Homem que faz quimioterapia pode ter filhos?
Última atualização em 5 de outubro de 2022
Esse tratamento é um impeditivo para a concepção, mas outros tipos de terapias oncológicas podem não ser. Entenda quais terapêuticas afetam a fertilidade masculina e como é possível preservá-la
Pesquisas mostram que o câncer tem se desenvolvido em pessoas cada vez mais jovens, inclusive nas que ainda estão em idade fértil. Por isso, é comum que surja a dúvida se o homem que faz quimioterapia pode ter filhos. E a resposta é: não, não pode, pelo menos não por meio de métodos naturais. Mas, existem algumas formas de preservar a fertilidade para realizar a fertilização in vitro durante ou após o tratamento.
O Dr. Sidney Glina, urologista do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que alguns tipos de câncer, por si só, podem causar a infertilidade masculina. Por exemplo, o tumor de testículo e as neoplasias malignas hematológicas, como os linfomas e leucemias. Isso acontece porque essas doenças produzem substâncias que podem ser prejudiciais à produção de espermatozóides.
Além disso, o médico diz que o tratamento oncológico, especialmente quando feito com quimioterapia à base de platina, também pode gerar a perda da fertilidade. O motivo que causa isso é porque essas duas terapias têm como alvo células que se reproduzem muito rapidamente, como acontece nas células oncológicas. Por conta das células que dão origem aos espermatozoides também se reproduzirem rapidamente, elas acabam sendo bastante afetadas.
“Assim, a fertilidade é prejudicada pois há uma diminuição intensa na produção, o que leva a uma diminuição da existência de gametas masculinos”, o Dr. Glina pontua. Outro ponto que também é afetado é o DNA do espermatozóide. Ele pode ser lesionado durante a intervenção terapêutica e isso, possivelmente, levaria a uma alteração genética na criança. Por esse motivo, não é recomendado que o homem conceba um(a) filho(a) nesse momento.
Todos os tratamentos contra o câncer causam infertilidade masculina?
De acordo com o urologista, algumas cirurgias, como a retirada do testículo e a retirada dos gânglios no retroperitônio, podem causar infertilidade. O mesmo pode acontecer quando o paciente é submetido a hormonioterapia, sendo que, nesses casos, ainda pode ocorrer a perda de libido e disfunção erétil.
Já no caso da terapia-alvo, por esse método agir em fatores específicos da célula do câncer, ele tende a não afetar o DNA dos gametas masculinos. Por exemplo, como acontece com os inibidores da tirosina-quinase, muito utilizados no tratamento da leucemia mieloide crônica.
Entretanto, esse medicamento pode causar diminuição na quantidade de espermatozóides, bem como alteração na sua forma e motilidade. Portanto, é preciso que o paciente converse com seu(sua) médico(a) para avaliar se é seguro e viável conceber um filho.
A radioterapia, se realizada próxima aos testículos, local onde os espermatozóides são produzidos, também pode impedir a concepção natural.
Pessoas com leucemia crônica podem ter filhos?
O tratamento para esse tipo de leucemia pode ser prejudicial para mãe e para o feto. Mas, em alguns casos,…
Quem já fez quimioterapia pode ter filhos?
“O mais seguro é esperar dois anos para tentar uma gestação. Nós sabemos que nos casos onde há alteração da produção de espermatozóides (espermatogênese) pelos tratamentos, em quase 50% há recuperação desta produção”, o Dr. Glina orienta.
Para saber se a fertilidade foi restabelecida, o ideal é fazer alguns testes. O principal exame para saber se o homem pode ter filhos é o espermograma, uma análise laboratorial. Nela, é avaliado se a quantidade e qualidade dos espermatozóides estão adequadas ou se há alguma alteração.
Entretanto, o urologista reforça que, especialmente tratamentos feitos com quimio e/ou radioterapia, podem gerar problemas permanentes. Por esse motivo, o mais indicado é fazer a preservação da fertilidade em todos os casos.
Preservação da fertilidade masculina
A opção mais utilizada é a criopreservação do sêmen, um processo que realiza o congelamento dos espermatozóides. Assim, caso o paciente perca a possibilidade de conceber naturalmente, eles podem ser utilizados para uma inseminação ou fertilização in vitro.
O Dr. Glina esclarece que esse método pode ser realizado sempre que for possível esperar de quatro a cinco dias para iniciar o tratamento oncológico. Ou seja, em casos de leucemias graves, por exemplo, nos quais é preciso iniciar a terapia com urgência, pode não ser possível fazer o congelamento.
“É importante lembrar que sempre se deve fazer o congelamento antes de iniciar o tratamento. Isso acontece porque apenas uma aplicação de radioterapia ou quimioterapia já pode alterar o DNA dos espermatozoides existentes, o que pode comprometer o uso da amostra depois”, ele complementa. Sendo que, geralmente, são coletadas duas ou três amostras de esperma.
No caso de pacientes homens que ainda não passaram pela puberdade, a criopreservação não é considerada uma opção. Como o testículo só começa a produzir os espermatozóides nessa época, quando o câncer acontece antes disso, não é possível fazer a preservação desses gametas.
“Nestes pacientes mais jovens é possível retirar as células espermáticas (precursoras dos espermatozóides) jovens e congelá-las. Essas células não são espermatozoides e não têm capacidade de fertilizar. Então precisam passar por um amadurecimento no laboratório para virarem espermatozoides”, o Dr. Sidney Glina afirma.
Entretanto, ele contrapõe que ainda não há um método totalmente seguro e efetivo para realizar esse processo e que, na maioria dos países, a criopreservação das células precursoras ainda é experimental.