Transplante de órgãos: como acontece e indicação para câncer
Última atualização em 3 de outubro de 2023
Saiba quem pode doar, como é montada a lista de quem vai receber e o porquê a maioria dos pacientes não podem ser doadores nem receptores
O transplante de órgãos é um procedimento que pode ser realizado para algumas doenças. No caso dos cânceres, seu uso é muito restrito. Além disso, geralmente, as pessoas que tratam/trataram um tumor não podem ser doadoras, porém há um órgão que grande parte dos pacientes podem doar: a córnea. Mas, apesar de não poderem contribuir, de fato, para a doação de órgãos, os pacientes têm um papel fundamental em conscientizar seus familiares, amigos e conhecidos sobre a importância desse ato.
Desde o transplante de coração do apresentador Fausto Silva no final de agosto de 2023, esse assunto tem sido muito discutido e diversas dúvidas surgiram, principalmente relacionadas ao funcionamento desse processo e para quais casos ele pode ser indicado.
A Drª. Daniela Salomão, Coordenadora Geral do Sistema de Transplante do Ministério da Saúde, esclarece que o transplante de órgãos tem o objetivo de substituir um órgão que não está cumprindo a sua função de forma adequada.
Então, ele pode ser realizado diante de uma insuficiência, por exemplo, cardíaca, renal ou pulmonar.
Fila de espera para transplante de órgãos no Brasil
Para que uma pessoa possa ser submetida ao transplante, ela deve ser inserida pela sua equipe médica no Sistema Nacional de Transplante. A Drª. Daniela descreve que nesse momento do cadastro são incluídas todas as informações do paciente, inclusive a doença que ele tem, seu tipo sanguíneo, peso, altura, idade e se há um critério de gravidade.
“A gente evita falar ‘fila’, porque a fila dá ideia de que é um atrás do outro, ou seja, que vou ser transplantado porque eu entrei na lista primeiro do que o outro que entrou a seguir. Mas não é assim. É uma lista dinâmica. Os critérios que definem quem vai receber o órgão são únicos em cada doação e dependem exatamente da condição clínica e das características do receptor”, ressalta a médica.
Ela complementa exemplificando que se acontecerem três doações de coração em um único dia, para cada uma dessas doações será gerada uma lista. Isso porque, cada um desses órgãos terá características específicas e é preciso encontrar um receptor que tenha as mesmas características. Ou seja, tanto quem doou, quanto quem vai receber o órgão precisa ter a mesma tipagem sanguínea, peso e altura semelhantes.
“Isso acontece porque ninguém é igual a ninguém e, cada critério daquele doador vai gerar uma lista muito específica”, a especialista diz.
Junto a essa análise das características ainda entra o critério de prioridade. O primeiro fator é a inclusão na lista, então, em geral, quem foi incluído antes na lista, tem preferência para receber o órgão primeiro. Porém, caso haja algum paciente com doença considerada mais grave, essa pessoa terá prioridade. Além disso, crianças também têm espera prioritária nesses casos.
Ainda é preciso lembrar que as listas são regionalizadas, isto é, depende da distância entre o doador e o receptor. O principal motivo para isso ocorrer é que a janela de tempo entre a cirurgia de retirada do órgão e a cirurgia para transplantá-lo é curta. Para o coração e o pulmão, ela é de apenas quatro horas, já para o fígado, é de oito horas, e para o rim, é de 24 horas. Então, esses são os tempos máximos, que a equipe médica tem para realizar todo o processo, desde a retirada, transporte, preparo do receptor e o procedimento de transplante.
“Não é possível falarmos em uma média de tempo que uma pessoa fica na fila de transplante. Mas, é certo que quanto mais doadores nós tivermos, menor será o tempo de espera”, a Dr.ª Daniela afirma.
É importante mencionar que a tramitação da doação de órgãos, no Brasil, é toda feita via Sistema Único de Saúde (SUS). Ou seja, não tem como pagar ou acionar o plano de saúde para garantir o órgão. Agora, o transplante em si, esse sim pode ser feito via sistema público ou privado de saúde.
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Quem pode ser um doador de órgão
Qualquer pessoa que faleceu devido à morte encefálica pode ser uma doadora de órgãos. Mas, para que isso aconteça, a família desse indivíduo precisa saber que ele tinha o desejo de ser um doador.
Somente após confirmação da morte encefálica que a família é questionada se aquela pessoa tinha vontade de ser doadora e, a família respondendo que sim, dá-se início a todo o processo.
É importante saber que os únicos transplantes que podem ser realizados em vida são o de rim, pedaço do fígado, sangue e o de medula óssea. Entretanto, o transplante de medula óssea (TMO) não é considerado um transplante de órgãos, mas sim de células, já que é feita a retirada das células-tronco.
Para se tornar um doador de medula óssea basta:
– Se cadastrar no REDOME no hemocentro
– Ter entre 18 e 35 anos
– Estar com boa saúde
– Não ter nenhuma doença impeditiva para cadastro e doação, como HIV/AIDS, hepatite C e câncer (veja a lista completa aqui).
Quem tem câncer pode ser doador de órgãos?
De acordo com a Dr.ª Daniela, em geral, os pacientes não podem ser doadores devido ao risco de transmissão da doença ao receptor. Mas, há três tipos de câncer que não são impeditivos para a doação, são eles: tumor primário do Sistema Nervoso Central, carcinoma in situ de útero e pele.
Apesar de haver a restrição para a doação de órgãos e tecidos, os pacientes de quase todos os tipos de câncer podem ser doadores de córnea. O motivo para essa possibilidade é que a córnea, na verdade, é um tecido e não recebe vascularização. Como as células do câncer se espalham pelos vasos e corrente sanguínea, elas não chegam até a córnea.
Porém, a Coordenadora Geral do Sistema de Transplante do Ministério da Saúde alerta que “determinados tipos de câncer são sim contraindicações para a doação de córnea como: doenças hematológicas como linfomas ativos disseminados ou leucemias, retinoblastoma e tumores do segmento anterior do olho. ”
Quem tem câncer pode doar sangue?
Apesar de ser necessário que mais pessoas se tornem doadoras, pacientes que têm ou tiveram a doença não são considerados…
Quem tem câncer pode receber um transplante?
O transplante não tem o objetivo de tratar uma neoplasia – como falado anteriormente, ele visa substituir um órgão que não está funcionando – por isso, esse procedimento não pode ser realizado como tratamento do câncer.
A médica ainda fala que outra preocupação é que, quem recebe um órgão, precisa tomar imunossupressores continuamente, “o que possibilitaria a reincidência do tumor. ”
Segundo a Dr.ª Daniela Salomão, a única exceção prevista na Lei é no caso de câncer primário do fígado ou em pacientes com metástases hepáticas de tumor neuroendócrino irressecáveis, com tumor primário já retirado ou indetectável e sem doença extra-hepática detectável
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Uma pessoa com linfoma folicular pode realizar transplante de córnea?
Olá, Heloisa, como vai?
Em geral, pacientes que têm linfomas ativos disseminados não podem ser doadores de córnea. Como o linfoma folicular é indolente, pode ser que, dependendo do estadiamento, o paciente possa sim ser um doador.
Seria importante conversar com o médico para verificar se nesse caso específico o paciente pode ser um doador.
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