passa a urinar mais à noite, do que de dia”, diz o médico.
Já em relação às dores ósseas, ele conta que, geralmente, acontecem na lombar, mas também podem aparecer no ombro, no fêmur, na bacia ou nas costelas. Sendo que elas se tornam ainda mais suspeitas quando estão ligadas a fraturas espontâneas, ou seja, fraturas que não aparentam ter um motivo.
“Então, a pessoa não bateu ou sofreu um acidente que justifique a fratura e aparece com uma dor muito importante. Também pode acontecer do indivíduo realizar uma atividade cotidiana e inofensiva, por exemplo, cumprimentar alguém e na hora de chacoalhar os braços, quebrar o osso, ou vai subir uma escada, e fratura o fêmur. Isso é uma fratura que não era para acontecer, é uma situação inusitada, uma coisa totalmente atípica e é fortemente suspeito”, ele exemplifica.
Vale saber que, para as pessoas que já sofrem de dor nas costas, caso o sintoma sofra alguma mudança, também pode se tornar suspeito. Se ficou mais intensificada, se passou a se manifestar em situações diferentes ou se alguma característica dela está fora do comum, é preciso procurar por ajuda médica.
Sinais e sintomas do mieloma múltiplo: O que muda no meu corpo?
Há alguns sinais de alerta para o mieloma múltiplo e todos podem ser tratados
Sinais e sintomas do mieloma múltiplo: O que muda no meu corpo?
Há alguns sinais de alerta para o mieloma múltiplo e todos podem ser tratados
Exames para diagnóstico de mieloma múltiplo
- Hemograma
- Análises da medula óssea (biópsia ou mielograma)
- Eletroforese de proteínas
- Exames de imagem
- Dosagem de anticorpos e dosagem de cadeias leves
- Imunofixação de proteína
Hemograma
O hemograma de pacientes de mieloma múltiplo costuma indicar a presença de anemia (hemoglobina baixa), além da presença de hemácias em Rouleaux, que é o empilhamento dessas células como se fossem moedas.
O Dr. José Ulysses ainda pontua que o exame de sangue é muito importante, pois permite avaliar as dosagens de ureia, creatinina e de cálcio no sangue.
“O mieloma é uma doença que, em alguns casos, eleva demais o cálcio no sangue. E esse aumento pode fazer com que o paciente fique com o intestino muito preso, pode passar a urinar demais pelo cálcio alterado e pode começar a ter muita sede”, ele complementa.
Análises da medula óssea (biópsia ou mielograma)
O especialista afirma que o ideal é que tanto a biópsia de medula óssea, quanto o mielograma sejam realizados para diagnosticar o mieloma. Mas, nem sempre é possível fazer ambos, então deve-se fazer, pelo menos, um deles.
Quando possível, indica-se fazer ambos os testes porque o mieloma múltiplo não se espalha pelo corpo de maneira igual. Então, pode acontecer de uma parte da medula óssea ter mais plasmócitos e outras ter menos e isso dificultar a identificação da doença.
“Se você acaba puncionando uma região que está pobre em plasmócito, pode dar um percentual não real ao que está acontecendo na medula”, o especialista diz.
O resultado considerado saudável para ambos os testes é de 2%, no máximo 3%, de plasmócitos. Porém, em pacientes de mieloma múltiplo, esse resultado mostra uma quantidade de plasmócitos acima de 10%, podendo aumentar ainda mais.
Com o mesmo material coletado para a biópsia ou para o mielograma, é possível realizar o exame de imunofenotipagem (caso tenha sido feito o mielograma) ou o teste de imunohistoquímica (em casos da biópsia de medula). Esses exames permitem analisar de forma mais precisa o percentual de plasmócitos doentes.
Eletroforese de proteínas
Esse é um teste que pode ser feito por meio da coleta de sangue ou por meio da coleta de urina e serve para avaliar as proteínas presentes naquele material.
“No mieloma, a gente vai ver uma coisa que chamamos de pico monoclonal. É como se fosse um pico mesmo, desenhado, geralmente na região da gamaglobulina ou da beta-globulina, que quer dizer que tem uma grande quantidade de proteína anômala ali”, o Dr. Ulysses explica.
Exames de imagem para mieloma múltiplo
Segundo o especialista, os exames de imagem são importantes para ajudar a entender o quadro, porém, eles não são fundamentais para fechar o diagnóstico.
“Existem mielomas que não, necessariamente, terão lesões ósseas, mas é importante, ao suspeitar da doença, que seja feito um screening do corpo com exame de imagem”, ele conta. Esses testes podem apontar a presença de lesões líticas (lesões com perda óssea, circular e sem o chamado halo de esclerose) ou plasmocitomas, que são pequenos aglomerados de plasmócitos.
Podem ser utilizados diversos tipos de exame de imagem para essa avaliação, indo desde um raio-x até uma tomografia computadorizada, PET-Scan ou ressonância magnética. O que vai diferenciar esses exames é a sensibilidade de cada um, isto é, a facilidade com a qual eles identificam as alterações.
“O mais comum é fazermos um raio-x de esqueleto todo, incluindo crânio, coluna, bacia, braços, pernas, pés e mãos”, o hematologista descreve.
Dosagem de anticorpos e dosagem de cadeias leves
Esse é um teste que também é feito por meio de uma amostra de sangue e pelo qual é possível avaliar a quantidade de anticorpos IgA, IgG e IgM e a quantidade de cadeias leves kappa e lambda.
“Se a gente não consegue dosar as cadeias leves, que, pelo menos, seja feita a relação kappa lambda. Isso já vai dar uma ideia do que está mais aumentado”, o médico aconselha.
Ele ainda esclarece que essas informações são importantes porque permitem identificar especificidades daquele mieloma ao saber qual proteína está sendo produzida em excesso e em qual quantidade.
Imunofixação de proteína
O Dr. Ulysses ressalta que esse teste traz dados importantes, mas não é indispensável para o diagnóstico do mieloma. Porém, ele tem uma grande relevância para o acompanhamento do tratamento.
“Eu diria que a imunofixação é um exame importante e, normalmente, é solicitado sim no diagnóstico, mas ainda não são todos os serviços que têm esse exame disponível.”
Esse teste tem um propósito semelhante à eletroforese de proteína, mas possui uma maior sensibilidade e, por isso, consegue detectar picos monoclonais menores. Justamente por isso, ele tende a ser mais útil no acompanhamento do tratamento, uma vez que, conforme a terapia é realizada, espera-se uma diminuição na alteração das proteínas.
Hemoglobina baixa ou alta? Saiba as causas e tratamentos
O tratamento varia conforme a causa, envolvendo reposição de ferro, sangria ou intervenções específicas. A anemia pode indicar a presença…
Hemoglobina baixa ou alta? Saiba as causas e tratamentos
O tratamento varia conforme a causa, envolvendo reposição de ferro, sangria ou intervenções específicas. A anemia pode indicar a presença…
Critérios para fechar o diagnóstico de mieloma múltiplo
É importante saber que nem todos os pacientes apresentam todas as alterações mencionadas, especialmente as relacionadas aos exames de imagem. Para que o diagnóstico seja definido, o paciente precisa apresentar mais de 10% de plasmócitos na medula óssea ou um plasmocitoma e deve manifestar, pelo menos, um dos eventos definidores da doença.
O Dr. José Ulysses Amigo Filho esclarece que os eventos definidores de mieloma múltiplo formam o acrônimo CRAB e incluem: hipercalcêmica (C), disfunção renal (R), anemia (A) e lesões líticas (B).
* Conteúdo apoiado por: