Vitamina D contra câncer: realmente funciona?
Última atualização em 28 de julho de 2021
A suplementação dessa substância pode fazer parte do tratamento oncológico, mas não tem efeito de cura ou prevenção
Utilizar a vitamina D contra câncer, ou para preveni-lo, tem sido um assunto muito discutido entre os pacientes oncológicos. Isso acontece porque acredita-se que fazer a suplementação dessa vitamina seria como um tratamento menos tóxico e invasivo em comparação à quimio e à radioterapia. Entretanto, grande parte dos estudos clínicos que foram realizados e controlados corretamente apontam que não é possível tratar ou evitar uma neoplasia utilizando esse método. Um dos protocolos mais conhecidos sugere que para alcançar esses efeitos, devem ser consumidas altas doses de vitamina D. Mas além de não trazer o resultado esperado, esse ato pode ser tóxico tanto para pacientes com câncer, quanto para pessoas saudáveis.
Apesar de, popularmente, ser conhecida como vitamina, a vitamina D é, na verdade, um pró-hormônio. Ela não pertence ao grupo das vitaminas, pois elas são obtidas somente por meio dos alimentos. Apesar de ser encontrada em alguns alimentos, a vitamina D, em grande parte, é produzida pelo corpo (na pele). Mas, ela necessita da ajuda de enzimas para realizar as suas funções e, dessa forma, também não pode ser considerada um hormônio.
“Tanto a vitamina D dos alimentos, quanto a produzida na pele, são formas inativas e precisam ser transformadas. Primeiro no fígado, em 25-hidroxi-vitamina D, e depois no rim, em 1,25-hidroxi-vitamina D, que é sua forma ativa”, explica o Dr. Vladmir Lima, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e coordenador do Comitê de Oncogenômica.
A principal função da vitamina D é regular o equilíbrio do cálcio no corpo e o metabolismo ósseo. Além disso, ela também auxilia na manutenção da função cardíaca e do sistema imunológico.
Qual o nível correto de vitamina D?
De acordo com a nova avaliação da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/ Medicina Laboratorial (SBPC/ML) e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), o valor normal para pessoas saudáveis é acima de 20 ng/mL. Anteriormente, o ideal era que a vitamina D estivesse acima de 30 ng/mL – alguns médicos ainda consideram esse nível.
Ainda segundo as Sociedades, aqueles indivíduos saudáveis, com até 60 anos, que estão com o nível entre 20 e 30 ng/mL, não precisam de suplementação.
Após os 60 anos, o ideal é que o valor esteja entre 30 e 60 ng/mL. O mesmo vale para pessoas do grupo de risco, como pacientes oncológicos.
O Dr. Lima conta que a falta de vitamina D em crianças pode causar raquitismo, associado a deformidades ósseas, fraqueza muscular e, em casos muito severos, insuficiência cardíaca. Já no adulto, provoca hiperparatireoidismo secundário, aumento de reabsorção óssea, tornando os ossos quebradiços, além de causar dor e fraqueza muscular.
Existem diversos tipos de tratamentos para deficiência de vitamina D, como dietas ricas em salmão, sardinha, marisco, ovo, leite, fígado, queijos e cogumelos. Em alguns casos, um especialista pode indicar a utilização de comprimidos para fazer a suplementação. Entretanto, o mais importante é se expor ao Sol durante 15 minutos antes das 10h ou após às 16h.
Por outro lado, o alto nível de vitamina D (mais de 100 ng/mL) também é possivelmente prejudicial, pois pode levar à intoxicação e hipercalcemia. Dessa forma, o acompanhamento e/ou tratamento deve ser feito somente sob supervisão médica.
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Falta de vitamina D pode causar câncer?
“A maior parte dos estudos bem controlados aponta que não”, afirma o Dr. Lima.
O estudo VITAL, pesquisa randomizada que foi publicada na importante revista científica JAMA, analisou a suplementação de vitamina D como prevenção contra o câncer e doenças cardiovasculares. Os voluntários
“Houve, contudo, uma menor incidência de câncer avançado (redução de 27%), principalmente na população com índice de massa corpórea normal. No entanto, trata-se de análise de subgrupo e deve ser encarada com cuidado”, salienta o médico.
Com resultados semelhantes, um segundo estudo, feito com mais de 25 mil pessoas, comparou a suplementação diária com 2000U de vitamina D3 versus placebo. Não houve menor incidência de câncer, nem menor mortalidade. Os voluntários foram divididos em dois grupos: o primeiro recebeu a vitamina em si e o outro, placebo. Os resultados apontaram que não houve redução da incidência de câncer nos indivíduos do primeiro grupo.
Apesar disso, uma meta-análise, publicada em 2019, analisou dez estudos randomizados sobre o papel da vitamina D no câncer. As respostas demonstraram uma redução da mortalidade geral por câncer nos pacientes que realizavam a suplementação, mas não da incidência.
Esse resultado pode ser explicado, pois os níveis baixos de vitamina D estão associados a um pior prognóstico do câncer. Entretanto, o Dr. Lima salienta que a maioria dos estudos não consegue comprovar que a suplementação dessa vitamina resultaria em melhores desfechos.
“Dessa forma, talvez a deficiência de vitamina D reflita um paciente mais doente, com volume de doença maior ou mais desnutrido. Todos esses fatores estão associados com pior prognóstico de modo geral”, diz.
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Vitamina D contra câncer
Dentre as terapias mais conhecidas pelos pacientes que utilizam a suplementação dessa vitamina como tratamento está o Protocolo Coimbra. Esse método sugere que a suplementação com altas doses de vitamina D (de 40.000 UI a 300.000 UI por dia) pode curar diversas doenças autoimunes e o criador do Protocolo, o Dr. Cícero Coimbra, afirma que também pode curar cânceres.
Primeiramente, ressalta o Dr. Lima, o excesso dessa vitamina pode significar um grande risco tanto para pacientes oncológicos, quanto para pessoas saudáveis.
“Pode provocar níveis elevados de cálcio no sangue e urina, resultando em dificuldade de concentração, confusão mental, apatia, tontura, psicose, estupor, coma, vômitos, dor abdominal, aumento da sede, diminuição do apetite, constipação intestinal, úlcera péptica, pancreatite, hipertensão, alterações do ritmo cardíaco, aumento da frequência urinária, desidratação, perda auditiva e depósitos anormais de cálcio nos órgãos, como rins e articulações. ”
Além disso, ele complementa informando não haver nenhum protocolo validado para tratamento oncológico que utilize altas doses de vitamina D. Ou seja, não há indicação para o utilizar esse método como terapia isolada e também não existem dados que comprovem que suplementação com altas doses de vitamina D seja um tratamento curativo para qualquer tipo de câncer.
Diversos estudos indicam, inclusive, o contrário. Duas análises recentes, AMATERASU e SUNSHINE avaliaram a suplementação de vitamina D em tumores do trato digestivo. Sendo que o segundo estudo foi feito utilizando altas doses. Em ambos, os resultados foram negativos.
O estudo SUNSHINE, que incluiu apenas pacientes com tumores colorretais, mostrou uma tendência de melhor sobrevida livre de progressão (13 x 11 meses) para os pacientes que além da quimioterapia receberam suplementação de vitamina D em altas doses. Porém, não houve diferença em termos de taxa de remissão do câncer.
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Vitamina D para quem tem câncer
A suplementação de vitaminas para pessoas com câncer pode ser parte importante do tratamento oncológico, uma vez que é comum que esses pacientes apresentem falta delas. Esse quadro, por sua vez, deixa o indivíduo mais vulnerável e pode até prejudicar a terapia. Por isso, a equipe médica pode prescrever medicamentos que ajudem a compensar o baixo nível e o mesmo pode acontecer com a vitamina D.
“Como existe associação de pior evolução clínica com deficiência de vitamina D, é razoável detectar sua deficiência e corrigi-la, entretanto, não há dados consistentes que justifiquem o uso de doses suprafisológicas ou manter os níveis séricos muito elevados”, o Dr. Vladimir Lima fala.
Ele ainda orienta que as doses diárias de manutenção devem variar entre 600 e 800UI/dia. Já no caso de pacientes com deficiência de vitamina D, a dose diária recomendada é de 1000 a 2000UI/dia.
Por 2 anos suplementei vitamina D no tratamento de doenças autoimunes, pouco mais de 30 dias descobri um câncer no sangue chamado policitemia vera. Fica aqui a dúvida se toda essa suplementação não originou a doença.
Olá, Flávia, como vai?
O uso de vitamina D não está relacionado com o aparecimento da policitemia. Essa doença acontece devido à algumas mutações genéticas e ainda não há fatores de risco bem definidos.
Nós temos diversas matérias sobre a policitemia, a senhora já viu? Caso queira dar uma olhada, deixaremos o link a seguir ? https://revista.abrale.org.br/tag/policitemia-vera.
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