Menina que chorou sangue ao descobrir leucemia hoje está curada e conta sua história para motivar outros pacientes

Atualmente, Caroline Wolinger cursa medicina como uma forma de retribuir os cuidados que recebeu dos médicos durante o tratamento de leucemia
Caroline, uma menina muito “espuleta”, vinha mudando seu comportamento: dormindo mais e brincando menos. Ela já havia passado no médico para tomar remédios para anemia. Em uma madrugada, sua mãe percebeu que ela estava passando mal, vomitando. Ao olhar no rosto da filha, a mãe viu que Caroline chorava sangue. Literalmente.
Os sintomas
Nessa época, Caroline Wolinger, que morava no interior do Paraná, tinha apenas seis anos. “Minha avó foi uma das primeiras pessoas a notar que eu comecei a adoecer. Começou apenas com uma canseira e eu fiquei mais amarelinha”, conta.
A mãe de Caroline procurou um médico que, depois de avaliação clínica e de exames, diagnosticou a menina com anemia. Ela começou a tomar remédios para alimentação, mas, de acordo com ela, sem necessidade. “Eu era uma criança que comia literalmente de tudo, não tinha problema pra comer”, relata.
Mesmo após a suplementação alimentar, Caroline não parecia melhorar. Sua avó havia notado que ela estava, na verdade, piorando. A avó informou à mãe o que estava acontecendo na tarde do dia 18 de janeiro de 2010 e Janete, mãe de Caroline, marcou uma consulta para o dia seguinte.
Durante a madrugada do dia 19, Janete notou que a filha estava passando mal e pediu que o pai de Caroline acendesse a luz e trouxesse panos de limpeza. Ao olhar para o rosto da menina, Janete se assustou. “Até hoje eu tenho essa cena na minha cabeça, a cara de espanto que a minha mãe fez quando olhou pra mim”, conta e acrescenta: “eu já estava demonstrando os sinais da doença no último estágio. Eu estava tendo hemorragia pelos olhos. Quem me via tinha uma reação: ‘meu Deus, parece um filme de terror’”.
Os pais levaram a menina imediatamente para o hospital. A médica de plantão já conhecia os sintomas de leucemia e solicitou exames. Quando os resultados chegaram, os médicos não conseguiam entender como Caroline ainda estava viva, já que suas plaquetas estavam muito baixas.
Imediatamente, ela foi encaminhada para fazer transfusões de sangue porque, sem elas, Caroline não conseguiria ser transferida para o Hospital das Clínicas de Curitiba.
“A doutora não quis assustar minha mãe, mas depois ela contou que temia que eu nem conseguisse chegar à Curitiba por conta da minha gravidade”, lembra e continua: “quando eu cheguei em Curitiba, tinha uma equipe da UTI me esperando, porque eles receberam os meus exames de sangue e imaginaram o pior caso”. Quando Janete contou aos médicos que a menina chorou sangue, eles imaginaram que a mulher exagerava na história.
Porém, durante a biópsia, Caroline voltou a chorar sangue e eles passaram a acreditar na história de Janete.
O diagnóstico
O resultado da biópsia mostrou que 97% da medula de Caroline estava comprometida e ela foi diagnosticada com leucemia linfoide aguda (LLA).
“Teve médicos que falaram: ‘mãe, se eu fosse você, voltava para casa e aproveitava o pouco tempo que você tem’, e outros falaram: ‘dá para tentarmos um tratamento, que é novo’”, narra.
O protocolo do novo tratamento indicava uma dose mais forte de quimioterápicos para que eles agissem rapidamente contra as células cancerígenas. Para Caroline, o tratamento foi extenso e agressivo.
O tratamento
Durante as quimioterapias, Caroline conta que não conseguia comer e sentia muita náusea. “Eu tinha seis para sete anos e um peso de uma criança de quatro, eu estava bem desnutrida”, afirma.
Além disso, o tratamento da leucemia foi extenso porque após as sessões de quimioterapia, a imunidade de Caroline normalmente abaixava, ela tinha que ser internada e tomava antibióticos. Às vezes, ela precisava de transfusões de sangue, porém, ela também tinha reações, necessitava de mais internação e antibióticos.
“Eu tive momentos muito difíceis, eu estava cansada, sentindo muita dor, passando mal e olhei pra minha mãe e falei que queria voltar pra casa pra morrer”, relata.
Caroline conta que o apoio de sua mãe e dos médicos nesse momento foi muito importante para que ela conseguisse continuar e, hoje, contar essa história.

Apoio na jornada
Quando recebeu o diagnóstico da filha, Janete ficou impactada, mas “não se deixou vencer pelo diagnóstico”, como fala Caroline. A menina, que é filha única, relata que quando sua mãe soube que ela estava com leucemia rezou:
“Eu planejo tanto a Caroline e eu não vou perder ela agora, Você [Deus] não pode tirar ela de mim, ela ainda vai ter história para contar’”, narra Caroline e acrescenta: “Eu devo tudo à minha mãe, sem ela eu não estaria aqui, ela não chorava na minha frente, sempre se mostrava forte, sempre me motivava a lutar pela minha vida”.
Ela conta que, além de sua mãe, toda sua família foi importante para apoiá-la e motivá-la. Caroline reforça que estímulos e motivações são muito importantes para pacientes de câncer porque, no ambiente hospitalar, se vê “muita morte, muitas coisas tristes, às vezes nossos coleguinhas no outro dia não estão do nosso lado”.
Ela afirma relatar sua história de vida e sua cura da leucemia com muito orgulho, principalmente, porque, apesar dos médicos acreditarem não ter mais o que fazer, seu tratamento funcionou.
“Eu trago o pensamento positivo de que as coisas podem melhorar, elas nem sempre são um ponto final, como se acredita que possa ser”, destaca.
Objetivos depois da cura
Como uma forma de retribuir os cuidados recebidos, Caroline atualmente cursa medicina. Seu objetivo é poder, um dia, tratar os pacientes com o mesmo cuidado com que foi tratada. Sua busca é para que a medicina evolua e para que os tratamentos não afetem tanto a rotina de pessoas com câncer.
