Doença autoimune tem cura?

O melhor tratamento dependerá do diagnóstico e comportamento do quadro, mas, nem sempre, a doença entra totalmente em remissão
Não é possível dizer que doença autoimune tem cura, porque, na maioria dos casos, ela não “desaparece” totalmente. Mas, é bastante comum que ela fique “adormecida” por meio do tratamento, permitindo que o paciente tenha uma boa qualidade de vida. Mesmo quando isso acontece, pode ser necessário que a pessoa mantenha alguma terapia medicamentosa, porém menos intensa.
As doenças autoimunes acontecem quando o sistema imunológico (células e anticorpos que deveriam proteger o organismo) passa a enxergar o próprio corpo como uma ameaça e começa a atacá-lo. Isso gera uma reação inflamatória.
Por esse motivo, em geral, o tratamento das doenças autoimunes tem o objetivo de controlar essa inflamação para que ela não cause danos irreversíveis aos órgãos e células afetados.
O Dr. Nilton Salles Rosa Neto, médico reumatologista do Hospital Nove de Julho, explica que “ no longo prazo, o objetivo é alcançar um estado de remissão, ou seja, em que a doença está sob controle (com ou sem medicação), e não há progressão de danos ao longo do tempo. Em certas situações pode se admitir um estado de baixa atividade de doença, ou seja, a inflamação existe, mas não é suficiente para trazer problemas significativos ao paciente.”
Quais são as doenças autoimunes
- Anemia aplástica
- Púrpura trombocitopênica idiopática (PTI)
- Artrite reumatoide;
- Lúpus eritematoso sistêmico;
- Tireoidite de Hashimoto;
- Diabetes mellitus tipo 1;
- Esclerose Múltipla e
- Esclerose Sistêmica Progressiva.
Tratamento de doença autoimune
De acordo com o reumatologista, os medicamentos usados na terapia dependem se a doença está em fase aguda ou não. Na fase aguda, os principais medicamentos são os anti-inflamatórios não hormonais e os corticosteroides.
Popularmente conhecidos como corticoides, os corticosteroides não devem ser usados por muito tempo e em doses elevadas, “pois apresentam diversos efeitos adversos”, o Dr. Salles alerta. Ele complementa descrevendo que, para evitar que o paciente tome esse tipo de remédio por um longo período, são administradas drogas imunossupressoras ou imunobiológicas.

“Além disso, o tratamento pode incluir outras terapias como imunoglobulina ou plasmaférese, para inibição ou remoção de autoanticorpos. Mas, isso não é válido para todas as doenças autoimunes”, pontua o médico.
Outras estratégias que entram como complemento do tratamento das doenças autoimunes são as transfusões sanguíneas e a hemodiálise. Isso acontece porque esses procedimentos ajudam a melhorar o estado de saúde da pessoa.
O Dr. Salles ressalta que “diante dessa ampla gama de opções, o médico vai indicar as que são mais apropriadas para cada paciente.”
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Doença autoimune tem cura?
Não, a doença autoimune não tem cura, mas, costuma ser altamente controlável e pode entrar em remissão e não reativar. Ou seja, é possível que, com o tratamento, a patologia deixe de ficar ativa, não dê mais sinais e também não reapareça no futuro. Entretanto, em outros casos o paciente pode continuar com a inflamação ativa durante períodos prolongados.

“Como não é possível prever a recorrência, um acompanhamento periódico é necessário e o tempo dirá se a doença não retornará mais”, o especialista orienta.
A depender do comportamento do diagnóstico e da gravidade do quadro alguns protocolos podem ser seguidos. Sendo eles:
- A inflamação é autolimitada, então para espontaneamente, permitindo que o tratamento seja interrompido;
- A inflamação vai e volta, assim usa-se medicação quando ela aparece (fase ativa) e é possível reduzir a quantidade de medicamentos, ou até mesmo interromper seu uso, nas fases inativas e
- Quando a inflamação não cessa, dessa forma, é preciso fazer uso de terapias constantemente.
O doutor esclarece que essa variação acontece porque durante as fases de maior inflamação, há também um maior risco de danos aos órgãos e estruturas. Já quando a inflamação está menos intensa, esse risco é menor.
No caso da anemia aplásica autoimune, por exemplo, o tratamento segue o mesmo esquema com corticoide e imunossupressores.
“Eventualmente, situações refratárias podem requerer transplante de medula óssea. Isso também não significa cura, pois o paciente pode precisar usar medicações para evitar rejeição, há o risco de recorrência, de infecções etc. Assim, o acompanhamento em um centro especializado, com equipe multidisciplinar experiente pode fazer a diferença na evolução dos pacientes”, o Dr. Salles informa.
Já em outras situações, como na púrpura trombocitopênica idiopática, a doença “pode, inclusive, ter remissão espontânea em criança”, fala a Drª. Mary Isabel Vieira Pedroso, médica hematologista da Rede de Hospitais São Camilo de SP.
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Qualidade de vida dos pacientes
“O fato de não haver cura não significa que a doença não possa ser controlada. Desse modo, o diagnóstico e tratamento precoces fazem muita diferença na evolução dos pacientes”, o Dr. Salles salienta.
Ele diz que, geralmente, espera-se que os pacientes respondam bem aos tratamento e tenham uma boa qualidade de vida. Muitas vezes, podendo até retornar às atividades rotineiras mais brevemente.

Por outro lado, em casos refratários ou situações nas quais o diagnóstico foi tardio, é possível que ocorra algum prejuízo em termos de qualidade de vida.
A Drª. Mary descreve que em pacientes com PTI crônica, se a plaquetopenia (queda de plaquetas) estiver moderada, pode não ser necessário entrar com medicamentos. Então, a tendência é que o paciente tenha boas condições.
Entretanto, aquelas pessoas com plaquetopenia severa e que apresentam hemorragias, tendem a precisar de um tratamento mais prolongado. Isso pode afetar a qualidade de vida.
“Na anemia aplásica, o tratamento imunossupressor pode levar a uma independência transfusional. Porém, quando não existe uma boa resposta à terapia, o paciente fica dependente de transfusões frequentes, o que afeta negativamente a sua qualidade de vida”, a médica explica.
“Outros aspectos importantes nas doenças autoimunes são a adequada nutrição, a prática de exercícios, a cessação de tabagismo, o controle dos fatores de risco cardiovasculares, como obesidade, diabete e hipertensão. E é imprescindível a avaliação da saúde mental. Pacientes com doenças autoimunes costumam apresentar mais frequentemente ansiedade, depressão entre outras manifestações, e isto requer uma avaliação direcionada”, o Dr. Nilton Salles finaliza.