HIV e linfoma: qual a relação e como tratar
Última atualização em 18 de abril de 2024
Ter o vírus da imunodeficiência humana (HIV) é um fator de risco para esse câncer. Nesses casos, a principal preocupação é a queda na imunidade
HIV e o linfoma estão ligados porque pessoas que são contaminadas por esse vírus têm uma maior chance de desenvolver esse tipo de câncer. Isso não quer dizer que todos os pacientes soropositivos terão essa neoplasia maligna, muito pelo contrário, é uma minoria, mas pode acontecer. Nesses casos, é necessário ter uma atenção maior à imunossupressão e tratar ambas as doenças.
A Drª. Talita Maira Bueno da Silveira, médica hematologista do A.C. Camargo Câncer Center, explica que as pessoas soropositivas para HIV possuem um maior risco de desenvolver qualquer doença linfoproliferativa, como é o caso do linfoma.
Isso acontece porque esse tipo de vírus é linfotrópico, ou seja, ele invade os linfócitos. Com isso, o linfócito fica mais propenso a sofrer mutações genéticas e se transformar em uma célula maligna.
“Não só o HIV, mas alguns outros vírus, como Epstein-Barr (EBV) são linfotrópicos. Então, são vírus que aumentam a chance do paciente desenvolver doença linfoproliferativa”, a Drª. Talita comenta.
Ser soropositivo significa que a pessoa é portadora do vírus HIV, ele se manifestando ou não.
A médica ressalta que, apesar de aumentar as chances, a probabilidade do HIV causar um linfoma ainda é baixa. Porém, quando comparado à chance da população em geral, há um aumento significativo. Por esse motivo, é importante que pacientes soropositivos fiquem atentos aos sintomas de linfoma para poder diagnosticar a doença precocemente. Os principais sinais são:
- Linfonodos aumentados
- Febre
- Suor noturno excessivo e
- Coceira na pele
A médica conta que o mais comum é o HIV estar relacionado com o linfoma não-Hodgkin, principalmente o linfoma de Burkitt e o linfoma difuso de grandes células B.
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Tratando HIV e linfoma
Atualmente, com o avanço na Medicina, ambas as doenças podem ser tratadas, até mesmo, ao mesmo tempo. Em muitos casos, o linfoma pode ser curado e o HIV controlado. Inclusive, o uso da terapia antirretroviral altamente ativa, usada para tratar o vírus, ajuda os pacientes a tolerarem melhor os tratamentos oncológicos.
De acordo com a Drª. Talita, tanto os pacientes que possuem o vírus, quanto os que não foram contaminados recebem o mesmo tratamento de linfoma. A única diferença é que se o HIV e o linfoma forem diagnosticados ao mesmo tempo, o médico pode optar por iniciar tanto a quimioterapia, quanto o antirretroviral ao mesmo tempo.
“O principal cuidado que você tem que ter é para entender quanto imunossuprimido o paciente soropositivo está. Esse é o detalhe mais importante e relevante”, ela pontua.
Isso acontece porque quando o paciente está com o vírus no corpo há algum tempo e não sabe ou ainda não iniciou o tratamento, a quantidade de linfócitos T-CD4 tende a cair. Então, quanto menor o número dessas células no corpo, mais fraca fica a imunidade da pessoa e mais imunossuprimida ela é.
A especialista salienta que a queda na quantidade de linfócitos é mais importante que a presença do vírus em si.
“A gente tem que avaliar de forma objetiva exatamente isso e tentar, com o uso das medicações antivirais associadas à quimioterapia, melhorar esse padrão imunológico da pessoa. Assim, tentamos diminuir a carga viral e recuperar alguns linfócitos T. A única coisa que realmente importa é como estão exatamente esses CD4, as células invadidas pelo vírus, que o paciente tem.”
Vale saber que o tratamento para o linfoma tende a variar de acordo com o subtipo, o estadiamento do câncer e condições de saúde gerais do paciente. Mas, o mais comum, é utilizar quimioterapia, radioterapia e, às vezes, imunoterapia.
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É possível curar o linfoma?
A soropositividade não interfere no prognóstico do linfoma. “Então, as mesmas chances de cura que um paciente soronegativo tem, o soropositivo também tem. Inclusive, a estratégia de tratamento é absolutamente igual, ele pode ser submetido a todas as modalidades de tratamento que um soronegativo é”, a Drª. Talita esclarece.
Porém, é válido reforçar que a imunossupressão é uma das principais preocupações e pontuar que ela pode interferir no resultado da terapia. Quando o sistema imunológico de uma pessoa está enfraquecido, ela tem uma maior probabilidade de contrair infecções e desenvolver quadros mais graves.
No caso de pessoas que são portadoras do HIV e têm linfoma, a imunossupressão pode vir tanto pela presença do vírus, quanto do câncer e da quimioterapia. Então esses indivíduos podem ficar com a imunidade bem fraca, facilitando a instalação de doenças oportunas.
Por esse motivo, é preciso ter uma atenção especial à imunidade do paciente. Entretanto, fora isso, todas as recomendações e cuidados são os mesmos.
“Ser soropositivo, hoje em dia, é ser portador de uma doença crônica e, não necessariamente, precisar ter cuidado adicional. Não há nenhuma restrição, todas as recomendações dos pacientes em tratamento são iguais”, A Drª. Talita Maira Bueno da Silva comenta.
Entenda mais sobre o HIV e a AIDS
O HIV é um vírus sexualmente transmissível, que ataca o sistema imunológico, especialmente os linfócitos T-CD4, responsáveis por comandar a resposta imune. Ao infectar uma pessoa, o vírus se liga a esses linfócitos para se multiplicar.
Conforme o HIV vai se replicando e avançando, o sistema imunológico começa a enfraquecer até não conseguir mais combater outros agentes infecciosos. Quando esse quadro ocorre é que a Aids (síndrome da deficiência imunológica adquirida) acontece.
Portanto, a diferença entre HIV e Aids, é que o HIV é o vírus e a Aids a doença provocada.
Mas, nem todo paciente com HIV soropositivo terá Aids. Quando a pessoa é contaminada, passa a ser soropositiva, mas os soropositivos podem viver anos com o vírus sem desenvolver a doença e ter sinais e sintomas de Aids.
A terapia é feita por meio dos medicamentos antirretrovirais, que tem como objetivo diminuir a multiplicação do vírus no corpo, mantendo-o sob controle e recuperando as defesas do organismo.
Esses medicamentos são disponibilizados gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde, bem como o teste de HIV, para monitorar a carga viral periodicamente. É recomendado que os testes de HIV sejam realizados pelo menos 3 vezes ao ano, pois assim é possível ajustar o tratamento, caso haja necessidade, evitando possíveis complicações.
Para que o tratamento dê certo, o paciente não pode se esquecer de tomar os remédios ou abandoná-los. Por seguirem a terapia corretamente, a carga viral de muitas pessoas que vivem com o vírus fica indetectável. Isto é, há menos de 40 cópias de vírus por mililitro de sangue e, se um paciente soropositivo está com carga viral indetectável há pelo menos um ano e fizer o teste de HIV, o resultado tem muitas chances de ser negativo.
Mesmo em tratamento, a pessoa com Aids pode e deve levar uma vida normal, sem abandonar a sua vida afetiva e social. Ela deve trabalhar, namorar, beijar na boca, transar (com camisinha), passear, se divertir e fazer amigos.
As principais formas de contágio e transmissão do HIV são:
- Ter relações sexuais sem usar preservativo
- Receber transfusão de sangue contaminado
- Compartilhar instrumentos perfurocortantes sem esterilizar antes, como seringas e alicates de unha
- Da mãe para o filho durante a gravidez, o parto e a amamentação
Por isso, a melhor forma de evitar a transmissão do vírus é por meio do uso de preservativo durante a relação sexual e não compartilhando instrumentos perfurocortantes.
No primeiro dia de dezembro é celebrado o Dia Mundial de Combate à Aids, uma data voltada para que o mundo una forças para a conscientização sobre a doença.
O tema da campanha de 2022 foi “Equidade já”, com foco na prevenção, assistência e proteção dos direitos das pessoas que têm o vírus.
Na divulgação da campanha, a UNAIDS declarou que “esse é um um convite para que todos nós ponhamos em prática as ações efetivas necessárias para combater as desigualdades e, assim, ajudar acabar com a AIDS.
Estas ações incluem:
- Aumentar a disponibilidade, qualidade e adequação dos serviços para o tratamento, testagem e prevenção do HIV, a fim de que todas as pessoas sejam bem atendidas.
- Reformar leis, políticas e práticas para superar o estigma e a discriminação experimentados pelas pessoas que vivem com HIV e Aids e das principais populações marginalizadas, para que todas as pessoas sejam respeitadas e atendidas de forma correta e respeitosa.
- Assegurar o compartilhamento de tecnologias para possibilitar o acesso equitativo das comunidades e diferentes regiões de países desenvolvidos, e de baixa e média renda ao melhor da ciência relacionada ao HIV.
Dados do UNAIDS sobre a resposta global ao HIV revelam que durante os últimos dois anos, pontuados pela COVID-19 e outras crises globais, o progresso da resposta à pandemia da Aids tem falhado e os recursos têm diminuído. Como resultado, milhões de vidas estão em risco”.