Não se entregue! O caminho da luta contra o câncer
Última atualização em 29 de julho de 2021
No câncer, cada um tem que encontrar seu caminho sem esmorecer, usando da melhor forma possível os momentos de vitalidade
Lidar com o impacto do diagnóstico de um câncer pode ser mais difícil do que tratar com sucesso a doença. Nessa hora, é importante não subestimar nem o choque de se receber a notícia, tampouco o desafio de enfrentar essa nova situação de vida. “O câncer ainda é um tema tabu. Por isso, é importante que a pessoa tome conhecimento de todo o processo de seu tratamento”, explica a psicóloga Agnes Sewo, da ABRALE. “Só assim ela pode ter uma postura mais ativa no que se refere às suas decisões.”
Não existe fórmula. Cada um tem que encontrar seu caminho, sem se entregar, usando da melhor forma possível os momentos de vitalidade. O principal vem da cabeça. Problemas todos têm, com ou sem câncer, ordinários e extraordinários. O segredo é encontrar os melhores meios para enfrentá-los, sabendo exatamente do que se trata, sem distorções ou exageros.
Problemas todos têm, com ou sem câncer, o segredo é encontrar os melhores meios para enfrentá-los
De acordo com a psicóloga da ABRALE, o suporte tanto de uma equipe multiprofissional como da família é essencial para uma pessoa com câncer passar por esse momento de maneira mais segura. A espiritualidade também pode ser uma ótima aliada nessa caminhada. Existem maneiras adequadas para se assimilar o baque da doença sem sucumbir à desesperança. “O medo, a insegurança e a dúvida são reações que podem surgir em qualquer momento durante o tratamento, com mais ou menos intensidade, mais ou menos frequência”, diz Agnes Sewo. “Receber o atendimento psicológico é de grande valia. O profissional vai poder escutar o paciente e acolher o que ele e seus familiares necessitam”. Na prática, o psicólogo poderá fortalecer os aspectos emocionais do paciente e da família, para que possam enfrentar essa situação de modo mais confiante.
Além do diagnóstico, a vida continua
É importante lembrar sempre de que, não é porque o câncer entrou no seu caminho, que a família, o trabalho e os amigos deixaram de existir! É fundamental continuar “tocando” as coisas da melhor forma possível – e o acompanhamento psicológico costuma ser útil para isso. “O profissional pode auxiliar o paciente a olhar para a sua vida por uma nova perspectiva. Sua rotina mudou, seus horários, seu lazer… Então, é importante que o paciente tenha ajuda de um profissional para poder se adaptar e se reorganizar diante dessa nova fase”, diz a especialista.
Seja ativo e independente
A atitude do paciente tem um papel decisivo durante o tratamento da doença. É muito importante que ele possa ter uma postura ativa e independente. “Para que saiba o que está acontecendo durante o tratamento e faça suas escolhas, é fundamental que ele tenha uma boa relação
com a equipe que o acompanha”, diz Sewo. “Ele deve procurar fazer perguntas e sanar suas dúvidas sobre qualquer assunto de saúde, para que possa ter atitude frente ao seu tratamento”.
O pensamento e o comportamento têm relação entre si, muitas vezes de causa e efeito. Existem variáveis que podem influenciar no modo como alguém se enxerga, principalmente, em se tratando de um período delicado com o tratamento oncológico. “A autoestima e a autoconfiança estão relacionadas com um processo mental, um raciocínio que foi construído ao longo da vida da pessoa. O modo como ela se vê é de suma importância no decorrer do tratamento, pois poderá influenciar em questões emocionais significativas”, diz a psicóloga da ABRALE. “É importante que o paciente entenda o tipo de diagnóstico que recebeu e seus sintomas mais específicos. Ter acesso às informações sobre o tratamento é uma das bases para que fique mais seguro, pois, assim, terá ciência do que está acontecendo”.
Enfim, viver o momento presente nem sempre é fácil, mesmo para quem não é portador de uma doença. Para quem tem câncer pode ser ainda mais difícil. “Quando se recebe a notícia da doença, muitos pensamentos e emoções surgem associados ao diagnóstico, ao tratamento, ao passado e ao futuro”, diz Agnes Sewo. “Daí a importância do acompanhamento psicológico, que pode ajudar a pessoa a trabalhar a questão do tempo, se apropriando
do momento atual da sua vida, e a encontrar caminhos para torná-lo o melhor possível, dando menos peso para preocupações e ansiedade do futuro ou para as memórias do passado”.
Eu tenho câncer e não desisto nunca
As histórias de quem não se entrega e segue em frente
Heloísa Orsolini, 36 anos, descobriu um linfoma não-Hodgkin de grandes células B em estágio IV.
“Me formei em Economia pela USP e, depois de formada, numa reviravolta meio doida, resolvi investir na carreira de modelo. Pensei: se não for agora, não vai ser nunca mais. Trabalhei como modelo dos 22 aos 28 anos em uma grande agência de São Paulo, morei fora do país e tive muitas experiências incríveis. Também me casei aos 26 anos, com o Marcelo, e morávamos em São Paulo quando, aos 28 anos, planejando uma transição de carreira e pensando no melhor momento para ser mãe, fui convidada a parar tudo: descobri um linfoma não-Hodgkin de grandes células B em estágio IV.
Lembro-me fortemente da minha certeza absoluta, desde sempre, de que iria me curar. Lembro-me também de ter sentido alívio por não precisar mais ser modelo e, nesse momento, percebi o quanto aquilo estava me fazendo mal.
O diagnóstico foi bem difícil, começando com uma trombose com a qual convivi por um mês sem saber. Foram mais dois meses, duas biópsias, 40 dias de internação, inúmeros exames, injeções e muitos médicos envolvidos, até o diagnóstico decisivo.
“O câncer ainda é um tabu”
Foram oito sessões de quimioterapia, de 21 em 21 dias, sem internação. Nesse período, de aproximadamente seis meses, tive muito apoio não só da minha família, do meu marido e de amigos, como de incontáveis pessoas que chegaram a mim por meio do blog que criei na época para dividir minha experiência. Queria dizer às pessoas que eu estava bem e extremamente confiante e, porque não, colocar um pouquinho de humor, leveza e muito amor na situação.
Terminei meu tratamento em maio de 2012. Um dos meus maiores sonhos sempre foi ser mãe. Depois de quatro meses monitorando, engravidei naturalmente da Mariana, meu primeiro milagrinho, que nasceu em novembro de 2014. Engravidei da Gabi quando a Má tinha 11 meses, também naturalmente. Ela nasceu em julho de 2016.
Nossa vida continua, mas estamos sempre lembrando, e a forma como usamos essa lembrança é o segredo de tudo!”
Nunca me deixei levar, nunca me assustei com a doença
Ilhens Pereira dos Santos, 53 anos, diagnosticado em 2002 com leucemia mielóide crônica. Nasceu e mora no Rio, é radialista aposentado do serviço público.
“Tive o diagnóstico de LMC aos 36 anos. Era muito novo, trabalhava. Minha filha tinha 3 anos, hoje, está adulta. Eu tinha uma vida normal, era coordenador da área onde trabalhava e podia ser diretor. No primeiro momento, foi como se o chão desaparecesse. Mas levantei a cabeça e sempre fui à luta. Nunca me deixei levar, nunca me assustei com a doença, nem nos piores momentos, naqueles mais difíceis, como aconteceu recentemente. Entrei no terceiro medicamento, que não deu certo, e não encontro doador de medula. Mas jamais deixei a peteca cair.
Tenho minha família e meu cachorro, o Oreo. Ele é a luz que Deus trouxe para mim, é muito importante. A alegria dele é a minha alegria. Em resumo, sempre tive a força para seguir, entendeu? Sem permitir que toda a dificuldade que a doença traz, os sustos, venham a mim. Sempre estou ali de cabeça erguida, acordo feliz, acreditando que o dia vai ser melhor do que o anterior, e vivo um dia após o outro, não penso o que vai ser amanhã. O amanhã a Deus pertence e a gente segue em frente.
Carrego comigo três palavras que começam com F: “Família, Força e Fé”. Família é a base de tudo. A fé em Deus para sempre acreditar no melhor. E a força
para poder continuar lutando e resistindo a tudo. Estar sempre bem para a guarda não baixar”.
Eu luto há cinco anos pela minha vida
Janaína Aparecida Santos Silva, 34 anos. Diagnosticada primeiramente com linfoma de Hodgkin (LH) e depois com linfoma não-Hodgkin (LNH).
“Tenho 34 anos. A doença que trato é um linfoma não-Hodgkin, inicialmente era um linfoma de Hodgkin. Hoje, tenho células Hodgkin e não-Hodgkin. Fiz um transplante em janeiro. Minha irmã doou a medula óssea para mim, 100% compatível, graças a Deus. Eu luto há cinco anos pela vida, fiquei sabendo do diagnóstico no final da gestação do meu filho Davi Lucas. Não foi fácil, não é fácil! Mas eu busco forças para lutar, primeiramente, em Deus, tento não perder a fé nem a esperança, e também luto pelo meu filho, né? Ele tem cinco anos e é quem me dá força. Já fiz vários tratamentos, participei de estudos, tive que ir atrás de medicamentos por meio de liminar e, atualmente, me recupero após o transplante. Fiquei 40 dias internada e, agora, graças a Deus, estou em casa”.
A gente quer falar sobre viver
Daniela Sottili Alves Pereira, 16 anos, estudante e pintora.
“Recebi o diagnóstico quando tinha 15 anos. Foi em 2 de janeiro de 2019. Imagine, já comecei o ano daquele jeito, né? Sou uma adolescente. Tinha uma vida normal… Dançava, fazia ginástica, ia pra escola, fazia Etec (escola técnica estadual) e acabei tendo que parar tudo por causa do tratamento. Tive que fazer quimioterapia, cirurgia, tomar sangue, tomar plaqueta. Hoje, depois de um ano de tratamento, sinto que vou me curar do câncer, mas, para falar a verdade, acredito que o câncer me curou. Porque agora me sinto tão feliz e tão contente comigo mesma. Eu amo tudo o que tenho, a vida que tenho, mesmo que seja simples… Eu amo estar com minha família, com meus amigos, eu amo viver.
Tem pessoas que acham que quem tem câncer só fala de doença, mas não, a gente quer falar da vida. A gente quer falar sobre viver. No decorrer do meu tratamento, comecei a fazer coisas que sempre tive vontade, com a ajuda de pessoas do hospital mesmo. Pintar telas sempre foi meu sonho, e foi o que fiz. Sempre gostei de arte e isso mudou minha vida. Comecei o Projeto Sou Girassol (@projetosougirassol) com um estúdio (Studio 21) e o hospital. Eles venderam camisetas com minhas telas e pude doar uma parte do dinheiro arrecadado para uma associação chamada APAS, que faz o transporte de crianças e adolescentes com câncer. Doei dois mil reais e consegui ficar com um dinheirinho para comprar umas coisas que sempre quis.
Tem sido algo muito gratificante, porque, com o dinheiro, também pude ajudar minha família. E muitas coisas vão acontecer ainda. Espero poder ajudar mais e mais minha família, enquanto eu estiver aqui.”
Daniela teve um tumor primário no braço, que se espalhou para o pâncreas, os rins e os pulmões. Com o tratamento, quase todos os tumores sumiram, ela só continua tratando o câncer de pulmão.
Alma de artista
É tocante o modo com o Daniela vê o câncer.
“Cada flor significa um nódulo do pulmão. Ao contrário, ele se transforma numa borboleta”.
Foi muito difícil. Mas fomos à luta!
Maria do Socorro Costa da Silva Santos, 57 anos, casada, dona de casa, mãe de dois filhos. Diagnóstico de mieloma múltiplo em maio de 2015.
“É uma luta, porque a pessoa que está com a doença sofre, mas a família todinha adoece também, né? Com a força de Deus, primeiramente, fomos à luta. Foi muito difícil, mas fomos à luta. Comecei a fazer o tratamento no hospital, passei quatro meses internada. Fiquei três meses sem andar, tudo era feito no leito. Depois, com muita fisioterapia, comecei a andar, mas ainda fiquei um tempo em cadeira de rodas.
Em 2016, fiz um transplante de medula óssea. Passei um tempo bem, com a graça de Deus, fazendo as consultas de retorno e os exames. Até que, em agosto de 2018, a doença voltou. Tive que fazer nove ciclos de quimioterapia. Terminei em agosto do ano passado e, agora em janeiro, voltei a fazer a quimioterapia. Continuo fazendo o tratamento e correndo atrás de um medicamento que dizem que é muito bom.
Tive que entrar na Justiça para conseguir, porque é caro. E estamos aí, na luta. Que Deus me dê força. Nessa hora, é muito bom ter uma religião, independentemente de qual seja. Sou católica e o catolicismo me deu muita força, só tenho a agradecer. E à minha família também. Mesmo morando longe, lá no Nordeste, sempre oraram por mim, e os meus amigos também. Temos que lutar com Deus, que deu a vida para gente. Então vamos lutar, até o dia que ele quiser. É assim. Muita gente passa por isso, não só eu. Tenho fé, cada dia que levanto agradeço a Deus por mais um dia e continuo a luta”.
O estresse pode causar um câncer?
Sentir medo de ter câncer é coisa do passado
Eu descobri meu cancer Leucemia Mieloide Crônica ao 28 anos e hoje estou com 40 anos
Quando descobri foi terrível achava que ia morrer e deixar minha filha
Mas com o passar dos dias vi que meus familiares e Deus estava comigo que não me desamparou em nenhum momento fui criando forças para seguir minha caminhada
Hoje graças a Deus vivo muito bem com a Doença ela me ensinou muita coisa que a vida não tem limites
Desistir jamais lutar sempre ❤️❤️
Olá, Meire, tudo bem?
Ficamos muito feliz em saber da sua história e saber que a senhora está bem e forte!
A senhora já conhece o trabalho da Abrale? Nós somos uma associação que auxilia pacientes com cânceres hematológicos, como a LMC, por meio de vários serviços totalmente gratuitos. Nós temos o Apoio ao Paciente, Apoio Jurídico, Apoio Psicológico e vários materiais informativos! Eu estou encaminhando seu e-mail para o Apoio ao Paciente e dentro de alguns dias devemos entrar em contato com a senhora para explicar melhor o nosso trabalho e também fazer o seu cadastro, caso desejar, para conseguirmos ter um contato mais próximo!
Abraços