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Asparaginase é fundamental no tratamento de leucemia infantil

Mulher jovem fazendo quimioterapia com asparaginase
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Última atualização em 3 de fevereiro de 2022

Ela é usada como terapêutica para essa doença há décadas por conta dos bons resultados, mas exige bastante atenção médica por conta dos possíveis efeitos colaterais

A asparaginase é uma enzima utilizada como terapia oncológica para as leucemias agudas, especialmente no tratamento da leucemia infantil. Ela atua destruindo a asparagina, um aminoácido produzido pelas células saudáveis do corpo e que é essencial para o funcionamento das células neoplásicas. Esse é um medicamento fundamental no combate dessas doenças e, em geral, não apresenta contraindicações definidas. A tendência é que, mesmo no futuro, essa importância se mantenha. 

O Dr. Vicente Odone, oncopediatra e diretor médico do Instituto de Tratamento do Câncer Infantil (ITACI), explica que apenas as células saudáveis do corpo produzem esse aminoácido, chamado asparagina. Mas, ele é fundamental para que as células tumorais consigam sobreviver e se disseminar.

Então, o mecanismo de ação da asparaginase foca justamente em retirar a asparagina de circulação para que as células doentes não tenham mais essa “fonte”.

“Ao usar essa droga, ela destrói a asparagina que está na circulação. Como as células tumorais não são capazes de fabricá-la, elas morrem. Já as células saudáveis, como são capazes de produzi-la, não são afetadas. A asparaginase é uma enzima com atuação quimioterápica, é como se ela matasse as células neoplásicas não de fome, mas por retirar uma necessidade essencial que elas têm”, o Dr. Odone diz.

Asparaginase no tratamento de leucemia

O médico conta que essa é uma droga extremamente importante e vital no tratamento das leucemias agudas. Além disso, ela é particularmente fundamental no tratamento da leucemia linfoide aguda infantil. Isso acontece justamente por conta da possibilidade de preservação das células normais que a asparaginase oferece. Por isso, ela era considerada, teoricamente, como uma droga ideal.

Aplicação de asparaginase no tratamento da leucemia infantil

A aplicação de asparaginase no tratamento da leucemia acontece como terapia de primeira linha na fase de indução. Isto é, na etapa inicial. Isso é feito para minimizar as chances da doença se tornar resistente ao medicamento, pois, rapidamente, as células doentes podem aprender a fabricar a sua própria asparagina. Quando isso acontece, o mecanismo de ação da asparaginase não funciona mais.

O mais comum é que o protocolo com a asparaginase seja realizado com ela em conjunto com outras drogas. Os principais são os corticoides, a vincristina e os antracíclicos. 

De acordo com o Dr. Odone, ela “é uma terapia essencial, pois, teoricamente, é a menos agressiva de todas, justamente porque ela protege as células normais. Mas, tem algumas limitações”. Por exemplo, a resistência que as células tumorais podem desenvolver.

Em princípio, não há nenhuma contraindicação ao uso da asparaginase. Entretanto, ela pode causar algumas outras condições e, por isso, alguns pacientes precisam de um monitoramento mais intenso. Como é o caso de indivíduos com diabetes.

“A asparaginase pode trazer a elevação de glicemia. Dessa forma, podemos imaginar que diabéticos fossem mais problemáticos para o uso. Sem dúvida nenhuma são, mas é possível fazer o controle adequado com insulina e outras medicações”, o especialista fala. 

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Efeitos colaterais da asparaginase

A principal, e mais preocupante, reação adversa é o desenvolvimento de uma alergia (anafilaxia) grave. Além disso, outros efeitos que podem acontecer é a queda acentuada de substâncias ligadas à coagulação sanguínea, como o fibrinogênio, e elevações transitórias, por exemplo, de triglicérides.

Mulher com alergia a medicamentos

No caso da alergia, o Dr. Odone esclarece que a asparaginase pode ser obtida por meio de diversos elementos, como fungos e bactérias. Atualmente, na prática, há duas principais formas de asparaginase. A primeira, é a asparaginase nativa, que é uma asparaginase de ação rápida. Já a segunda, é a PEG-asparaginase, que a asparaginase peguilada, que tem uma atividade de atuação mais prolongada, essa tem sido mais preferida.

“Ambas são obtidas a partir da bactéria escherichia coli. Agora, se o paciente tiver uma alergia grave a essa asparaginase, a única maneira de realmente corrigir esse problema é substituir essa asparaginase. Nesse caso, usamos uma asparaginase obtida a partir de uma outra bactéria e que não tenha essa alergia cruzada. Então, seria uma asparaginase derivada de uma bactéria chamada ‘erwinia’, o oncopediatra informa.

Ele ainda complementa que quando uma reação alérgica surge, mesmo que não seja grave, significa que os anticorpos do paciente têm uma resistência à droga. Então, esse é um quadro que o ideal é que não aconteça, mas não há como preveni-lo ou evitá-lo.

“Você não tem como evitar uma alergia, se ela surgir, você trata”, ele pontua.

Em relação à queda do fibrinogênio, há uma certa preocupação, pois essa diminuição pode provocar uma pancreatite, inflamação do pâncreas. Sendo que quando essa inflamação ocorre, pode ser bastante grave.

O Dr. Odone ainda salienta que na associação da asparaginase com corticoides, os efeitos colaterais dos dois medicamentos podem se somar. Por exemplo, ambos podem causar aumento na taxa de glicose e nas chances do aparecimento da pancreatite. Então, é preciso estar ainda mais atento nesses casos.

“Para a pancreatite, você acompanha por meio de sinais clínicos, como dores abdominais. É um sinal que nos obriga a procurar essa pancreatite por meio de exames de imagens e análise de enzimas produzidas pelo pâncreas, como a amilase e a lipase”, ele exemplifica. 

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Futuro do tratamento de leucemia infantil

O médico reforça que a asparaginase na leucemia infantil, especialmente na leucemia linfoide aguda (LLA) infantil é uma terapêutica essencial. 

“Todos os estudos mostram que as terapêuticas de LLA com inclusão de asparaginase, tem melhores resultados que aquelas sem inclusão de asparaginase. Eu acredito que ela seja uma droga que vai continuar ainda por um longuíssimo tempo como uma droga essencial no tratamento de LLA infantil”, o doutor diz.

Criança com câncer feliz em uma cama de hospital com seus pais do lado

Em 2018, o uso do medicamento Blinatumomabe foi aprovado pela Anvisa para os casos de LLA infantil refratária ou recidivada. Esse foi um importante avanço, pois, apesar de grande parte das crianças e adolescentes alcançarem a remissão, 20% dos pacientes recai após algum tempo. Dados de estudos demonstraram que os pacientes pediátricos tratados com o novo medicamento como agente único atingiram não só a remissão completa da doença, como também Doença Residual Mínima negativa.

Entretanto, o Dr. Vicente Odone enfatiza que o esse medicamento tem destaque nos casos de recidiva e que ainda são necessários mais estudos para verificar os benefícios de utilizá-lo como tratamento de primeira linha.

“O Blinatumumabe é um anticorpo, uma droga extremamente promissora e extremamente interessante em situações de recorrência de LLA. Na maior parte das LLAs infantis, ela é uma droga fundamental. Mas seu emprego em primeira instância ainda é relativamente limitado e nós não sabemos exatamente qual a amplitude que ele vai ter”, ele finaliza.


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