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Como lidar com o câncer na gravidez?

Mulher descobrindo câncer na gravidez
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Última atualização em 25 de maio de 2023

É preciso conversar com a equipe médica para entender os riscos e saber como seguir com ambos

Escrito por: Natália Mancini

Descobrir um câncer na gravidez, ou então descobrir que está grávida durante o tratamento oncológico, pode ser um momento assustador. Até há alguns anos, de forma alguma essas duas situações poderiam acontecer ao mesmo tempo. Mas, atualmente, os estudos mostram que é possível manter a gravidez e tratar a doença, dependendo do caso. Certos medicamentos e técnicas devem ser evitados e os riscos devem sempre ser avaliados pelo oncologista, para decidir qual a melhor estratégia.

O câncer de mama e o de colo do útero são os tipos de neoplasias mais comuns de serem diagnosticados ao longo da gravidez – até por serem alguns dos mais frequentes nas mulheres. 

A Drª. Daniela Martins, mastologista do Hospital Santa Catarina, comenta que a recomendação de não engravidar durante o câncer está em transição. Ou seja, não é mais uma proibição tão exata, como era antigamente. 

Isso acontece porque, de acordo com o Dr. Pedro Exman, oncologista do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, não é mais tão perigoso por conta das diversas opções terapêuticas que existem hoje em dia.

O que acontece se a mulher engravidar com câncer é que será necessário adaptar o tratamento, escolhendo o momento mais adequado para tratar e optando por medicamentos e técnicas que não representem riscos tanto para a paciente, quanto para o bebê.

Descobrir um câncer na gravidez

Durante muito tempo, diagnosticar um câncer durante a gestação era significado de ter que interromper a gravidez para cuidar da doença. Mas isso mudou, conta o Dr. Exman.

“Um princípio básico é manter a gestação sempre que não há risco, primeiro para a mãe e, em segundo, para o bebê. Em casos em que existe, de fato, um risco grande de vida para a mãe, aí sim discutimos, de forma legal, interromper a gestação”, ele explica.

Mulher descobrindo câncer na gestação

A Drª. Daniela complementa que, na maior parte dos casos, é possível sim manter a gravidez. São raras as vezes em que é necessário interrompê-la. 

“No Brasil, só temos autorização legal para interromper a gestação para tratamento quando há risco iminente de morte para a mãe, caso aquele tratamento não seja realizado. Essa situação nós só encontramos em casos graves de doença metastática com necessidade de se utilizar drogas quimioterápicas contraindicadas na gestação”, ela esclarece.

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Exames para câncer na gravidez

Em geral, não há exames que são totalmente proibidos, mas não se deve utilizar contraste. Então, a ressonância magnética está autorizada, porém é preciso fazê-la sem esta técnica. 

Já a mamografia e a ultrassonografia estão liberadas e podem ser solicitadas diante da suspeita do câncer ou para acompanhá-lo.

Mulher fazendo ultrassom para gravidez

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Tratamento de câncer na gestação 

Há alguns pontos importantes que devem ser avaliados pelos oncologistas para entender qual o melhor protocolo terapêutico para a paciente. O primeiro ponto é em qual momento a gestação está, por exemplo, se é o primeiro trimestre, segundo ou terceiro. Outro fator são as opções de medicamentos disponíveis e até mesmo se seria indicado, ou não, realizar uma cirurgia oncológica. Tendo todas essas informações, é definido como seguir.

Mulher na médica falando sobre tratamento de câncer na gestação

O momento certo para o tratamento

“O tempo de início do tratamento é fundamental”, o Dr. Exman afirma.

Ele informa que, geralmente, não se deve tratar pacientes que estão no primeiro trimestre da gestação, porque a placenta, que faz a proteção do feto, ainda não está totalmente formada. 

Quando pode fazer tratamento de câncer na gestação

 “A boa formação da placenta ocorre após o primeiro trimestre e é um fator fundamental para o início do tratamento oncológico. Isso acontece porque é ela que evita a exposição do bebê à quimioterapia.”

Quimioterapia na gravidez

Há algumas drogas quimioterápicas que podem ser utilizadas e há outras que não devem entrar no protocolo. Isso acontece porque alguns medicamentos podem ultrapassar a proteção da placenta e chegar até o feto, mesmo depois de ela estar completamente formada.

Mulher grávida fazendo quimioterapia

A Drª. Daniela exemplifica que uma das drogas que não pode ser administrada nessas situações é o metotrexato, devido ao fato de ele ser teratogênico e ter risco de causar malformações graves.

“O esquema mais estudado e mais utilizado é o com antracíclicos e taxanos”, ela informa.

Radioterapia na gravidez

Radioterapia na gravidez

O Dr. Exman alerta que esse é um tratamento que é totalmente contraindicado durante toda a gestação, por risco da malformação. 

Segundo a Drª. Daniela, a única exceção são os casos de “cânceres metastáticos dramáticos”. Por exemplo, um tumor no sistema nervoso central, mas é indispensável colocar uma proteção abdominal para realizar a radioterapia.

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Cirurgia oncológica durante a gestação

O procedimento cirúrgico é considerado seguro e pode ser realizado – o único ponto que precisa de cuidado é a utilização da anestesia em gestantes. Além disso, caso o câncer esteja próximo ao útero, também é preciso estar atento, mas não é, necessariamente, um impedimento.

Quem está grávida pode fazer cirurgia

O único impedimento para a cirurgia oncológica é caso o câncer seja no útero.

Leucemia na gravidez

Como a leucemia, e os outros cânceres hematológicos, afetam a paciente de uma forma sistêmica, “as repercussões da doença e do tratamento afetam mais o corpo todo e não apenas um órgão isolado”, a Drª. Daniela pontua. 

Exame de sangue com leucemia

Então, a decisão de como realizar a terapia depende do tipo de leucemia, se é aguda ou crônica, e em qual momento a gestação está, se início ou fim.

“Por exemplo, em casos de leucemia aguda e gestação inicial, pode ser necessária a interrupção da gestação, já que a terapêutica pode causar malformações graves ao feto”, a médica fala.

Mas, se for possível utilizar outro tipo de medicamento, que não traga riscos para a mãe e para o bebê, a gravidez pode ser mantida.

No caso da leucemia mieloide crônica (LMC), as pacientes devem fazer uso dos inibidores de tirosina quinase (ITK) ao longo de toda a vida. Porém, não é indicado tomar esse remédio durante a gravidez, justamente porque ele pode causar aborto espontâneo ou interferir na formação do feto durante o primeiro trimestre de gestação. 

Mas, em casos de gravidez não planejada, o indicado é interromper o uso do medicamento imediatamente. 

Foi o que aconteceu com a  Itaciara Monteiro, que descobriu a LMC quando tinha nove anos de idade. Na época, os inibidores de ITK não eram o tratamento padrão, então Ita, como gosta de ser chamada, só começou a tomar a terapia quando completou 15 anos.

Aos 22 anos, ela engravidou. “Como minha LMC estava indetectável, decidi que seguiria com a gravidez. Eu queria ser mãe! E hoje, só tenho a agradecer por essa oportunidade e por ter enfrentado esse risco. Meu filho, Ian Monteiro Simões, tem 14 anos e é o amor maior que eu poderia sentir”, ela relembra.

Hoje, Ita é formada em Gestão de Marketing e também em Enfermagem. Atualmente, trabalha no Apoio ao Paciente Abrale, ajudando diversos pacientes que acabaram de receber o diagnóstico de um câncer, além de coordenar o Comitê de Pacientes e também o Programa Bem-Estar, da organização.

O câncer influencia no momento do parto?

Mulher dando à luz

“Não. A via de parto é obstétrica, não temos contraindicação de parto vaginal ou cesariana. É recomendado que o parto aconteça de duas a três semanas após o último ciclo de quimioterapia para diminuir as possíveis consequências de anemia, leucopenia ou plaquetopenia decorrente desse tratamento”, afirma a Drª. Daniela


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Eu tive leucemia ( LMA) com 20 semanas de gravidez . Procurei outros pacientes como eu, o que foi muito difícil de achar . Fiz dois ciclos de quimioterapia grávida.
Meu filho nasceu com 34 semanas de gestação.

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