Mieloma múltiplo tem cura?
Última atualização em 2 de maio de 2024
A expectativa de vida dos pacientes varia de acordo com a heterogeneidade da doença, comorbidades da pessoa e acesso aos tratamentos
Após serem diagnosticados com esse câncer, é natural que os pacientes queiram saber se o mieloma múltiplo tem cura. Apesar da resposta para essa dúvida ser “não, essa não é uma doença curável”, isso não significa uma sentença negativa, pois, em muitos casos, esse câncer pode ser controlado. Inclusive, com os avanços na Medicina, atualmente os pacientes conseguem viver por mais tempo e ter uma melhor qualidade de vida.
Antes de entender sobre a cura do mieloma múltiplo (MM) e da qualidade de vida dos pacientes, é fundamental entender que este é um câncer bastante heterogêneo. Isso significa que seu comportamento varia muito de caso para caso.
“O mieloma não é uma doença só, ele tem um comportamento muito diferente de acordo com cada paciente e uma resposta ao tratamento também de acordo com cada um. Eu diria que ele é uma das doenças oncológicas mais heterogêneas”, pontua Dr. Renato Centrone, hematologista pela Faculdade de Medicina da USP, do Grupo DASA Oncologia e membro do GBRAM (Grupo Brasileiro de Mieloma Múltiplo) e da IMS (Internacional Myeloma Society).
Por esse motivo, não é possível afirmar que a jornada de todos os pacientes será de determinada forma, que certa coisa irá acontecer ou que a expectativa de vida tem um tempo padrão. Cada caso e cada paciente deve ser avaliado individualmente pelo seu médico para que o profissional possa analisar as especificidades daquela pessoa e passar orientações e informações direcionadas.
Mieloma múltiplo tem cura?
De maneira geral, não, o mieloma múltiplo não tem cura. Mas, isso não significa que o paciente virá a óbito ou que irá sofrer. Hoje em dia, é possível controlar esse câncer por meio de comprimidos diários, transformando-o em uma espécie de doença crônica.
O motivo para não ser possível afirmar que o MM tem cura é porque essa doença tende a voltar (recidivar).
“Tem pacientes que respondem bem ao tratamento e vão ficar longos períodos em remissão – sem atividade da doença – mas, em algum momento, a gente sabe que a doença pode voltar. Então, tecnicamente, ainda é considerado uma doença incurável”, o Dr. Centrone explica.
Mas, o fato de não ser curável não significa que não há o que fazer e que acontecerá um desfecho negativo. Para a maioria dos casos, desde a aprovação de medicamentos como a talidomida e a lenalidomida, significa tomar a medicação de forma contínua e realizar acompanhamento médico periódico.
A única opção de tratamento para mieloma múltiplo que permite a interrupção dos medicamentos é o transplante de medula óssea autólogo (TMO autólogo). Esse procedimento não promove a cura da doença, mas gera uma melhora da resposta, podendo permitir a interrupção dos remédios.
Porém, atualmente, o mais comum é que o paciente faça uso contínuo das medicações, porque, dessa forma, é possível aumentar o tempo sem recidivas e melhorar a qualidade de vida. Sendo que, durante o período em que a doença está em remissão, é possível que a pessoa não apresente nenhum sintoma.
Mesmo quando o MM está controlado, é fundamental manter as terapias e o acompanhamento médico conforme indicado. De acordo com o especialista, “quando a doença está sob controle, monitoramos se não aparece uma nova lesão óssea ou se não há um aumento do pico monoclonal. Nesse período, sim, o paciente pode ficar sem sintomas. Mas, esse monitoramento é importante para descobrirmos a recaída da doença o mais rápido possível.”
Radioterapia para mieloma múltiplo: abordagem e objetivos
Esse tratamento, geralmente, é realizado em conjunto com outras terapias e tende a não causar efeitos colaterais significativos
Expectativa de vida para pacientes com mieloma múltiplo
É importante reforçar que o MM é uma doença bastante heterogênea e não há uma única resposta que valha para todos os pacientes. O tempo de sobrevida depende de vários fatores, porém, no geral, hoje a projeção de mediana de sobrevida está em torno de sete a dez anos.
“Temos que ter muito cuidado ao falar em expectativa de vida no mieloma múltiplo. Hoje, de fato, podemos dizer com segurança que conseguimos alcançar mais tempo de controle da doença (que é a sobrevida livre de progressão) e também mais tempo vivo (sobrevida global). Há 15 anos, a sobrevida não passava de três anos e atualmente a projeção de mediana de sobrevida é em torno de sete a dez anos”, o especialista diz.
Há três principais fatores que impactam na sobrevida dos pacientes. São eles:
Heterogeneidade da doença
Por conta das diferentes formas que o MM pode se apresentar, as respostas ao tratamento tendem a variar. Então, pode acontecer de dois pacientes submetidos a mesma terapia terem a mesma resposta, mas apresentarem recaídas em tempos diferentes, ou seja, uma recidiva mais precoce e outra mais tardia.
Além disso, cada pessoa pode manifestar a doença de uma forma e apresentar sintomas diferentes, também impactando no resultado do tratamento.
“Tem pacientes que têm manifestações ósseas, anemia, manifestações renais ou todas ao mesmo tempo. Tem paciente com doença extremamente agressiva e que responde pouco ao tratamento, mas tem paciente com começo mais indolente e que responde melhor ao tratamento. Também é preciso avaliar se o paciente tem, por exemplo, uma insuficiência renal, se ele precisa de diálise, ou não, se ele tem uma lesão óssea que tem uma fratura e causa dor e limitação funcional. Tudo isso impacta em uma sobrevida diferente”, o doutor esclarece.
Comorbidades do paciente
Além de ressaltar as possíveis variações da própria doença, o Dr. Centrone salienta que o mieloma tende a afetar pessoas mais idosas e que, geralmente, possuem outras comorbidades, o que também impacta no desfecho.
“A mediana de idade ao diagnóstico no mundo é cerca de 69 anos e, no Brasil, um pouco mais jovem, cerca de 63 anos. Então às vezes o paciente com muita idade tem outras doenças associadas, outras comorbidades, e aí pode acontecer de vir a falecer por conta dessas outras causas”.
Acesso aos tratamentos
O último fator que também impacta na sobrevida é o acesso aos medicamentos, já que há uma diferença entre as terapias disponibilizadas no Sistema Único de Saúde e no sistema privado.
Avanços na cura do mieloma múltiplo
Há uma série de terapias em desenvolvimento ou que foram recém-aprovadas que possibilitam um maior tempo de controle do MM. Dentre eles estão o anti-CD38, os imunomoduladores, os inibidores de proteassoma, os anticorpos bi-específicos e o CAR-T Cell.
Vale pontuar que esses tratamentos podem ser realizados, inclusive, em pacientes mais idosos e que tenham mais comorbidades. Isso porque essas novas terapias tendem a causar efeitos colaterais mais toleráveis que a quimioterapia convencional.
“Estamos acompanhando agora o lançamento de CAR-T. Já tivemos uma aprovação recente para leucemia linfoide aguda e para linfoma não-Hodgkin e, agora, estamos com a aprovação para MM. São terapias extremamente promissoras, que estão trazendo esperança para pacientes que foram submetidos a várias linhas de tratamento e eu acredito que, cada vez mais, vamos usar essas terapias precoces na medida que elas forem aprovadas”, o Dr. Renato Centrone diz.
Ele ainda finaliza compartilhando que “nós, como médicos, ficamos contentes de poder ofertar cada vez mais terapias para esses pacientes, impactando em qualidade de vida, em tempo de sobrevida e, quem sabe, em uma possível cura”.