Citomegalovírus: infecção é perigosa em transplantados
Última atualização em 28 de maio de 2024
O CMV pode ser fatal nos pacientes imunossuprimidos. Mas é possível preveni-lo
A ativação da infecção por citomegalovírus é uma das possíveis complicações após o transplante de medula óssea (TMO). Esse é um vírus bastante comum e pertence à família do vírus da Herpes (catapora, herpes simples, herpes genital e do herpes-zóster). Em pessoas saudáveis, a infecção pode causar alguns sintomas controláveis, entretanto para pacientes imunossuprimidos, pode ser fatal. Por isso, é importante que antes do procedimento, seja realizado o teste para detectar a presença do vírus e, se necessário, fazer o tratamento preventivo.
De acordo com a Dra. Patricia Miki Yamamoto, médica assistente do serviço de TMO do IBCC Oncologia e Hospital 9 de Julho, nos Estados Unidos, quase uma em cada três crianças já estão infectadas com o citomegalovírus (CMV) aos cinco anos. Na idade adulta, cerca de 50% a 80% dos norte-americanos já foram infectados.
“Em algumas populações, essa taxa pode variar entre 40 a 100% de pessoas. Quanto maior a idade, maior a chance de ter tido contato. Uma vez infectado, seu corpo retém o vírus para toda a vida”, ela diz.
Mas, ter o vírus para toda a vida não quer dizer que também haverá a presença de sintomas. Na verdade, a maioria das pessoas saudáveis que são infectadas pelo CMV não apresenta nenhuma manifestação. Isso acontece porque a infecção permanece latente, ou seja, adormecida dentro das células e em alguns períodos específicos ela pode ser ativada.
É isso que pode acontecer com os pacientes submetidos ao TMO. Devido ao condicionamento e ao próprio procedimento, o sistema imunológico dessas pessoas fica debilitado, não conseguindo realizar suas funções normalmente.
“Todo paciente pós-transplante pode reativar infecção por CMV, devido ao comprometimento do sistema imune”, explica o Dr. Roberto Luiz da Silva, coordenador do Serviço de TMO do IBCC Oncologia e Hospital 9 de Julho.
Como o citomegalovírus é transmitido
A transmissão do vírus acontece de pessoa para pessoa por meio de fluídos corporais, como saliva, sangue, urina, sêmen e leite materno.
A Drª. Patrícia conta que quando o vírus está ativo no corpo, pode ser transmitido das seguintes maneiras:
– Do contato direto com saliva ou urina, especialmente de bebês e crianças pequenas.
– Por meio do contato sexual.
– Do leite materno aos bebês, durante a amamentação.
– No transplante de órgãos, medula óssea (células-tronco) ou transfusões de sangue.
– No momento do nascimento, quando a mãe infectada pode passar o vírus para seu bebê antes ou durante o parto. O risco de transmitir o vírus para o bebê é maior se a mulher for infectada, pela primeira vez, durante a gravidez.
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Sintomas da infecção por CMV
No caso das pessoas que apresentam sintomas do citomegalovírus, eles costumam ser:
- Febre
- Dor de garganta
- Fadiga
- Dores musculares
- Aumento dos gânglios linfáticos
- Mononucleose e hepatite (ocasionalmente)
Já infecção pelo CMV em transplantado, além desses sintomas, também costuma causar:
- Falta de ar
- Alterações na vista e até cegueira
- Dores abdominais
- Diarreia
- Vômitos
- Infecções pulmonares, esôfago, estômago e intestino
Diagnóstico do citomegalovírus
O diagnóstico da infecção por CMV é feito por meio de alguns exames de sangue em adultos sintomáticos. Dentre esses testes, estão a sorologia, que detecta os anticorpos IgM (doença ativa) e IgG; o PCR, que identifica a presença do gene do vírus na amostra; e a antigenemia para citomagalovírus, utilizada para reconhecer proteínas específicas do vírus dentro das células do sangue.
De forma diferente, todos pacientes candidatos ao TMO, mesmo que não apresentem manifestações do CMV, precisam ser testados antes de realizar o procedimento.
“Os candidatos ao TMO devem ser submetidos à dosagem sérica de IgG para CMV antes do transplante. Assim, podemos determinar o risco para infecção primária por este vírus ou reativação após o transplante”, conta o Dr. Roberto Luiz.
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Vírus CMV em transplantados
Como o vírus permanece “adormecido” no organismo, é possível que o paciente oncológico não saiba que teve contato. Isso é perigoso, pois, durante o processo do TMO, o sistema imunológico fica comprometido e não consegue reagir de forma adequada à infecção ou reativação do CMV. Causando, assim, uma infecção extremamente grave, que pode colocar em risco a vida da pessoa. Por isso, antes do transplante, é realizada uma avaliação tanto do doador, quanto do receptor.
“Em casos de transplante autólogo (recebe as próprias células-tronco removidas anteriormente), há maior incidência se o paciente foi exposto à irradiação de todo corpo em altas doses ou fez uso de fludarabina ou 2-clorodeoxiadenosina. Nos casos de transplante alogênico, todos os receptores de medula soropositivos para o CMV e receptores soronegativos com doador soropositivo estão sob risco de adoecimento e óbito pelo CMV”, explica o Dr. Roberto Luiz.
O período após a pega da medula é quando há a maior probabilidade do paciente, positivo para CMV, desenvolver a infecção. O motivo é devido à lenta recuperação da imunidade. Para esses pacientes, pode-se realizar a profilaxia para evitar a reativação do CMV ou o tratamento precoce.
Tratamento de CMV em pacientes de TMO
O médico divide o tratamento em dois tipos de paciente: aqueles que testaram positivo para o vírus, mas não têm sintomas e os sintomáticos.
Para o primeiro grupo, é feito o tratamento preventivo, no qual é realizada uma vigilância da infecção. Isso é feito por meio de técnicas sensíveis e específicas, que podem identificar rapidamente o início da replicação viral. Permitindo, dessa forma, iniciar a terapia de forma precoce.
Dentre os possíveis medicamentos para a prevenção, está o letermovir. Já para o tratamento da infecção, estão o o maribavir, indicado no tratamento de adultos submetidos ao TMO e que desenvolveram infecção por citomegalovírus que não desapareceu ou voltou após tomar outro antiviral e o ganciclovir.
Já no caso de sintomas graves, “atualmente, existem vários agentes disponíveis para a terapia sistêmica da infecção pelo CMV”, ele conta.
Caso a pessoa tenha histórico de infecção ativa antes do transplante, ou seja, caso ela tenha contraído a infecção e tenha apresentado sintomas antes do TMO, ela é submetida à vigilância. Assim, são realizados testes de PCR com uma certa frequência para detectar precocemente a reativação do vírus, especialmente durante a neutropenia.
Para um terceiro grupo, pacientes de TMO que não são soropositivos para CMV, necessitam de um outro tipo de cuidado. A fim de evitar que eles contraiam a infecção, é preciso garantir que o doador da medula também teste negativo para a presença do vírus.
Além disso, de acordo com o Dr. Roberto Luiz, “as transfusões de sangue e derivados devem ser feitas com filtro de leucócitos ou de doadores também negativos para o CMV. Isso diminui o risco de infecção primária pelo CMV pós-TCTH. ”
O mesmo vale para pacientes que foram submetidos ao TMO autólogo.
Vale explicar que no TMO alogênico, se o paciente for soropositivo, o ideal é que o doador também seja.
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Doença enxerto-versus-hospedeiro e infecção por citomegalovírus
A doença enxerto-versus-hospedeiro (DECH) é uma das complicações do TMO. Ela acontece quando os linfócitos, presentes na medula do doador passam a atacar as células do paciente. As principais terapias para controlar e curar essa reação são os corticóides e imunossupressores, que inibem o sistema imunológico.
“A infecção por CMV e a DECH são complicações importantes após o TMO alogênico, com uma ligação clara entre si. Vários estudos demonstram que a DECH e seu tratamento colocam os pacientes em risco de replicação do CMV”, alerta o Dr. Roberto Luiz.
Por isso, é preciso vigiar esses pacientes com frequência e avaliar a necessidade de realizar medidas profiláticas ou iniciar um tratamento rapidamente.