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Guia das leucemias

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Última atualização em 29 de julho de 2021

Conheça cada um de seus subtipos, sintomas e tratamentos

Por Tatiane Mota, com curadoria do Dr. Phillip Scheinberg, chefe da Hematologia Clínica do Centro Oncológico da BP Mirante

Dos cânceres do sangue, as leucemias são um dos mais conhecidos. Tudo começa na medula óssea, líquido gelatinoso que ocupa o interior dos ossos e que produz os componentes do sangue: hemácias ou glóbulos vermelhos, responsáveis pela oxigenação de nosso organismo; leucócitos ou glóbulos brancos, que combatem as infecções; e as plaquetas, responsáveis pela coagulação do sangue, evitando hemorragias.

A leucemia acontece quando certos tipos de glóbulos brancos perdem a função de defesa e passam a se produzir de maneira descontrolada.

São várias as linhagens celulares que derivam da medula óssea, e baseando-se nos tipos de glóbulos brancos que elas afetam, as leucemias estão divididas em dois grandes grupos: mieloide e linfoide. As que afetam as células linfoides são chamadas de leucemia linfoide, linfocítica ou linfoblástica. Já as que afetam as células mieloides são chamadas de leucemia mieloide ou mieloblástica.

Elas também podem ser agudas, quando há o crescimento rápido de células imaturas, ou crônicas, caracterizadas pelo aumento das células maduras, mas anormais.

Neste guia, listaremos os principais tipos de leucemias existentes, desde as mais conhecidas até as mais raras.

Leucemia Mieloide Crônica (LMC)

O que é

Na maior parte dos casos, ocorre em adultos na faixa etária dos 50 anos (apenas 4% dos pacientes são crianças). Ela se distingue dos outros tipos de leucemia pela presença de uma anormalidade genética nos glóbulos brancos, denominada cromossomo Philadelphia (Ph+). Os cromossomos das células humanas compreendem 22 pares (numerados de 1 a 22 e dois cromossomos sexuais), num total de 46 cromossomos. Nos pacientes com a doença, existe uma translocação (fusão de uma parte de um cromossomo em outro cromossomo) em dois cromossomos, os de número 9 e 22, criando o gene BCR-ABL, o que caracteriza a leucemia mieloide crônica.

Sintomas 

  • Palidez
  • Cansaço e mal-estar
  • Aumento do baço
  • Perda de peso
  • Hematomas

Tratamento

Os chamados inibidores da tirosina quinase (Mesilato de Imatinibe, Nilotinibe e Dasatinibe) são uma grande revolução da ciência e hoje tornaram-se o tratamento padrão para este tipo de leucemia. Também chamados de terapia alvo, eles apresentam resultados cada vez mais promissores, pois combatem apenas as células doentes e proporcionam uma vida normal aos pacientes, com poucos  efeitos colaterais.

Leucemia Linfoide Crônica (LLC)

O que é

A leucemia linfoide crônica (LLC) pode ser bem diferente dos outros tipos da doença, já que – por mais estranho que pareça – em alguns casos não será necessário realizar o tratamento.

Tudo acontece quando alguns tipos de glóbulos brancos, os linfócitos, param de realizar a função de proteger o organismo.

A doença é considerada crônica porque essa alteração provoca o crescimento desordenado de linfócitos B maduros que, geralmente, não impede a produção das células normais. Ou seja, ao mesmo tempo em que há uma produção de células com problemas, causando acúmulo na medula óssea, por outro lado o processo de fabricação e maturação das células saudáveis continua acontecendo.

Subtipos

Embora a LLC afete, na maior parte dos casos, os linfócitos B, existem alguns tipos raros da doença que podem afetar os linfócitos do tipo T (também responsáveis pela proteção de nosso organismo). São eles:

Leucemia prolinfocítica – as células doentes são semelhantes às células normais, denominadas prolinfócitos, que são formas imaturas de linfócitos B ou linfócitos T. Tanto um como outro tendem a ser mais agressivos do que a leucemia linfoide crônica usual. A maioria dos casos responderão a alguma forma de tratamento, mas com o tempo tendem a voltar.

Leucemia de linfócitos grandes granulares – é bastante rara, mas este tipo de LLC afeta os linfócitos T. Ela tem um crescimento lento e pode ser mais difícil de tratar.

Tricoleucemia – também chamada de leucemia de células pilosas (ou células cabeludas), ela tem um crescimento lento e é bastante rara. O nome se dá ao fato de as células terem formato de cabelo, ao serem analisadas em microscópio.

Sintomas

  • Cansaço e falta de ar ao praticar atividades físicas
  • Perda de peso sem causa aparente
  • Aumento de gânglios (ínguas)
  • Suor noturno
  • Infecções frequentes

Tratamento

Quando o paciente precisa de tratamento, dentre as opções estão a quimioterapia, as terapias alvo (que atacam apenas as células doentes), imunoterapia (medicamentos que ajudam o próprio sistema imunológico do paciente a combater as células com câncer) e transplante de medula óssea alogênico (quando a medula vem de um doador compatível).

Leucemia linfoide aguda (LLA)

O que é

Tipo de câncer mais comum durante a infância, mas que também pode acontecer em adultos, a LLA é causada por células muito jovens (os linfoblastos, tipos de glóbulos brancos responsáveis por combater as infecções) que param de funcionar corretamente e começam a se reproduzir de maneira descontrolada na medula óssea. Sua evolução é bastante rápida.

Embora bastante raro, assim como na leucemia mieloide crônica (colocar o número da página em que está este conteúdo), o paciente pode apresentar o cromossomo Philadelphia (Ph+), uma anormalidade no DNA.

Sinais e sintomas

  • Palidez, cansaço e sonolência
  • Hematomas, manchas (chamadas de petéquias) e sangramentos prolongados
  • Infecções constantes
  • Linfonodos e baço aumentados
  • Dores de cabeça e vômito
  • Dores ósseas e nas juntas

Tratamento

Atualmente, as opções de tratamento são quimioterapia, transfusão de sangue (se necessário), transplante de medula óssea (se o paciente não responder bem ao tratamento com quimioterápicos) e também a terapia alvo, por meio dos inibidores da tirosina quinase (Mesilato de Imatinibe, Nilotinibe e Dasatinibe), caso o paciente apresente o cromossomo Philadelphia.

Leucemia Mieloide Aguda (LMA)

O que é

A leucemia mieloide aguda (LMA) é um tipo de câncer que pode acontecer em qualquer idade, mas as pessoas com mais de 65 anos são as que mais recebem o diagnóstico.

Sua principal característica é a super produção de células imaturas (que acabaram de nascer), conhecidas por mieloblastos, que em grande quantidade na medula óssea, bloqueiam a formação dos demais componentes do sangue.

Subtipos

De acordo com o sistema de estadiamento FAB (Francês, Americano e Britânico), a classificação das leucemias mieloides agudas é separada de M0 a M7, de acordo com o desenvolvimento das células:

M0 – Leucemia mieloblástica aguda indiferenciada

M1 – Leucemia mieloblástica aguda com maturação celular mínima

M2 – Leucemia mieloblástica aguda com maturação

M3 – Leucemia promielocítica aguda (conhecida também por LPA)

M4 – Leucemia mielomonocítica aguda (conhecida também por LMMA)

M4 eos – Leucemia mielomonocítica aguda com eosinofilia

M5 – Leucemia monocítica aguda

M6 – Leucemia eritroide aguda

M7 – Leucemia megacarioblástica aguda

Do M0 ao M5, as células doentes são os glóbulos brancos, de forma imatura (como vimos, estas células ainda não se desenvolveram totalmente para realizarem suas funções). Já o subtipo M6 começa com os glóbulos vermelhos ainda muito imaturos, enquanto o M7 tem início em formas imaturas das células que produzem as plaquetas.

Sinais e sintomas

  • Febre e infecções recorrentes
  • Aumento de nódulos linfáticos, baço e fígado
  • Fadiga, fraqueza e palidez
  • Dor nos ossos
  • Redução de peso
  • Hematomas e sangramentos espontâneos, devido à baixa de plaquetas

Tratamento

Os tratamentos mais utilizados são quimioterapia e transplante de medula óssea alogênico (com doadores compatíveis).

Leucemia bifenotípica

O que é

O paciente apresenta as duas linhagens de células (blastos) ao mesmo tempo – as linfoides e as mieloides.

Este tipo de leucemia pode ter início nas células que ainda não se diferenciaram, ou seja, antes de se tornarem células com características mieloide e linfoide. É um grupo de leucemias agudas bastante agressivo, porém raro.

Sinais e sintomas

  • Fadiga, fraqueza e palidez
  • Dor nos ossos
  • Redução de peso
  • Hematomas e sangramentos espontâneos
  • Febre e infecções recorrentes

Tratamento

Ainda não se tem uma resposta concreta para qual seria a melhor opção terapêutica. Mas em linhas gerais, os médicos utilizam alguns protocolos de quimioterapia que podem ser tanto para a linhagem linfoide, quanto para a mieloide. Se possível, também indicam o transplante de medula óssea aparentado.

Leucemia Mielomonocítica Crônica (LMMC) 

O que é

Embora tenha o nome “leucemia”, ela é um tipo de síndrome mielodisplásica, uma doença que acontece devido à falência da medula óssea em produzir células sanguíneas.

A LMMC acontece quando os monócitos, um tipo de glóbulo branco, passam a se reproduzir de maneira descontrolada e elevada, e deixam de fazer sua função de proteger o organismo.

É possível que alguns pacientes com este tipo de doença possam desenvolver leucemia mieloide aguda, já que parte deles também pode apresentar blastos (tipos de glóbulos brancos imaturos).

Sinais e sintomas

  • Anemia
  • Fadiga
  • Falta de ar
  • Palidez
  • Infecções constantes
  • Hemorragias e hematomas

Tratamento

Atualmente, as opções de tratamento utilizadas são a quimioterapia e o transplante de medula óssea alogênico (com doador compatível).

Leucemia Mielomonocítica Juvenil (LMMJ) 

O que é

Também é um tipo de síndrome mielodisplásica e corresponde a 2% dentre todas as doenças infantis do sangue. Na maior parte dos casos, apresenta-se em crianças abaixo dos dois anos de idade e tem um desenvolvimento bastante agressivo.

Sintomas

  • Palidez
  • Febre
  • Tosse
  • Dificuldade para respirar
  •  Lesões de pele
  • Sangramentos
  • Aumento do baço e fígado

Tratamento

Até o momento, o único tratamento disponível é o transplante de medula óssea aparentado.

Leucemia Eosinofílica Crônica (LEC)

O que é

Também chamada por eosinofilia clonal, este tipo de leucemia caracteriza-se por uma proliferação excessiva na medula óssea de eosinófilos, células sanguíneas responsáveis pela defesa do organismo contra parasitas e agentes infecciosos e que também participam contra os processos inflamatórios em doenças alérgicas. É mais comum nos homens acima dos 40 anos de idade.

Sinais e sintomas

Alguns pacientes não apresentam sintomas, mas dentre os sinais mais comuns estão:

  • Febre
  • Fadiga
  • Tosse
  • Dores musculares
  • Anemia
  • Baço aumentado
  • Prurido na pele e diarreia frequentes

Tratamento

Atualmente, o tratamento é realizado com o Mesilato de Imatinibe.

 Leucemia linfoma de células T

O que é

A leucemia-linfoma de células T do adulto (ATL) é um tipo de câncer relacionado à infecção pelo vírus HTLV-I, responsável por atingir as células de defesa do organismo, os linfócitos T.

São três os subtipos que a doença pode apresentar: leucêmico agudo, linfoma crônico ou assintomático (quando não há nenhum sinal da doença). Cada uma delas com características específicas.

No Brasil, este tipo de câncer é raríssimo. A maior parte dos casos acontece entre crianças e jovens, de 2 a 21 anos.

Sinais e sintomas

Nos tipos mais agressivos, que são o leucêmico agudo e linfoma, o paciente pode apresentar como sinais da doença:

  • Aumento dos linfonodos (carocinhos na região do pescoço, virilha e axila)
  • Aumento do tamanho do fígado e do baço
  • Infiltração pulmonar
  • Lesões de pele
  • Lesões ósseas
  • Infecções constantes

Tratamento

Pode ser indicado antivirais em combinação com o Interferon, que é administrado por via intramuscular. Em alguns casos, a quimioterapia e o transplante de medula óssea também pode ser indicado.

Importante! O diagnóstico precoce é fundamental para que o tratamento destas leucemias apresente melhores resultados. Para saber se o paciente tem uma leucemia e qual o seu tipo/subtipo, alguns exames serão solicitados: hemograma, biópsia da medula, mielograma, exames de imagem, além de citometria de fluxo e cariótipo/ fish.

E lembre-se! O médico responsável por diagnosticar e indicar o tratamento é o onco-hematológica.

Mais informações no site da Abrale – www.abrale.org.br


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Agradeço a todos que participaram deste trabalho. Ficou fantástico e muito esclarecedor. Eu trabalho com varios pacientes buscando encontrar um doador de medula óssea. Estas informações são muito valiosas.

Sou portadora de uma Leucemia Promielocítica Aguda com consolidação a 26-05-2015 sendo acompanhada de 4 em 4 meses

Olá, Ana, tudo bem?

Você já conhece o trabalho da Abrale? Nós somos uma Associação que auxilia pacientes com alguns tipos de cânceres hematológicos, oferecendo vários serviços totalmente gratuitos! Além da Revista Online, nós entregamos a cada três meses a revista impressa na casa dos pacientes ou cuidadores e atendimento psicológico, jurídico e de apoio ao paciente (para solucionar duvidas relacionadas à doença e tratamento).
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Abraços!

Acompanhando uma paciente com LMA, perguntei a médica hematologista qual subtipo da LMA a paciente era dignosticada, e ela me respondeu que classificação dos subtipos pela FAB não era mais usada. Gostaria de saber se realmente não se utiliza mais a FAB.

Olá, Diego, tudo bem?

De um modo geral, a classificação FAB não é mais tão utilizada, pois ela deixava de lado alguns fatores que, hoje, afetam o prognóstico. A classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é o principal sistema usado para classificar a LMA em subtipos, pois inclui anomalias cromossômicas e mutações genéticas que interferem no prognóstico e na previsão de resposta ao tratamento.

Estou encaminhando o seu contato para o Apoio ao Paciente da Abrale, nós somos uma associação que auxilia pacientes com cânceres do sangue, para que a gente possa ter um contato mais próximo e te auxiliar ou auxiliar essa paciente caso vocês precisem! Dentro de alguns dias, o senhor deve receber um e-mail explicando mais sobre o nosso trabalho e como realizar o cadastro para ter acesso gratuito aos nossos serviços!

Abraços!

Me fale mais sobre LMA-M7 em crianças até 2 anos sem SD. Gostaria de conhecer casos de cura. Minha bebê está em estado grave após o terceiro ciclo de quimioterapia e deu tiflite. Está entubada e sendo mantida com antibióticos. Conhecer casos de cura me conforta.
Obrigada!

Oi, Lilian, como vai?

Estamos encaminhando a sua dúvida para o Apoio ao Paciente e Comitê Médico da Abrale, somos uma associação que auxilia pacientes com cânceres hematológicos, como a LMA, por meio de diversos serviços gratuitos. Dentro de alguns dias, te retornaremos com as explicações e também tentaremos te colocar em contato com casos de pacientes que passaram por situações iguais ou semelhantes! Pedimos para que fique atenta ao endereço de e-mail que a senhora indicou quando fez o comentário, pois mandaremos uma mensagem por lá!

Abraços!

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