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O câncer mudou minha vida

O câncer me transformou
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Última atualização em 20 de junho de 2023

Passar pelo diagnóstico e tratamento pode ajudar a ressignificar a vida

Dizer que “o câncer mudou minha vida”, pode ter vários significados, cada paciente vê a doença e todo processo do tratamento de uma forma. A notícia de que se tem um câncer costuma abalar bastante. Afinal, ele ainda está relacionado a muitos estigmas e, de fato, é bastante complexo. 

Para começar, não é uma doença única. Por isso existem diferentes tipos de neoplasias, como as leucemias, linfomas, o câncer de mama, de próstata, de pulmão. Cada um deles atinge células específicas, que também necessitam de tratamentos próprios. E por falar nos tratamentos, embora muito se tem avançado nos últimos tempos, os efeitos colaterais ainda se fazem presentes: queda do cabelo, mudanças no corpo, enjoo, diarreia, mucosite são apenas alguns deles, e que causam muitos sintomas físicos e mentais.

Realmente o câncer não é fácil. E está tudo bem não ser. Porém, é possível enxergar uma luz no fim do túnel. Ou melhor, no comecinho dele!

“Alguns pacientes oncológicos, a partir da descoberta ou da vivência oncológica, podem transformar suas vidas de uma forma positiva. Eles passam a mudar alguns pensamentos, a rever alguns valores, crenças. E esses pacientes apresentam pensamentos positivos, esperança e gratidão. Esse exercício da gratidão é muito interessante, porque a gente começa a perceber nossa vida fluindo para a prosperidade. Então, muitas vezes, o diagnóstico pode levar as pessoas a fazerem o que nunca pensaram. Como, por exemplo, trabalhos sociais, ter a empatia com as pessoas que estão passando pelo mesmo que eles”, explicou Claudia de Sillos Matos, psico-oncologista do Hospital Leforte, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia de São Paulo e fundadora da Psicoesp. 

Veja algumas histórias de pacientes que tiveram suas vidas transformadas positivamente pelo câncer.

Amanda Olivera não sabia exatamente o que era o linfoma antes de seu diagnóstico, apesar de sua mãe já ter enfrentado a doença na época de sua adolescência.

“Me lembro que todos chamavam de câncer, então o nome não era tão comum para mim. Mas quando fui diagnosticada, descobri realmente o que era”, disse.

Seu caso foi bastante anormal, já que o linfoma se manifestou dentro do osso – na maioria dos casos, a doença se apresenta no sistema linfático, nas regiões do pescoço, axila e virilha, com aumento dos linfonodos (carocinhos duros, que aumentam de tamanho e não doem).

“Senti dores nos ossos, mas de início não dava para desconfiar. Depois de um tempo foi piorando e surgindo a sudorese noturna, um sintoma comum do linfoma. E justamente por ter uma manifestação óssea, meu diagnóstico foi bem complexo. Fiz uma tomografia, depois ressonância e ambos diagnosticaram uma inflamação na medula do osso esterno, mas nada específico. Passei por alguns médicos, já que os anti-inflamatórios não funcionavam. Foram quase 10 especialistas até que finalmente decidiram fazer uma biópsia. Ao todo, foram 3 biópsias até sair o diagnóstico final. Demorou mais de um ano para realmente descobrir o que eu tinha”, contou. 

O tratamento foi iniciado com quimioterapia, mas Amanda não respondeu muito bem às duas primeiras linhas de protocolo. A terceira opção de quimio permitiu que o transplante de medula óssea autólogo (quando a célula vem do próprio doador) fosse realizado. Com a recidiva, foi preciso fazer radioterapia, imunoterapia e até mesmo um transplante de medula óssea alogênico com um doador inglês. Atualmente ela segue em acompanhamento semestral e está super bem. 

“O câncer trouxe à tona uma nova Amanda. Ele me fez ressignificar muitas situações, ser mais grata, conhecer a Deus bem de perto e entender a minha identidade de filha amada Dele. Me fez conhecer verdadeiros anjos, amigos. E também me mostrou um amor incrível do meu marido, que não soltou a minha mão em nenhum momento. Passei a entender o quanto a fé pode nos fazer romper barreiras intransponíveis”.

Conselho de Amanda para quem acabou de ser diagnosticado:

“Primeiro, viva o luto! O luto é uma fase muito importante! Se dê o tempo para seu psicológico entender tudo o que está acontecendo. Segundo, não se isole. Busque ajuda, seja espiritual, psicológica e, principalmente, médica. Esteja perto de pessoas que te amam e estão ali para te dar todo amor e suporte. Terceiro, força na careca, e vamos pra cima vencer o inimigo! Quarto e último, as situações difíceis podem nos curar. Não que precisaremos passar por essas situações para aprender algo, mas já que estamos vivenciando momentos difíceis, que possamos aprender com eles. Eu sempre digo, não fui curada apenas DO câncer, mas PELO câncer”. 

Heitor William é formado em Enfermagem, com especialização em Gestão Hospitalar. Na faculdade, dentro da matéria que abordava Oncologia, ele apresentou um trabalho sobre leucemias. E nem imaginava que ter uma leucemia mieloide aguda (LMA) estava reservado para seu futuro. 

“Fui diagnosticado com LMA em fevereiro de 2021. Então na época do Natal, em 2020, lembro de sentir muitas dores no corpo, nas pernas, sonolência e cansaço. Também surgiram petéquias pelo corpo, mas na época achei que poderiam ser varizes, porque minha família tem histórico. Cheguei a agendar um vascular. Tive um episódio de sangramento na boca, e como nunca tinha acontecido isso, procurei um dentista. Comecei a desconfiar que não estava nada bem e parti para os hemogramas”, contou.

O diagnóstico do Heitor foi investigativo. Ele ficou 10 dias em de internação para realizar seus exames.  

“Investigávamos uma possível anemia. Como minhas plaquetas estavam muito baixas, comecei a receber sangue. Numa conversa com uma médica, no período de pandemia, ela pediu para que eu abaixasse a máscara para conseguir olhar minhas amídalas. Ela viu que tinha um sangramento recorrente, e ligou para um colega hematologista. Nesse momento, fui transferido de quarto, para realizar o exame de punção de medula, logo no dia seguinte”. 

O resultado de que era uma LMA M3 não demorou para sair. E já tinham 96% de blastos (células leucêmicas) no corpo.  

“Meu tratamento começou com o ATRA. Também fazia exames de sangue todos os dias. Depois entrei em quimioterapia endovenosa, mas não precisei fazer uso de cateter ou outros dispositivos. Foram 16 ciclos de quimio. Atualmente faço um ciclo de manutenção, de 2 anos, com um quimioterápico oral e também um intramuscular. Não precisei fazer transplante de medula óssea porque os médicos falaram que eu estava tendo uma boa recuperação da medula e que meu próprio corpo estava reconhecendo a medicação”, explicou. 

Atualmente, os resultados da terapêutica seguem muito positivos. 

“O câncer, para mim, foi um alerta. Sempre cuidei de muitos, mas não cuidava de mim. Hoje eu trabalho com a internet, sou um influenciador. Inclusive, sou o primeiro influenciador que começou a falar sobre câncer. Outras pessoas que passam pelo processo vêm falar comigo para tirar dúvidas, entender o que está acontecendo. E nesse processo do câncer, trabalhar com internet me ajudou muito. Quando nós mostramos a verdade do tratamento, outras pessoas se identificam. Afinal, a gente ri, chora, enfrenta diversos dilemas dentro do hospital, com o corpo”, pontuou. 

Além da atuação em suas redes sociais (já anotem aí o perfil do Instagram – @oisouheitor), ele também faz parte do Comitê de Pacientes da Abrale e ajuda outros pacientes com sua experiência, aprendizado e conteúdos a enfrentarem o câncer de cabeça erguida.

“O câncer não impede que possamos ver o lado bom da vida. Inclusive, eu sinto que ele me tornou até mais leve. Hoje, ele é somente uma vírgula na minha história. O resto da frase, sou eu que estou construindo”, finalizou. 

Conselho de Heitor para quem acabou de ser diagnosticado:

“Todas as vezes que converso com alguém que acabou de receber o diagnóstico do câncer, ou que está passando pela investigação, é difícil pedir para que tenha calma. Eu não tive. Eu digo para ter discernimento, e para que entenda o que está passando e o que vai acontecer na vida. Porque ela vai mudar. O câncer não nos para. Podemos nos encaixar a ele. É possível encontrar caminhos”.

Lucilene Silva de Lima, ou Luly, como gosta de ser chamada, é paciente de leucemia mieloide crônica (LMC) e já passou por diferentes etapas do tratamento desde o seu diagnóstico, em 2012. 

“Antes de saber que eu tinha a LMC, notei hematomas grandes pelo corpo, emagrecimento rápido e dentro da minha barriga eu sentia um inchaço. Em um único mês perdi 10kg. Mas entendi que tinha algo fora do lugar. Só não imagina que era tão sério e complexo”.

Já são 10 anos em tratamento pelo Sistema Único de Saúde. Pacientes com LMC têm acesso a alguns dos tipos de medicamentos mais avançados na área de Oncologia, as chamadas terapias alvo. Ou seja, com o uso do remédio, apenas as células cancerígenas são combatidas. Atualmente, são três as opções disponíveis no sistema público: imatinibe, nilotinibe e dasatinibe. Lucilene já tomou todas elas. 

“Comecei pelo Imatinibe. Tive uma boa resposta, mas como perdi, aumentaram a dose. Nesse tempo, eu tive uma pneumonia e precisei ser internada. Na internação eu apresentei trombose, então passei a fazer uso de anticoagulante. Por isso, em 2015, precisei mudar para o Nilotinibe. Em 2018, apresentei psoríase, e o médico achou que poderia ser efeito da medicação. Precisei parar de tomar, porém meus exames ficaram bastante alterados. Foi quando o especialista decidiu, novamente, trocar minha medicação. E aí, passei para o Dasatinibe de 100mg. Não respondi tão bem, então passamos para 140mg. Neste momento está tudo bem”, comentou. 

O câncer trouxe mudanças importantes na vida de Lucilene. Não só físicas, como também espirituais.

“Eu sempre fui uma pessoa que procurava estar presente na vida daqueles que precisavam de ajuda. Mas quando entramos no mundo onco-hematológico, a gente tenta se preparar melhor para aquilo. E minha mudança espiritual foi muito valiosa. A grandiosidade da fé me fez uma pessoa melhor. E poder ajudar quem tem um diagnóstico parecido com o meu, me gratifica muito. A minha motivação diária é vencer todos os dias, por mim, pela minha família, pelo próximo”. 

Conselho de Lucilene para quem acabou de ser diagnosticado:

“Ter uma leucemia é difícil. Ter que fazer exames, ir ao médico, tomar vários tipos de remédios, realmente não é fácil. Só quem vive o dia a dia sabe o quanto é difícil. Mas não podemos deixar nossos medos virarem algo diário em nossas vidas. Encare de frente e jamais perca sua fé”.

* Para ver a próxima história, ou rever a história anterior, clique nos quadradinhos rosas que estão acima dos textos.


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