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Como lidar quando a mãe não pode amamentar

Mulher que não pode amamentar dando mamadeira ao seu bebê
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Última atualização em 5 de abril de 2024

A amamentação não é o único meio de estabelecer uma conexão afetiva com o bebê e o autocuidado desempenha um papel crucial no bem-estar da mãe durante esse período desafiador

A maternidade pode ser o sonho de muitas mulheres, mas nem sempre ela acontece conforme o planejado e um dos imprevistos que podem ocorrer está relacionado à amamentação. Não poder amamentar tende a trazer à tona diversas questões e pode gerar ansiedade, estresse, depressão e preocupação se será possível criar um vínculo com o bebê. Por isso, quando a mãe não pode amamentar, independentemente do motivo, é muito importante que ela se acolha com carinho, conte com a ajuda de psicólogos, de preferência especializados, e que sua rede de apoio também faça parte desse momento.

A amamentação traz diversos benefícios tanto para a mãe, quanto para o bebê. Ela pode, por exemplo, diminuir as chances da mulher desenvolver um câncer de mama e ajudar a construir a imunidade da criança. 

Além disso, o Dr. Carlos Ruiz, mastologista do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, conta que, para o bebê, o aleitamento materno é importante porque “auxilia na formação da microbiota intestinal, diminui o estresse do recém-nascido, melhora o sono da criança e promove um desenvolvimento neuronal adequado.”

Mas há alguns casos em que a mãe não pode amamentar e, na maior parte das vezes, esse impedimento acontece justamente para proteger o bebê. Os principais motivos que contraindicam o aleitamento são:

  • Câncer em tratamento
  • Mulheres que foram infectadas pelo víru HIV, HTLV1 ou HTLV2
  • Uso de drogas ilícitas
  • Certas medicações (como as utilizadas no tratamento de doenças psicológicas) 
  • Problemas no metabolismo do bebê que tornam o leite perigoso para a sua sobrevivência

Vale pontuar que mães que estão com dengue podem amamentar, pois o vírus não é transmitido pelo leite, nem pelo contato, com acontece com a COVID-19.

A Drª. Rafaela Schiavo, psicóloga perinatal, membro associado da Sociedade Brasileira de Psicologia e fundadora do Instituto MaterOnline, complementa que certas situações ao longo da gravidez, do parto e pós-parto também podem fazer com que a mulher tenha dificuldade para amamentar, como a não amamentação na primeira hora, não alojamento conjunto, violência obstétrica e parto cesariano.

“Logo após o parto cesariano, a criança é levada para o berçário e os médicos dizem que a mulher precisa descansar. Quando a criança chega para essa mulher cinco ou seis horas depois do parto, ela já perdeu a amamentação da primeira hora, que é muito importante. Além disso, muitas vezes, a mulher não fica em um alojamento conjunto com esse bebê e a amamentação deixa de ser à livre demanda, o que dificulta o aleitamento”, ela exemplifica.

Quem tem câncer pode amamentar?

Grande parte das terapias realizadas para o tratamento do câncer podem passar para o leite da mulher e prejudicar o bebê. Por isso, em geral, não é indicado amamentar nesse período. 

O Dr. Ruiz reforça que mulheres que estão realizando quimioterapia, radioterapia, terapia anti-HER 2, imunoterapia ou terapia anti-hormonal não podem amamentar.

Mulher com câncer abraçando seu filho

Por outro lado, se a mulher já encerrou o tratamento do câncer e tiver condições de amamentar, o aleitamento está liberado. Porém, apesar de não ser um impeditivo direto, certos tratamentos para o câncer de mama podem fazer com que a mulher não consiga produzir leite.

O mastologista explica que, quando é feita a mastectomia total, todas as glândulas daquele seio acabam sendo retiradas, inclusive as responsáveis por produzir leite. Por isso, é improvável que a mulher consiga fabricar leite naquela mama. Por outro lado, se for realizada uma mastectomia conservadora, retirando  um quadrante ou setor da mama, a produção de leite se mantém – ela tende a ser menor, mas se mantém. 

O médico ainda conta que é comum as mulheres terem dúvida se podem amamentar após fazer radioterapia na mama, pois acham que a irradiação permanece e pode afetar o bebê. Mas, isso não é verdade. Quando a radioterapia acaba, a irradiação também acaba, então não há perigo e a amamentação está liberada.

O mesmo vale para outros tipos de câncer. Como as drogas utilizadas não são medicações de depósito, ou seja, não permanecem no organismo após a sua administração, é possível amamentar. 

“Ter tido câncer não é contraindicação para a amamentação, isso tem que ficar muito claro”, o Dr. Ruiz salienta.

É importante lembrar de sempre conversar com o médico antes de retomar/iniciar a amamentação para garantir a segurança da mãe e do bebê.

O que fazer quando a mãe não pode amamentar

De acordo com o médico, a principal opção para esses casos é contar com os bancos de leite, mas a mãe também pode optar por oferecer suplementos ou o “leite materno artificial” (fórmula infantil).  

Todas essas opções devem ser indicadas e acompanhadas por um profissional da Pediatria e/ou Nutrição pediátrica.

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Como lidar com o psicológico quando a mãe não pode amamentar

Mais do que as questões práticas, o fato de não poder amamentar tende a ter um grande impacto no emocional das mulheres. A preocupação com o desenvolvimento do vínculo mãe-bebê, a culpa, o estresse, o sofrimento, além da pressão da sociedade, tendem a aflorar nesse momento.

Mulher sentada no chão chorando ao lado de um berço

A Drª. Rafaela esclarece que, durante a amamentação, o corpo libera diversos hormônios, dentre eles o hormônio do amor, a ocitocina, que ajuda na vinculação. Mas ela afirma que é um mito acreditar que esse seja o único e principal meio para criar o vínculo com o bebê. 

“É mito acreditar que a vinculação mãe-bebê só vai acontecer se estiver acontecendo uma amamentação natural. Muitas mulheres, por diversos motivos, não podem amamentar os seus bebês e, ainda assim, elas conseguem se vincular e amá-los da forma mais intensa e eles amá-las da forma mais intensa”, ela diz.

Ainda segundo a psicóloga perinatal, a vinculação não é prejudicada quando a mulher não está amamentando, porque esse laço pode ser trabalhado de outras formas. 

“Por exemplo, essa mulher vai dar o leite em uma mamadeira, com a criança no colinho, cheio de amor, de olhar afetuoso, de carinho e a vinculação está acontecendo aí. Essa criança está recebendo amor, ela está recebendo um colo gostoso, está entendendo que o mundo é bom, que é gostoso estar naquele colo e que é bom estar ao lado daquela pessoa. O que precisa é a qualidade da alimentação do bebê, esse momento de alimentá-lo tem que ter qualidade, precisa ter contato, olho a olho, precisa ter toque e precisa ter pele a pele. Isso tudo, tranquilamente, gera uma troca afetiva de vinculação entre mãe e bebê.”

A culpa pode aparecer

É muito comum que, nessas horas, as mães comecem a se culpar por não conseguirem amamentar o bebê e, principalmente, se julguem ser menos mães ou acreditam que esse impedimento signifique falta de amor. Porém, esses pensamentos e julgamentos não refletem a realidade e é importante tentar ter isso em mente e puxar os pensamentos para os fatos reais.

Mulher com bebê no colo recebendo julgamentos representando a culpa materna

“Tem muita mulher que fala ‘se eu não estou amamentando meu bebê, é porque eu não o amo’ e, por conta dessas falas do senso comum, a mulher se culpa muito e pode ficar deprimida”, a Drª. Rafaela comenta. Sendo que essa culpa ainda pode ser intensificada por conta da pressão social afirmando que, para ser uma mãe completa, a mulher precisa amamentar. 

Por conta de todas essas questões externas e internas, “é importante que a mulher seja acompanhada por um profissional da saúde mental chamado de psicólogo perinatal. Ele vai entender o contexto, o motivo pelo qual ela não está podendo amamentar, isto é, se foi uma escolha, se foi uma imposição biológica, se a gestação foi planejada, ou não, se ela sofreu algum tipo de violência obstétrica ou o que aconteceu. Porque, tudo isso vai influenciar na amamentação e são questões que tiram a culpabilidade da mulher”, a especialista fala.  

O Dr. Ruiz acrescenta que “falamos tanto da amamentação na questão de ser mãe, mas entenda que uma mãe que não conseguiu amamentar não é menos mãe do que aquela que conseguiu. O que caracteriza a maternidade é o amor, é a proximidade, é o carinho, é a dedicação e isso vai estar presente em qualquer uma das circunstâncias.”

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O esperado versus o real

Não poder amamentar pode representar um sonho roubado para aquela mulher. Ela pode ter esperado e sonhado com esse momento e o fato de ele não acontecer pode trazer sofrimento e adoecimento mental. 

“Então, ela pode ter depressão porque ela gostaria muito de amamentar e ela está tendo esse sonho impedido. Isso sim pode interferir na vinculação mãe-bebê, porque uma mãe com depressão dificilmente tem energia para fazer as atividades maternas”, a Drª. Rafaela pontua.

Mulher chorando ao lado de um carrinho de bebê

O autocuidado é indispensável quando a mãe não pode amamentar o bebê

A psicóloga perinatal afirma que o autocuidado é muito importante nessa fase pós-parto, principalmente quando a maternidade que foi idealizada não se torna real. O fato de mais de 50% das mulheres no período perinatal apresentarem alguma alteração emocional significativa demonstra quão importante é o autocuidado nesse momento.

Mãe com bebê no colo em uma sessão de psicoterapia

“Durante todo o ciclo de vida feminino, há só três períodos com maior risco para problemas de saúde mental: adolescência, climatério e o período perinatal. Quando a gente compara esses três, o que tem mais prevalência é justamente o período perinatal, no qual essa mulher pode vir a adoecer, desenvolvendo, por exemplo, ansiedade, estresse ou depressão”, ela ressalta. 

Por isso, a mãe deve procurar se autocuidar com a ajuda de profissionais da saúde mental. 

“Não digo para ela se autocuidar sozinha, ela precisa ser cuidada. Precisamos começar a ter uma cultura de que essas mulheres recebam sim assistência psicológica neste período para que elas possam efetivamente ter bons resultados diante as várias frustrações que podem acontecer nesse pós-parto”, a doutora afirma.

Sua rede de apoio, seja parceiro(a), familiares ou amigos, também tem um papel fundamental nesse cuidado. E a primeira forma é não colocando mais pressão nessa mulher, nem a estigmatizando. 

“Eles devem dar força para ela falando ‘você é uma mãezona, não é porque você não está conseguindo dar o peito, que você é menos mãe’, ‘como você troca essa fralda legal’, ‘como você dá um banho cheio de amor e carinho’, ‘ele só quer você’, ‘só sorri para você’, ‘se vê de longe o quanto você ama ele’. Frases como essas vão empoderando a mulher e a deixando cada vez mais empolgada com a maternidade e ajudam a perceber que ela pode ser uma mega mãe e ter uma super vinculação com esse bebê mesmo não amamentando”, a Drª.Rafaela Schiavo orienta.

Se as pessoas da rede de apoio também estiverem enfrentando dificuldades nesse momento, podem procurar psicólogos perinatais.

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