Leucemia infantil: tratamentos e seus avanços
Última atualização em 17 de agosto de 2021
A leucemia linfoide aguda é a mais comum nas crianças e adolescentes. Devido às mudanças no tratamento, a chance de cura aumentou de 5% para 90%
É importante lembrar que, assim como qualquer doença, a LLA acontece de forma diferente no adulto e na criança. Então, os motivos para o câncer se desenvolver são diferentes, bem como os sintomas, o prognóstico e o tratamento.
O que é leucemia infantil?
Leucemia é um câncer que acontece na medula óssea e afeta os glóbulos brancos, que fazem a defesa do corpo. Essas células têm origem nas células-tronco e, durante o seu processo de diferenciação e amadurecimento, sofrem uma mutação e passam a se multiplicar mais rapidamente e de forma desordenada.
Os principais glóbulos brancos afetados são os linfoides, por isso do nome “leucemia linfoide aguda”.
Ela é considerada uma leucemia aguda pois as células doentes são jovens, também chamadas de células imaturas. Ou seja, elas não se desenvolveram completamente e isso faz com que a doença progrida com uma grande velocidade. Por isso é preciso estar atento aos sintomas e realizar o diagnóstico precocemente.
Sintomas de leucemia infantil
Os principais sinais e sintomas da leucemia infantil são:
–dor óssea
–febre
–palidez
-cansaço e sonolência
-hematomas
-infecções constantes
-dores de cabeça e vômito
Os sintomas da LLA são muito semelhantes aos de doenças benignas da idade, como viroses. Por isso é importante estar atento e procurar um médico caso eles persistam.
Como diagnosticar leucemia infantil?
O diagnóstico da LLA infantojuvenil é realizado por meio de uma série de exames. Um onco-hematologista, médico especialista em cânceres do sangue, analisa esses testes e confirma, ou não, a doença.
A suspeita de LLA é levantada, inicialmente, pelo hemograma da criança ou do adolescente, que mostra uma alteração nos níveis da hemoglobina e plaqueta e indicará a presença de blastos. Em seguida, é solicitado um mielograma, que utilizará uma gota de sangue da medula óssea para investigar e confirmar as alterações indicadas pelo exame de sangue.
Outros exames como a imunofenotipagem, para verificar as características das células, ultrassonografia, para avaliar o aumento do baço, e estudo do líquido da espinha (líquor), para saber se há células da leucemia no sistema nervoso central (SNC), são solicitados para confirmar o diagnóstico.
Qual a causa da leucemia infantil?
A Drª. Silvia Brandalise, médica, pesquisadora, fundadora e presidente do Centro Infantil Boldrini, explica que a ciência ainda não encontrou uma resposta para esclarecer o que causa a LLA. Além disso, também não há uma definição do motivo de ela ser o câncer infantil mais frequente.
“Também não sabemos qual seria a razão dos tumores cerebrais ocuparem o segundo lugar na incidência das neoplasias pediátricas. Estes dois tipos de cânceres correspondem a cerca de 50% dentre todos os cânceres que ocorrem nesta faixa etária”, ela pontua.
Como não se sabe o que causa essa doença também não há diretrizes definidas de como prevenir a leucemia infantil.
Tratamento para leucemia infantil
Atualmente, a poliquimioterapia, isto é, mais de um quimioterápico, é o principal tratamento para a LLA em crianças e adolescentes. Esse é um protocolo utilizado há alguns anos, entretanto algumas mudanças foram feitas. Dessa forma, foi possível oferecer uma maior sobrevida e qualidade de vida aos pacientes, visando, principalmente, os efeitos colaterais tardios.
“No Brasil, até o final da década de 70, o tratamento das leucemias em crianças era feito por hematologistas de adultos, sem o uso da Asparaginase. As taxas de sobrevida em 5 anos eram inferiores a 10%”, conta a Drª. Brandalise.
Em 1980 foi estabelecido o primeiro protocolo de tratamento de leucemia infantil aguda. De acordo com a médica, ele teve como base o Protocolo VIII do St Jude Children’s Research Hospital (Memphis, TNN).
“É interessante observar que as drogas Prednisona, Vincristina, Daunoblastina e Asparaginase já faziam parte do regime da terapia de indução. Esse esquema permanece até hoje”, diz.
É possível resumir o protocolo utilizado nos dias de hoje para LLA infantojuvenil em três etapas:
-Indução, com ou sem a pré-fase com Prednisona;
-Consolidação, com duração de quatro a oito semanas, contendo blocos de quimioterapia com altas doses para os pacientes de alto risco;
–Manutenção, que dura de um ano e meio a dois anos, com ou sem pulsos de Prednisona/Vincristina
Em todos os casos é recomendado que o paciente seja submetido à quimioterapia intratecal, direto no líquido cefalorraquidiano. O objetivo é destruir qualquer célula que possa ter se espalhado para o cérebro e/ou medula espinhal, ou prevenir que isso aconteça.
“Atualmente, a radioterapia está preconizada somente para os pacientes com > 100.000 glóbulos brancos ao diagnóstico e para aqueles com envolvimento em SNC”, a Drª. Brandalise explica.
Transplante de medula óssea (TMO) e tratamento da LLA infantil
O TMO para esse tipo de leucemia infantojuvenil é indicado para pacientes considerados de alto risco, no momento do diagnóstico; aqueles que têm doença residual mínima (DRM) positiva no final da indução e na 12ª semana do tratamento (na fase de consolidação).
“Obrigatoriamente a DRM deverá estar negativa no momento pré-transplante”, a médica alerta.
Ela informa que a DRM deve ser medida, obrigatoriamente, no final das semanas um, dois e quatro, da terapia inicial. Após isso, ela deve ser analisada, novamente, na semana 12 do tratamento. Esse exame serve para mostrar se há presença de células neoplásicas por meio de testes mais sensíveis, como a biologia molecular ou imunofenotipagem.
Ainda de acordo com a especialista, pacientes com translocação TCF3-HLF positiva podem realizar o TMO mais cedo, independente da sua resposta terapêutica. O mesmo vale para aqueles com presença do gene IKZF1 Plus e DRM positiva na indução. Para esses casos o transplante deve ser programado o mais rápido possível.
Leucemia infantil tem cura
A taxa de pacientes que alcançam a remissão completa, como falado anteriormente, é considerada como alta (90%). A principal explicação para isso acontecer é a sensibilidade ao tratamento.
“Esta resposta apresentada pelos jovens doentes traduz a alta sensibilidade ao regime quimioterápico utilizado. Estudos recentes com a inclusão da imunoterapia com Blinatumomabe ou do Bortezomibe, nos pacientes de alto risco, visam alcançar maior destruição das células leucêmicas residuais”, a Drª. Brandalise informa.
Outro fator que contribui para esse resultado é que, segundo a experiência do AYA Group (Adolescent and Young Adult), as pessoas entre 15 e 29 anos demoram mais para eliminar as drogas do corpo. Dessa forma, há uma maior quantidade de quimioterápico no sangue e, consequentemente, maior toxicidade.
Entretanto, por outro lado, essa toxicidade traz algumas preocupações em relação, principalmente, aos efeitos colaterais tardios.
A médica conta que os protocolos realizados antigamente utilizavam radioterapia, podendo causar danos ao SNC. Dessa forma, a criança ou adolescente apresentava dificuldades de aprendizado, desenvolvimento neurológico e de crescimento.
“Não menos importantes são as manifestações tardias de cardiotoxicidade, de vasculopatias, osteopatias, de infertilidade e das segundas neoplasias registradas a longo prazo nos sobreviventes de LLA”, exemplifica.
É possível, no entanto, minimizar a possibilidade desses efeitos tardios acontecerem por meio do manuseio adequado da radioterapia, dos agentes quimioterápicos, corticoides e outros agentes alquilantes. Entretanto, para isso ser feito, é preciso ter acesso ao farmacogenoma específico de cada paciente. Isto é, poder analisar a interação entre o medicamento e o gene daquela pessoa.
Leucemia infantil: passado x presente
As principais diferenças entre o tratamento de leucemia infantil que era realizado na década de 80 e o feito atualmente está no ajuste feito nas terapias. O exemplo mais significativo é a redução da indicação da radioterapia profilática no SNC. Antigamente, ela era feita em 100% dos casos, hoje em dia, ela é prescrita para, somente, 10% dos pacientes.
No diagnóstico, a descoberta da imunofenotipagem e dos marcadores genéticos e a quantificação da DRM, passaram a ajudar na definição de como cada paciente responde ao esquema terapêutico.
“Para os pacientes de maior risco de recaída, é preconizada a intensificação das doses de alguns quimioterápicos, principalmente do Metotrexate sistêmico, além da inclusão de Blocos de quimioterapia mais intensivos”, a Drª. Brandalise diz.
Leucemia infantil: presente x futuro
Segundo a médica, o desafio mais importante a ser alcançado é a incorporação, na prática clínica, do farmacogenoma específico para cada paciente no momento do diagnóstico. Dessa forma, será possível evitar ou minimizar os efeitos colaterais de acordo com os quimioterápicos utilizados. Além disso ajudará a escolher as melhores drogas para cada caso. Saber, por exemplo, se aquela pessoa possui um tipo de mutação genética é fundamental para determinar qual a terapia mais eficaz.
Ela ressalta também que é extremamente necessário introduzir as terapias-alvo no tratamento da LLA infantil. Entretanto, “os laboratórios produtores destes medicamentos já registrados para os pacientes adultos não têm o interesse para subsidiar o desenvolvimento dos estudos clínicos nas crianças e adolescentes.”
Fora isso, também é preciso agilizar as Normas Regulatórias internacionais e nacionais para aprovar terapias-alvo e imunoterapias já registradas. A especialista diz que o foco é ampliar as drogas já aprovadas para adultos e ampliar o uso para o câncer infantil
“Em 25 de setembro de 2020 foi publicada uma lista de terapias–alvo para o câncer pediátrico. Vislumbramos, num futuro não distante, que a recomendação feita pela Sociedade Internacional de Oncologia Pediátrica (SIOP), ‘Nenhuma criança deveria morrer de câncer’ (No child should die of cancer), seja uma realidade nacional”, finaliza a Drª Silvia Brandalise.
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