Skip to content

Falar sobre o meu câncer, ou não?

Pessoa pensando como falar sobre câncer
Compartilhe

Última atualização em 12 de julho de 2024

Tanto a escolha de contar, quanto a de não contar sobre a doença, irão trazer repercussões. É importante que a pessoa entenda com quais desdobramentos ela quer lidar

Escrito por: Natália Mancini

O diagnóstico de câncer pode ser um divisor de águas na vida de qualquer pessoa. A notícia, muitas vezes, traz incertezas e receios, além de gerar dúvidas sobre como lidar com a situação e com quem falar sobre o câncer. A decisão de revelar, ou não, o diagnóstico é extremamente pessoal e deve ser tomada com base no que for melhor para o paciente, sem qualquer tipo de pressão e levando em conta os impactos emocionais.

A Profª. Drª. Maria Rita Zoéga Soares, professora sênior do Programa de Pós-Graduação em Análise do Comportamento na Universidade Estadual de Londrina ressalta que o dilema sobre compartilhar a notícia é bastante comum entre os pacientes oncológicos. 

Essa dúvida pode estar relacionada a diversos fatores, como o receio das reações ao diagnóstico de câncer, padrão comportamental das pessoas (se foram acolhedoras e empáticas em outros momentos), se a pessoa geralmente tem dificuldade para pedir ajuda, como ela tende a enfrentar situações desafiadoras e como ela está lidando com as próprias emoções.

“O paciente pode sentir que não está com controle emocional suficiente e o ato de compartilhar pode aumentar seu sofrimento. Além disso, há o receio de como o outro vai lidar com a notícia, porque a palavra ‘câncer’ ainda é alvo de estigma e preconceitos. Então, se o paciente não consegue administrar os próprios sentimentos, pode questionar como vai administrar os de outras pessoas”, a Profª. Drª. Maria Rita descreve.

Sou obrigado a contar sobre meu diagnóstico de câncer?

Expor  essa notícia é uma decisão muito pessoal e não há a atitude certa ou errada. A escolha depende do que o paciente acha melhor e como ele se sente mais confortável.

“O indivíduo deve ser respeitado nesta decisão. E é preciso lembrar que isso é um processo e cada um tem o seu próprio ritmo e limitações. A escolha de compartilhar depende muito de como foi sua experiência anterior em relação ao apoio obtido na família em situações difíceis e o que essa pessoa percebeu em relação a esse apoio, que tipo de compreensão teve e qual foi o nível de empatia recebida”, a especialista explica. 

Pessoa falando sobre câncer com um psicólogo

Recentemente, a decisão da Princesa de Gales, Kate Middleton, trouxe a discussão sobre esse dilema à tona, já que ela optou por não divulgar, imediatamente, seu diagnóstico para o público. Ela recebeu o diagnóstico, provavelmente, entre os meses de janeiro e fevereiro e compartilhou a notícia no final de março. 

A monarca explicou que escolheu fazer desta forma, pois queria contar, primeiro, para seus filhos e estava esperando o melhor momento para isso. Segundo os jornais de entretenimento do Reino Unido, as aulas do príncipe George (10), da princesa Charlotte (8) e do príncipe Louis (5) estavam suspensas por conta de um feriado e, durante esse período, eles teriam mais tempo para assimilar a notícia.

Benefícios de falar sobre o câncer

Compartilhar sobre o diagnóstico ajuda a minimizar a sensação de estar sozinho e também pode ser uma forma de conseguir apoio nas atividades diárias, como agendamento de compromissos, auxílio em tarefas domésticas ou de trabalho, pagamento de contas, cuidar de plantas e animais.

Kate Middleton fala sobre seu câncer

“Poder expressar sentimentos, dúvidas e angústias, auxilia o indivíduo a se sentir melhor compreendido, validado e acolhido em suas necessidades. Além disso, outras pessoas podem fornecer uma perspectiva diferente sobre a situação, o que auxilia na tomada de decisões. Quando estamos sozinhos, os desafios podem parecer maiores e piores do que realmente são”, a Profª. Drª. Maria Rita comenta.

Ela ainda aponta que, ao contar a notícia, o paciente pode evitar que seus familiares e amigos tenham uma percepção exagerada ou fantasiosa sobre o diagnóstico, criando um cenário pior do que o real.

Ao compartilhar, o paciente também pode deixar claro que tipo de ajuda espera daquela pessoa. Então, se precisa de apoio para realizar as tarefas, ir ao médico, se espera ter companhia ou suporte emocional.

É importante ter em mente que também não há uma regra determinando qual é o melhor momento para fazer isso. Mas, a doutora aconselha que, antes de falar sobre seu diagnóstico, o paciente tenha uma boa compreensão de sua doença.

Comunicação com o chefe sobre o câncer

 Outro dilema que os pacientes costumam enfrentar é se devem, ou não, revelar no trabalho sobre o câncer. Isso acontece não só por medo dos colegas reagirem com pena, mas, principalmente, por medo de perder o emprego.

Falar sobre câncer no trabalho

“Quando o paciente compartilha sua condição de saúde no ambiente laboral, pode ter a vantagem de ser compreendido em relação às situações relacionadas ao tratamento, tais como ter que se ausentar, cansaço, indisposição e incômodo. O ambiente pode se organizar para atender as demandas neste período, cobrindo faltas, ajustando tarefas a dias e horários, além de dividir responsabilidades entre os membros, quando necessário”, a Profª. Drª. Maria Rita diz.

Vale saber que não há uma Lei garantindo a estabilidade no emprego por conta do câncer, ou seja, que o paciente não possa ser demitido. Porém, a demissão pode ser vista como um ato discriminatório.

Leia também:
Leia também:

E se eu não quiser falar sobre o câncer?

Reforçando: não há obrigatoriedade em divulgar essa notícia e também não é necessário contar para todos – o paciente pode escolher falar somente para uma parte dos parentes, por exemplo. Porém, “estar sozinho em uma situação de tratamento oncológico pode ser um grande desafio”, contrapõe a especialista.

Pessoa falando sobre câncer com um psicólogo

Ela complementa que quem tem um apoio social e familiar tende a se adaptar com mais facilidade às diferentes situações que podem ocorrer ao longo do tratamento. 

“Em caso de dificuldade de aceitação e compartilhamento do diagnóstico, o indivíduo pode buscar auxílio de um psicólogo especialista. Este espaço pode ser um contexto seguro para que o indivíduo consiga se expressar e entender tal dificuldade para lidar com o tratamento. O compartilhamento com um profissional pode ser o primeiro passo para desenvolver habilidades de comunicação no contexto familiar e ajudar a tomar decisões. Além disso, o próprio psicólogo pode auxiliar na orientação do paciente e família sobre como proceder na situação e lidar com os sentimentos”, a Profª. Drª. Maria Rita Zoéga Soares finaliza.

Se você é paciente oncológico e está precisando conversar com alguém, a Abrale oferece apoio psicológico gratuito. Entre em contato no (11) 3149-5190 ou [email protected]

Deixe sua opinião ou dúvida sobre esta matéria abaixo!

Deixe sua opinião ou dúvida sobre esta matéria abaixo!


Compartilhe
Receba um aviso sobre comentários nessa notícia
Me avise quando
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments
Back To Top