Diabetes e câncer: uma provável ligação
Última atualização em 28 de julho de 2021
Duas doenças com grande incidência e que enfrentam desafios para serem diagnosticadas, podem estar relacionadas
O que é diabetes?
A diabetes é uma doença crônica que acontece quando há uma elevada quantidade de glicose (açúcar) no sangue. Ela pode se desenvolver por diversos fatores e se manifesta devido a uma falha na ação ou secreção da insulina. A insulina, por sua vez, é um hormônio produzido pelo pâncreas e é responsável por auxiliar, justamente, no controle do açúcar no sangue e transformá-lo em energia.
Há vários tipos dessa doença, entretanto os mais conhecidos e prevalentes são a diabetes tipo 1 e a diabetes tipo 2. O primeiro é considerado uma doença auto-imune, na qual os anticorpos produzidos pelo corpo passam a combater as células do pâncreas que produzem a insulina. Já o tipo 2, representa, aproximadamente, 90% dos casos da doença e ocorre devido à exposição a fatores de risco. Por exemplo, obesidade, estilo de vida e antecedentes familiares.
De acordo com o Atlas IDF 2019: Diabetes no Mundo, cerca de 16,8 milhões de brasileiros têm a doença. Sendo que a cada três pessoas diabéticas, uma não foi diagnosticada, ou seja, há um subdiagnóstico.
Sintomas de diabetes
-Sede excessiva
– Fome excessiva
– Aumento da frequência urinária
– Infecções frequentes (como de bexiga ou pele)
– Fadiga
– Visão turva
– Perda de sensibilidade ou formigamento nos pés ou nas mãos
– Feridas que demoram muito para cicatrizar
– Perda de peso sem razão aparente
Tratamento para diabetes
Apesar de não ter cura, o tratamento da diabetes é essencial para controlar o nível da glicose e evitar complicações. Além do planejamento alimentar, há algumas opções de terapia, dependendo da característica e estágio da doença.
Os medicamentos, em sua maioria, tem como objetivo auxiliar na produção da insulina e aumentar a sensibilidade do corpo à ação desse hormônio. Além disso, também auxiliam na diminuição da absorção de carboidratos.
Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, nem sempre será necessário utilizar remédios por longos períodos. No caso do diabetes Tipo 2, a mudança no estilo de vida pode ser suficiente.
Relação entre diabetes e câncer
Um estudo publicado no Journal of The National Cancer Institute (JNCI) apontou que a relação entre diabetes e câncer acontece, principalmente, nos tumores de pâncreas, mama, cólon e bexiga. Segundo a pesquisa, o tempo de diagnóstico da diabetes também interfere na ligação das duas doenças.
A Drª. Ignez Braghiroli, diretora da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e coordenadora do Comitê de Tumores Gastrointestinais, observa que existem algumas teorias que podem explicar essa associação. Entretanto, ainda não se sabe completamente o porquê ela acontece nem qual mecanismo está envolvido.
“Há a hipótese de relação com a hiperinsulinemia (alto nível de insulina) e resistência à insulina, mais proeminentes nos primeiros anos após início do diabetes”, ela diz.
O estudo ainda mostra que a diabetes tipo 2 está mais ligada ao aparecimento de um câncer. Isso acontece, principalmente, devido à sua prevalência na população. Outra possível razão seria o aumento da produção da insulina pelas células beta. Isso acontece porque, nesse tipo de diabetes, o corpo cria uma resistência à ação da insulina. Então, as células beta do pâncreas passam a produzir mais quantidade do hormônio, como um mecanismo de compensação.
De acordo com a médica, “um dos efeitos desse hiperinsulinismo é o estímulo ao crescimento celular. As células tumorais parecem sofrer influência desse efeito proliferativo, promovido pela insulina e por outros fatores de crescimento envolvidos neste contexto. ”
Também há pesquisas analisando a capacidade da hiperglicemia de danificar o DNA. As evidências sugerem que essa elevação da quantidade de açúcar pode gerar mutações genéticas. Por exemplo, a quebra da fita genética e mudanças da base.
Diabetes e câncer: fatores de risco
Ambas as doenças possuem como fatores de risco a obesidade, sedentarismo e o envelhecimento. Apesar disso, a Drª.Inez ressalta que no estudo publicado no JNCI, essas condições em comum foram retiradas das avaliações para evitar confusão nos resultados. Ela conta que foi analisado o Índice de Massa Corpórea (IMC) dos participantes e os resultados foram ajustados de acordo com os valores. Dessa forma, foi possível analisar, separadamente, os pacientes que tinham obesidade e os que não.
“Porém, apesar de ajustes meticulosos, ainda pode haver um viés de confusão residual, dado a relação muito próxima entre essas duas patologias”, ela contrapõe.
Diabetes e câncer: tempo do diagnóstico
O mesmo estudo ainda considera que pessoas recém-diagnosticadas com diabetes (menos de dois anos) têm uma maior probabilidade de desenvolver câncer de pâncreas. Porém, para outros tipos de câncer, o risco foi maior nos primeiros oito anos do diagnóstico.
Como mencionado anteriormente, há um subdiagnóstico da doença, então o momento exato do diagnóstico pode ser impreciso. Mesmo assim, a médica considera que o tempo é um fator importante. Isso acontece porque é necessário que a pessoa se exponha, durante um certo tempo, ao fator de risco.
“No estudo, o risco de algumas neoplasias malignas esteve, estatisticamente, associado aos primeiros anos após diagnóstico do diabetes. Conforme descrito pelos autores, os níveis peptídeo C e insulina foram mais elevados nos primeiros oito anos do diabetes, comparado aqueles indivíduos que tinham duração mais longa da doença. Isso é consistente com o papel da hiperinsulinemia no desenvolvimento do câncer”, a Drª. Inez explica.
As pessoas diagnosticadas com diabetes nos dois anos anteriores foram as que apresentaram risco mais elevado para câncer de pâncreas. Elas tinham probabilidade 2,91 vezes maior, a mais elevada encontrada ao longo dos anos e considerando todas as neoplasias.
A relação entre as duas doenças também se deu nos casos de câncer colorretal, mama e endométrio. Também há pesquisas mostrando a ligação com desenvolvimento de linfoma, mieloma múltiplo e leucemia.
É importante salientar que o diagnóstico de diabetes não deve ser enxergado como um sinal de que o indivíduo desenvolverá um câncer.
“Seria difícil delinear um screening para câncer de pâncreas em todos aqueles diagnosticados com diabetes. No entanto, alguns fatores devem ser levados em consideração para uma investigação de um tumor. Por exemplo, indivíduos que não tenham o IMC elevado ao diagnóstico; ausência de histórico familiar; presença de perda ponderal considerável e uma descompensação repentina do diabetes”, a doutora detalha.
Tenho câncer e diabetes. E agora?
Alguns tratamentos oncológicos envolvem o uso de drogas que causam aumento no nível da glicose. Dessa forma, uma das principais dificuldades pode ser manter a glicemia controlada.
Ainda não se sabe se o prognóstico do câncer pode ser prejudicado no caso dos pacientes diabéticos. Porém, o que se sabe é que pacientes oncológicos que realizam alguma terapia para diabetes têm uma maior taxa de morbidade e incidência de comorbidades. Entretanto, é possível que essas taxas estejam relacionadas às complicações devido ao alto nível de glicose, como doenças cardíacas, e não ao tratamento ou ao tumor em si.
Por isso, é importante que haja uma atenção para as duas doenças e que seja avaliado qual o melhor medicamento para aquele paciente.
“No futuro, um maior entendimento da insulina e seus efeitos diretos e indiretos relacionados à carcinogênese será importante para avançar nosso entendimento a respeito dessa correlação. Hoje, acreditamos que o paciente com câncer e diabetes deve ser tratado priorizando ambas as condições”, finaliza a Drª. Inez Braghiroli .
Prevenção é a principal forma de evitar o câncer
Anemia pode virar leucemia?
[…] Por isso, é importante que haja uma atenção para as duas doenças e que seja avaliado qual o melhor medicamento para aquele paciente. “No futuro, um maior entendimento da insulina e seus efeitos diretos e indiretos relacionados à carcinogênese será importante para avançar nosso entendimento a respeito dessa correlação. Ver resposta completa […]
[…] De acordo com a médica, “um dos efeitos desse hiperinsulinismo é o estímulo ao crescimento celular. As células tumorais parecem sofrer influência desse efeito proliferativo, promovido pela insulina e por outros fatores de crescimento envolvidos neste contexto. Ver resposta completa […]