Destaques ASH 2020 – novos tratamento para as leucemias
Última atualização em 28 de julho de 2021
Novos medicamentos estão a caminho e trazem esperança para os pacientes em tratamento
Em fevereiro é celebrado o Fevereiro Laranja, mês de conscientização sobre a leucemia. Como forma de celebrar a data e trazer informações de qualidade para os pacientes, a Abrale está em campanha durante todo o mês.
Dentre as principais novidades para o tratamento da leucemia, apresentadas na 62ª edição do Encontro Anual da Sociedade Americana de Hematologia (ASH), estão novas combinações de medicamentos, tratamentos que possibilitam um menor custo e bons resultados e aprofundamentos sobre as mutações genéticas.
O ASH 2020 aconteceu entre os dias 5 e 8 de dezembro do ano passado e, devido à pandemia, foi no formato online. Durante o congresso, os médicos puderam compartilhar, debater e apresentar resultados dos trabalhos científicos realizados a respeito de tratamentos para doenças hematológicas.
Tratamento da leucemia linfoide aguda
A Drª. Maria Lúcia Lee, Coordenadora da Hematologia Pediátrica da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, conta que, para esses pacientes, os destaques foram os trabalhos voltados para a imunoterapia e terapia celular.
“Está se vivendo um novo momento no tratamento dessas doenças, em que o modelo clássico de tratamento deverá ser acrescido a moléculas que se liguem a alvos específicos e utilizem o sistema imunológico do próprio paciente. É uma nova era, com novas perspectivas de cura surgindo para pacientes que, anteriormente, seriam considerados sem opções de resgate”, ela diz.
A Drª. Maria Lúcia também ressalta os resultados apresentados do protocolo INTERFANT 2006. Nesse estudo, foi demonstrado um novo subtipo biológico, que está associado a um excelente prognóstico no grupo de lactantes (menores de um ano) não portadores do rearranjo KMT2A. Além disso, também foi estudado as diferenças em relação às metodologias empregadas no estudo da doença residual mínima (DRM). Contribuindo, dessa forma, melhor estratificação dos pacientes desse grupo.
No caso da leucemia linfoide aguda infantil recidivada/refratária dois estudos mostraram a superioridade do medicamento blinatumomabe em relação às respostas e sobrevida global.
“Isso foi claramente demonstrado no estudo onde ocorreu a randomização do blinatumomabe versus quimioterapia intensiva em pacientes em primeira recidiva medular”, a hematologista conta.
O primeiro grupo apresentou melhores resultados tanto na negativação da DRM, quanto na menor incidência de eventos colaterais. De acordo com a médica, houve uma evidente superioridade na sobrevida livre de eventos e na sobrevida global 100 dias após o transplante de medula óssea (TMO), em comparação com com o grupo que recebeu quimioterapia.
“O estudo teve grande impacto também em demonstrar que a droga é a melhor opção para o paciente mesmo na 1ª recidiva , não devendo mais ser protelado para 2ª ou 3ª recidivas”, ressalta.
Expectativa x realidade
O blinatumomabe já está aprovado no Brasil, entretanto somente está disponível nos hospitais privados. Ou seja, não chega até a grande maioria dos pacientes, que realizam o tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Outra grande dificuldade é a aprovação das drogas para os pacientes de leucemia infantil. Isto é, alguns dos medicamentos já estão aprovados no país, porém seu uso só está liberado para os adultos.
“Mas com certeza a grande pergunta é: quando nossos pacientes do SUS poderão ter direito ao acesso de todo esse novo e promissor cenário? Tristemente, é difícil prever na área das leucemias infantis”, a Drª. Maria Lúcia Lee considera.
Tratamento da leucemia mieloide aguda
O Dr. Fábio Pires de Souza Santos, hematologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, destaca que estudos avaliaram novos medicamentos para esses pacientes. Ele também ressalta os estudos que analisaram o perfil de alterações genéticas encontradas nos pacientes de leucemia mieloide aguda (LMA) e a correlação delas com a resposta ao tratamento.
“Diversos estudos avaliando novos medicamentos para LMA estiveram entre as estratégias terapêuticas apresentadas no ASH 2020. Novos anticorpos monoclonais, inibidores de BCL2, inibidores de enzimas IDH1/IDH2/FLT3, retinoides sintéticos, por exemplo”, diz.
Dentre esses estudos apresentados, estavam os tratamentos utilizando o fármaco gilteritinibe (Gillt) para pacientes com a mutação FLT3, com leucemia refratária/recidivada.
Em um deles, NCT03625505, foi feito o escalonamento para expansão de dose do gilteritinibe em combinação com o venetoclax (Ven). Os resultados mostraram que a atividade antileucêmica foi maior com as duas drogas usadas juntas em comparação com o Gilt, como monoterapia.
O mesmo medicamento também foi analisado em combinação com azacitidina (AZA) para pacientes com a mutação FLT3 recém-diagnosticados. Os pacientes tinham mais de 65 anos e eram inelegíveis para quimioterapia de indução intensiva ou possuíam entre 18 e 64 anos e apresentavam comorbidades e também não eram elegíveis para quimioterapia intensa.
Para aqueles submetidos ao protocolo com as duas drogas, o desfecho primário é a sobrevida global. Os desfechos secundários incluem sobrevida livre de eventos, melhor resposta, taxas de remissão, sobrevida livre de leucemia, fadiga relatada pelo paciente, segurança e tolerabilidade. Esse estudo ainda está em andamento.
Expectativa x realidade
De acordo com o Dr. Fábio Pires, “alguns dos medicamentos para leucemias estudados já estão aprovados para uso no Brasil. Os principais seriam o gilteritinibe e o venetoclax. Esses medicamentos estão disponíveis na rede privada apenas, entretanto não há previsão de aprovação no SUS. Alguns dos medicamentos apresentados ainda não estão aprovados no Brasil, como o ivosidenib e o enasidenib. Acredito que a aprovação desses medicamentos para uso no Brasil deverá ocorrer nos próximos dois anos. ”
Em um estudo que comparou a administração do Citarabina (Ara-c) por infusão contínua, método atual, com subcutânea, foi demonstrado que o resultado não é prejudicado independente do método utilizado. Assim, é possível que o tratamento tenha um menor custo, e o paciente uma melhor qualidade de vida. Isso, porque, não seria necessário deixar o paciente com a bomba de infusão durante alguns dias.
Tratamento da leucemia mieloide crônica
Para os pacientes com leucemia mieloide crônica (LMC) os estudos focaram nas alterações genéticas adicionais ao BCR-ABL 1. Além também de alguns estudos clínicos com os inibidores de BCR-ABl1 conhecidos, como os estudos com ponatinibe e bosutinibe.
“Mas o grande destaque foi o estudo randomizado fase 3 do inibidor alostérico de BCR-ABL1, chamado asciminibe. Esse medicamento funciona com um mecanismo distinto dos inibidores de BCR-ABL1 conhecidos até então”, ressalta o doutor.
Esse estudo comparou o asciminibe com o bosutinibe (BOS) em pacientes que receberam tratamento prévio. Os resultados apontaram que, aqueles submetidos ao primeiro inibidor tinham uma maior probabilidade de atingir resposta molecular na 24ª semana (25%) do que aqueles submetidos ao BOS (12%). Esses pacientes também apresentaram melhores respostas em relação à segurança, resposta citogenética e dados de sobrevida global e sobrevida livre de progressão.
Esse foi o primeiro estudo controlado comparando tratamentos com inibidores de tirosina quinase para pacientes resistentes/intolerantes com LMC.
O Dr. Fábio Pires conta que não houve destaque para os estudos analisando a qualidade de vida das pessoas com essa leucemia.
Expectativa x realidade
Grande parte dos estudos focaram em medicamentos já aprovados no país e disponíveis tanto na rede privada, quanto na pública. Como é o caso da maioria dos inibidores de BCR-ABL1, por exemplo, imatinibe, dasatinibe, nilotinibe.
“Alguns medicamentos como o ponatinibe estão aprovados para uso somente na rede privada. Já o asciminibe ainda não tem aprovação no Brasil”, o hematologista explica.
Tratamento da leucemia linfoide crônica
Os estudos apresentados no ASH 2020 para leucemia linfoide crônica (LLC) mostraram uma nova etapa do tratamento desse câncer. Há alguns anos, a imuno e a quimioterapia têm sido cada vez menos usadas e essa nova fase reforça isso. Atualmente, há diversas plataformas livres dessas terapias e com resultados muito promissores. Entretanto, os estudos ainda são pequenos e recentes, precisando, dessa forma, de mais pacientes e tempo de avaliação.
Os dois medicamentos com maior destaque para esses pacientes foram o venetoclax e o ibrutinibe. Diversos estudos analisaram esses medicamentos sozinhos, em combinação entre si e em combinação com outras drogas para diferentes tipos de pacientes.
O ibrutinibe, por exemplo, foi utilizado para tratar pacientes com deleção do 17p ou mutação p 53. Com imuno ou quimioterapia, a taxa de sobrevida livre de progressão era de 18%, em 30 meses, e 38% de sobrevida global. Com esse medicamento, subiu para 78% e 88%, respectivamente. Isso mostra que os pacientes poderiam ser tratados com esse tratamento como primeira linha.
Já o venetoclax foi avaliado como tratamento de duração fixa, no estudo MURANO, para pacientes com LLC recidivada/refratária. Ele foi combinado com a droga rituximabe e comparado com a combinação rituximabe mais bendamustina.
Os pacientes pertencentes ao primeiro grupo (venetoclax + rituximabe) tiveram uma sobrevida livre de progressão de 53,6 meses. Já no segundo grupo, a taxa foi de 17 meses. A sobrevida global também foi maior, 82,1% contra 62,2%.
O estudo CAPTIVATE juntou o venetoclax, que, normalmente, é utilizado como terapia finita, e o ibrutinibe, utilizado de forma contínua. No cenário desse estudo, as duas drogas foram utilizadas de forma finita. Os resultados mostraram que 95% dos pacientes tiveram uma sobrevida livre de progressão de um ano. Essa taxa não foi alcançada por nenhum outro protocolo.
Expectativa x realidade
Os três medicamentos estão aprovados no Brasil para o tratamento da LLC.
A combinação venetoclax com rituximabe também está aprovada pela ANVISA. Ela pode ser utilizada para pacientes que receberam, pelo menos, uma terapia prévia.
O protocolo apresentado pelo CPTIVATE torna o tratamento mais economicamente viável, fora os benefícios para o paciente. Apesar disso, essa combinação ainda precisa de maiores estudos para alcançar maturidade.
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