A leucemia é hereditária?
Última atualização em 7 de março de 2022
Essa é uma dúvida bastante comum, principalmente quando a doença acontece nas crianças e adolescentes
De maneira geral, não é possível responder tão facilmente que se a leucemia é hereditária. Mas, na maior parte dos casos, ela não está relacionada com fatores hereditários. Por outro lado, já se sabe que pessoas que são portadoras de algumas condições genéticas específicas possuem uma maior predisposição a desenvolverem determinados tipos de câncer na infância, como as leucemias.
O que é câncer hereditário?
É importante entender que o câncer é uma doença causada por alterações dos genes das células e que, na maioria das vezes, ocorrem ao longo da vida. Um câncer é hereditário quando a alteração genética que o predispõe foi herdada de um dos pais ou quando uma nova mutação ocorre no processo de formação dos óvulos e espermatozoides (mutações germinativas).
“Menos de 15% das neoplasias da faixa etária pediátrica possuem uma clara associação com fatores hereditários. Entretanto, o percentual pode variar conforme o subtipo de tumor e a correlação com condições genéticas individuais, que aumentam a chance de o indivíduo desenvolver o câncer, e que os médicos costumam chamar de ‘síndromes de predisposição ao câncer’”, explica o Dr. Gabriele Zamperlini Netto, oncologista pediátrico do ITACI (Instituto de Tratamento do Câncer Infantil) do Instituto da Criança /HC- FMUSP e do Hospital Israelita Albert Einstein.
Uma dessas síndromes genéticas relacionadas à predisposição é a síndrome de Li-Fraumeni. Essa é uma condição na qual o gene TP53, que é um gene supressor tumoral, sofre uma mutação. Isto é, o papel desse gene no organismo é ser uma das barreiras que impedem o desenvolvimento do câncer. Quando ele sofre uma alteração, dando origem à Síndrome de Li-Fraumeni, perde o controle dessa capacidade de barrar. Consequentemente, a pessoa tem uma maior predisposição a ter um câncer.
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Quando a leucemia é hereditária
A leucemia pode ser hereditária quando associada a alguma das síndromes de predisposição ao câncer ou quando há algum gene que explique o surgimento da doença. Por exemplo, crianças e adolescentes diagnosticados com Síndrome de Down e Síndrome de Li-Fraumeni possuem maior risco de desenvolverem leucemias. Outros exemplos que podem levar a maior propensão são a Neurofibromatose tipo I, Anemia de Fanconi, Síndrome de Bloom, Noonan entre inúmeros outros.
O Dr. Zamperlini reforça que “na imensa maioria dos diagnósticos de leucemias, não temos um evidente componente hereditário.” E lembra que, “nos casos sem uma susceptibilidade genética previamente reconhecida, o histórico de câncer da família, a coexistência de malformações congênitas ou estigmas sindrômicos, são importantes informações para a suspeita de uma possível associação hereditária”.
Irmãos podem ter leucemia
O médico afirma que há descrições de múltiplos casos da doença acometendo membros da mesma família. Por isso que a American Cancer Society considera que ter um histórico familiar é um fator de risco para a leucemia mieloide aguda (LMA).
Outro ponto, é que há um aumento do risco da leucemia infantil se desenvolver quando se trata de irmãos. Também segundo a American Cancer Society, ter um irmão com leucemia aumenta ligeiramente a chance de desenvolver a doença – mas, mesmo assim, a probabilidade ainda é baixa.
Entretanto, o risco aumenta caso se tratem de irmãos gêmeos idênticos. Nesses casos, o outro gêmeo tem 20% de chances de também ter a doença. Isso acontece especialmente caso o primeiro irmão seja diagnosticado dentro do primeiro ano de vida.
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O que fazer quando a leucemia é hereditária?
O especialista diz que quando não é identificada a presença de uma condição genética, não é sugerido uma rotina de screening (rastreamento) para diagnóstico precoce nos irmãos que são saudáveis. Já em relação às crianças com alguma das síndromes de predisposição ao câncer infantil, é possível que algumas precauções sejam tomadas.
Por exemplo, embora não seja um consenso na comunidade médica, alguns serviços recomendam que pacientes com a Síndrome de Li-Fraumeni realizem exames periódicos para a detecção precoce das principais neoplasias relacionadas à síndrome. Como a realização de exames de imagem e laboratoriais de sangue e urina a cada três meses.
“Também podemos considerar isso com crianças com Síndrome de Down que apresentaram uma alteração hematológica ao nascimento chamada ‘transtorno mieloproliferativo transitório’. Nesses casos, eventualmente, a vigilância com hemograma nos primeiros anos de vida também é desejada. ”
Já para jovens que não têm nenhum diagnóstico de síndromes genéticas familiares e que são saudáveis, não é necessária a vigilância. Assim, o ideal é realizar o acompanhamento pediátrico, de acordo com a idade da criança, e ficar atento aos sintomas do câncer infantil.
“Embora infrequente, é importante que a possibilidade de alguma predisposição ao câncer seja contemplada em crianças e adolescentes diagnosticados com neoplasias. Da mesma forma, os indivíduos com síndromes de predisposição genética, devem ter seu seguimento particularizado conforme as características de cada condição e, sempre que possível, orientados por equipe de oncologistas pediátricos e oncogeneticistas”, o Dr. Gabriele Zamperlini Netto conclui.