Tudo sobre a leucemia mieloide aguda
Última atualização em 25 de maio de 2023
Anemia, perda de peso e sangramentos são alguns dos sintomas mais comuns desse câncer e um simples hemograma pode levantar suspeita dele
A leucemia mieloide aguda (LMA) é um câncer que acontece nas células do sangue e atinge, principalmente, pessoas com mais idade. A progressão dessa doença tende a ser rápida, por isso diagnosticá-la e tratá-la o quanto antes é fundamental. O tipo de tratamento realizado e as chances de cura estão ligados ao subtipo da LMA e se ela é classificada como risco baixo, intermediário ou alto.
A leucemia é um câncer do sangue, ou seja, se desenvolve nas células sanguíneas e é dividida em alguns grupos. As leucemias agudas acontecem quando a doença afeta as células imaturas (jovens) e elas têm a característica de progredir rapidamente. Dentro desse grupo, ainda há a divisão em leucemia mieloide aguda (LMA) e leucemia linfoide aguda (LLA).
“A LMA é um câncer caracterizado pela proliferação de células mieloides jovens anormais, que acaba comprometendo a produção normal do sangue”, a Drª. Andresa Melo, onco-hematologista do Hospital Brasília, esclarece.
Além disso, a LMA também é classificada conforme as mutações genéticas presentes nas células. Os subtipos da leucemia mieloide aguda são:
M0 – Leucemia mieloblástica aguda indiferenciada
M1 – Leucemia mieloblástica aguda com maturação celular mínima
M2 – Leucemia mieloblástica aguda com maturação
M3 – Leucemia promielocítica aguda (conhecida também por LPA)
M4 – Leucemia mielomonocítica aguda (conhecida também por LMMA)
M4 eos – Leucemia mielomonocítica aguda com eosinofilia
M5 – Leucemia monocítica aguda
M6 – Leucemia eritroide aguda
M7 – Leucemia megacarioblástica aguda
O que pode causar a leucemia mieloide aguda?
A Drª. Andresa reforça que pessoas com mais idade têm uma maior chance de ter esse câncer, quando comparadas com o restante da população. Mas, ainda há alguns outros fatores de risco já conhecidos que podem influenciar no aparecimento da doença.
“Por exemplo, a exposição a materiais derivados do benzeno, como tintas, inseticidas e agrotóxicos, e a exposição prévia à quimioterapia ou tratamentos com radioterapia”, descreve.
O que causa leucemia?
Quando falamos desse tipo de câncer os fatores de risco e hábitos de prevenção não estão tão definidos, mas há…
Sintomas
Uma pesquisa realizada pela Abrale com 124 pacientes de LMA identificou que 93% deles apresentaram algum sinal antes de serem diagnosticados. Os mais comuns foram:
A onco-hematologista comenta que os sintomas e sinais são muito inespecíficos, isto é, podem acontecer por diversos motivos. Então, o ideal é que, caso a pessoa sinta qualquer uma dessas manifestações, procure um médico.
Para Anna Paulla Macedo, 37 anos, os primeiros sinais da LMA foram as dores nos joelhos.
“Fui em um especialista e fiz tomografia, que acusou células cancerígenas, porém o médico descartou qualquer coisa e pediu para tomar colágeno e fazer academia para fortalecimento dos joelhos. As dores aumentaram e iniciei medicação para tentar diminuir, mas não adiantou”.
Em seguida veio a exaustão e depois uma enxaqueca, que durou mais de 40 dias. Mas Anna passava horas cuidando de Lara, sua filha de sete meses, e, em muitas noites, não dormia direito por conta da neném. Então, o cansaço excessivo e a dor de cabeça pareciam ser pela falta de sono.
“Segui minha vida normal. Alguns dias depois, minhas gengivas começaram a sangrar, mas achei que era porque troquei de escova de dentes. Até que, um dia, ao deitar na cama, estiquei as pernas e percebi inúmeros hematomas. Chamei meu esposo e pedi para que filmasse e enviasse para minha irmã, que é pediatra. Ela já pediu para colher sangue no outro dia”, Anna lembra.
Diagnóstico da leucemia mieloide aguda
O primeiro exame que pode ser usado para levantar suspeita da LMA é o hemograma, exame de sangue completo. Mas, para confirmar o câncer, é preciso fazer uso de algumas outras avaliações. Dentre elas estão:
- Mielograma: neste exame é feita a coleta de uma amostra da medula óssea (local onde as células sanguíneas são fabricadas) para saber o tamanho, o formato, o tipo e a contagem das células.
- Imunofenotipagem: também conhecido como citometria de fluxo, é usado para classificar a linhagem das células, ou seja, se são mieloides ou linfoides.
- Testes genéticos: essa análise tem o objetivo de identificar se há e quais são as alterações genéticas presentes. Essa informação ajuda a definir qual o tratamento mais adequado.
- Análise citogenética convencional: usada para identificar mutações anormais nos cromossomos das células doentes, auxilia em saber como a LMA irá responder ao tratamento.
- Exame FISH (Hibridização Fluorescente in Situ): aqui é identificado se há alguma anormalidade nos cromossomos e genes das células doentes.
Para Anna Paulla, o hemograma já serviu como um grande alerta de que algo estava acontecendo, pois o resultado do exame indicava uma queda significativa na quantidade de plaquetas.
Sua sogra, que é da área da Saúde, a levou até um hospital próximo e insistiu que ela fosse internada imediatamente.
“Em questão de minutos todos os médicos do município de Crixás, interior de Goiás, estavam no meu quarto discutindo se buscavam bolsa de sangue em uma cidade mais próxima, já que a nossa não possui estrutura adequada”, conta.
Depois de muita discussão entre os médicos, eles indicaram que o melhor seria buscar um local especializado. Ela conseguiu uma vaga em um hospital de Goiânia, fez as malas, inclusive da sua bebê, e pegou a estrada.
“No dia seguinte, fiz uma bateria de exames. Fiz punção na coluna e recebi bolsas e mais bolsas de sangue. Esperei mais um dia e recebi o diagnóstico: LMA. Disseram que era grave, pois eu também apresentava uma mutação genética e, então, indicaram quimioterapia de imediato”.
Por que a leucemia causa dor óssea?
A sensação é um dos sintomas mais comuns, aparece, especialmente, nos ossos das pernas, é intensa e prolongada
Tratamentos para leucemia mieloide aguda
Geralmente, os pacientes são submetidos à quimioterapia. Para certas pessoas, ela pode ser administrada juntamente com as terapias-alvo ou ainda é possível que o tratamento seja consolidado com o transplante de medula óssea (TMO).
O tipo de terapia mais adequado vai depender de fatores como: idade do paciente, status performance (condições clínicas gerais) da pessoa, presença de comorbidades e o risco da doença. A Drª. Andresa esclarece que o risco da doença está relacionado às chances da leucemia não responder bem à terapia, de ter uma recaída e de progredir, levando o paciente a óbito.
“Essa avaliação do risco se baseia, principalmente, nas alterações genéticas, alterações morfológicas relacionados à apresentação do hemograma no momento do diagnóstico, histórico clínico do paciente, idade e presença, ou não, de recaída e/ou falha de indução”, ela descreve.
Tendo como base essa informação, é classificado se a LMA é de baixo risco, risco intermediário ou alto risco.
Quimioterapia
As células do câncer têm uma característica muito específica que é: elas se multiplicam em uma velocidade muito alta. Por isso, os medicamentos utilizados nesse tratamento, chamados de quimioterápicos, têm o objetivo de destruir todas as células que também se multiplicam rapidamente. Como eles agem em todo o corpo, a quimioterapia é considerada uma terapia sistêmica.
Essa costuma ser a primeira terapia realizada para a LMA e, geralmente, é administrada via intravenosa, ou seja, direto na veia. Sua realização acontece em duas fases: indução e consolidação.
A Drª. Andresa descreve que o tratamento para pacientes jovens com um melhor status performance costuma ter terapias mais tóxicas e intensas. Já aqueles mais idosos ou mais frágeis são tratados com terapias menos intensas.
A Abrale perguntou quais foram os medicamentos utilizados pelos pacientes de LMA tanto na indução, quanto na consolidação e estas foram as respostas:
Transplante de medula óssea
Esse é um procedimento que consiste em substituir as células doentes da medula óssea, por células saudáveis. E, diferente do que muitos pensam, o TMO não é uma cirurgia. O paciente receberá as novas células por meio de um método parecido com a transfusão de sangue. Ele entra como uma possível consolidação para o tratamento da LMA.
“De forma geral, os pacientes que têm bom status performance e alto risco para má resposta ao tratamento e/ou recaída são encaminhados para a consolidação com TMO”, a Drª. Andresa informa.
Há três tipos de TMO:
- Alogênico: quando a medula óssea vem de um doador 100% compatível
- Haploidêntico: quando a medula vem de um doador com 50% de compatibilidade, mas é indispensável que o doador seja um familiar próximo, como pai, mãe, irmão, tio(a) ou primo(a)
- Autólogo: quando a medula óssea vem do próprio paciente
A paciente Anna Paulla teve indicação para realizar o TMO justamente por conta do risco da leucemia e, para a sua sorte, sua única irmã era 100% compatível.
“Chorei muito de alegria, o transplante ia acontecer! A hematologista sugeriu fazer o TMO em São Paulo e tudo foi muito bem sincronizado e abençoado por Deus. O transplante foi dia 02/06/22 e a pega da medula dia 13/06/22”, ela relata.
Anna ainda compartilha que a parte mais difícil era ter que ficar longe da sua filha, mas, ao mesmo tempo, Lara também era sua maior fonte de força.
“O transplante é um processo doloroso físico e mentalmente. É uma luta sozinha que depende unicamente da nossa vontade de viver e ficar bem. Eu tinha uma meta: me salvar para ver minha filha crescer. Eu tomava todos os remédios sorrindo, agradecendo a Deus pela oportunidade de tratamento, me achava linda careca. Fazia graça de toda a situação, pois eu sabia que só dependia do meu emocional para sair dali.”
Terapia-alvo
Apesar da quimioterapia ter o objetivo de eliminar as células doentes, ela acaba atingindo também as células saudáveis. Mas, isso não acontece nesta modalidade terapêutica. Esse é um tipo de tratamento que atinge as células do câncer de forma mais específica. Para isso, ele ataca o câncer ao destruir ou bloquear proteínas e outros materiais que são importantes para o funcionamento das células doentes.
A terapia-alvo pode ser administrada via oral (comprimidos) ou intravenosa (injetados).
“Na avaliação de doença, é fundamental a pesquisa de alterações genéticas específicas e, dependendo da alteração genética identificada, é possível associar o tratamento a drogas-alvo. Isso muda a história natural da doença, melhora muito o prognóstico dos pacientes”, diz a Drª. Andresa.
Quanto tempo dura o tratamento da leucemia mieloide aguda?
A duração depende de quais terapias serão realizadas, podendo levar somente seis meses, um ano ou tendo um tempo mais prolongado.
“Nos pacientes jovens de baixo risco, o tratamento pode ter uma duração que vai de seis a nove meses, dependendo da programação das quimioterapias e do intervalo entre elas. Caso o paciente seja encaminhado para transplante, é possível fazer o tratamento de indução, consolidação e TMO dentro de um ano”, a onco-hematologista descreve.
Porém, esse tempo varia muito de caso para caso. Anna Paulla, por exemplo, conta que seu tratamento levou exatamente 6 meses e 3 dias.
“Já para os pacientes não elegíveis ao transplante, mais frágeis ou idosos, que têm indicação de fazer um tratamento menos intensivo, a terapia costuma ser mais longa, de uso contínuo até a progressão e/ou recaída de doença. Isso pode durar anos”, a especialista pontua.
Efeitos colaterais
Eles variam de acordo com o tipo de terapia realizada. Como a maioria dos pacientes são submetidos à quimioterapia, geralmente, as reações adversas estão relacionadas a ela. Os mais comuns são:
- Queda de cabelo;
- Fadiga/fraqueza
- Perda de apetite
- Enjôo e/ou vômito
- Perda de memória (chemobrain)
- Mucosite (feridas nos órgãos gastrointestinais)
Anna relembra que a mucosite foi o efeito colateral que mais impactou na sua qualidade de vida. “Tive mucosite na boca até início do estômago. Fiquei 10 dias sem dar conta de engolir nem a saliva. Os comprimidos eu tomava, gritando de dor, mas tomava porque eu sabia que ia dar certo.”
Quando usar radioterapia para leucemia
Apesar dessa terapia ser um dos pilares do tratamento oncológico, seu uso é bastante restrito para esses pacientes
Leucemia mieloide aguda tem cura
“As taxas de cura estão relacionadas ao risco da doença. De forma geral, os pacientes de baixo risco têm taxas de cura interessantes com tratamento quimioterápico exclusivo. Aqueles de risco alto ou intermediário e que são encaminhados para consolidação com TMO também têm melhores possibilidades de cura. Já os mais frágeis e/ou idosos, que têm indicação de receber um tratamento menos intensivo, a terapia costuma ser mais longa, de uso contínuo até a progressão e/ou recaída de doença, isso pode durar anos”, a Drª. Andresa Melo afirma.
Anna Paulla reforça que se viu muito rodeada de amor e foi muito bem acolhida durante todo o tratamento.
“Quando recebi alta de São Paulo, para dar seguimento ao tratamento em Goiás, foi uma felicidade sem fim. Estava viva e ia cuidar da Lara. Hoje, continuo com o tratamento, que será mantido por alguns anos, mas extremamente feliz pela oportunidade de estar com minha família e amigos. Deu tudo certo! Vencemos a leucemia!”