Já ouviu falar em mieloma múltiplo refratário e recidivado?
Última atualização em 3 de maio de 2022
Entenda o porquê nem sempre a doença responde ao tratamento inicial
O mieloma múltiplo recidivado e o refratário, apesar de serem uma grande preocupação dos pacientes, têm tratamento. Não responder ao tratamento (refrataridade) ou apresentar uma recidiva (volta da doença) após ter bons resultados são dois dos principais medos dos pacientes oncológicos. E, nessa doença, não é diferente. Mas calma! Vamos trazer informações sobre o porquê isso acontece e as opções terapêuticas.
O que é mieloma múltiplo?
Antes de pensar nas opções terapêuticas, é muito importante que o paciente conheça a doença que tem e que precisará tratar.
O mieloma múltiplo é um tipo de câncer mais frequente em pessoas acima dos 50 anos – porém, pessoas mais jovens também podem ser diagnosticadas com a doença.
Ele acontece quando os plasmócitos (tipo de glóbulo branco) tornam-se defeituosos e acumulam-se na medula óssea, formando os plasmocitomas, que é considerado um “tumor maligno”, por se tratar de um aglomerado de células doentes que atrapalham o bom funcionamento das células saudáveis.
Os plasmocitomas, por sua vez, podem crescer tanto dentro do osso (intramedular) ou fora dele (extramedular). Outro ponto importante é que plasmócitos anormais produzem imunoglobulinas anormais, e como estas não conseguem exercer suas funções de proteção, formam um amontoado de proteínas “bagunçadas”, chamadas de proteína monoclonal ou proteína M, uma característica bastante encontrada em pacientes com mieloma múltiplo.
Dentre os sinais e sintomas mais comuns da doença estão dores e fraturas ósseas, fraqueza, cansaço extremo e perda de peso.
Como identificar os sintomas da recidiva
A volta do câncer é uma possibilidade que assombra grande parte dos pacientes. Assim como acontece no primeiro diagnóstico, identificar…
Mieloma múltiplo recidivado e refratário
De acordo com o Dr. Ederson Roberto de Mattos, hematologista coordenador da Unidade de Terapia Intensiva e da Unidade de Hematologia do Hospital Amaral Carvalho, a recidiva acontece por conta da presença/persistência da doença após o tratamento proposto, sendo mais frequente e mais precoce em pacientes com pouca resposta ao tratamento.
“Já a refratariedade ao tratamento acontece pela presença de clones neoplásicos não responsivos ao tratamento proposto, ou seja, clones mais resistentes às medicações, sendo mais comum em pacientes com mieloma múltiplo em recidiva e expostos a medicações com diferentes classes terapêuticas”, explicou o médico.
Um levantamento parcial da Abrale, com 51 pacientes de mieloma múltiplo, mostrou que 62.5% dos entrevistados do Sistema Único de Saúde (SUS) precisaram trocar de medicamento ao longo do tratamento. Destes, 64.3% argumentaram ser refratários.
Tratamentos para mieloma múltiplo recidivado
Essa é a primeira boa notícia que traremos. Pacientes que recebem o diagnóstico do mieloma múltiplo tem à disposição diferentes tipos de tratamento para a doença. Inclusive, os pacientes que são refratários, ou seja, aqueles que não respondem à primeira opção indicada. São eles:
- Quimioterapia – Vários medicamentos são utilizados para combater o câncer. Sua administração é feita em ciclos, com um período de tratamento, seguido por um período de descanso.
- Inibidores de proteassoma – Estes medicamentos são eficientes em atacar mais as células doentes e impactam menos as células sadias. São eles o Bortezomibe, que pode ser utilizado na primeira linha do tratamento e também para pacientes já tratados anteriormente; Carfilzomibe, para pacientes já tratados anteriormente; Ixazomibe, também para pacientes já tratados com outras linhas terapêuticas.
- Imunoterapia – Os anticorpos monoclonais, também conhecidos por imunoterapia, são produzidos em laboratório e fazem com que o próprio sistema imunológico do paciente reconheça as células doentes e as ataque. O Elotuzumabe e o Daratumumabe são duas imunoterapias que podem ser usadas por pacientes que já receberam algum tratamento prévio e não obtiveram respostas.
- Bisfosfonatos – Eles podem ajudar a fortificar os ossos.
- Transplante de medula óssea – A indicação desse procedimento irá depender de fatores como estadiamento da doença, condições físicas do paciente e a idade. A opção geralmente é o TMO autólogo, quando as células transplantadas são as do próprio paciente.
“O mieloma múltipla é uma doença complexa. Existem células tumorais diferentes dentro da mesma doença e essas células podem responder de forma diferente aos tratamentos. Normalmente um determinado tratamento é eficaz para um determinado grupo de células, mas outros grupos podem ser resistentes e passam a predominar e fazem o mieloma progredir. Estudos demonstraram que combinações de tratamento conseguem atingir maiores grupos de células e produz o que chamamos de respostas mais profundas. Respostas mais profundas estão relacionadas a remissões mais duradouras, por isso hoje em dia fazemos tratamentos com combinações de 3 ou 4 medicamentos sempre que possível”, explica o Dr. Rafael Cunha, hematologista do Grupo Oncoclínicas.
Tenho mieloma múltiplo recidivado e agora?
Como vimos, a recidiva é caracterizada pelo retorno dos sintomas ou piora dos exames laboratoriais.
“A pesquisa de recidiva de doença é sempre realizada pelo hematologista. Ele realiza de forma frequente consultas e exames laboratoriais, e pergunta ao paciente possíveis sintomas relacionados à doença, realiza exames para verificar alterações laboratoriais que sugiram o seu retorno. A doença pode retornar apenas nos exames laboratoriais, o que chamamos de recidiva bioquímica, que não necessariamente precisa de tratamento, ou já demonstrando algum sintoma. Os sintomas na recaída podem ser semelhantes ao do diagnóstico ou diferentes, isso vai depender do grupo de células que está predominante na doença naquele momento”, comenta o Dr. Rafael.
Idade X Recidiva
O mieloma múltiplo acontece, na maior parte dos casos, em pessoas idosas. E, segundo o Dr. Ederson Mattos, um dos grandes problemas pode ser a presença de outras doenças, como hipertensão, diabetes, revascularização do miocárdio, entre outras comorbidades.
“Por essa menor reserva funcional muitas vezes o paciente idoso tolera menos uma piora clínica, além de em muitos casos apresentar menos tolerância ao tratamento de resgate, por poder apresentar mais eventos adversos. Em específico nessa população devemos ter agilidade em caracterizar uma recidiva e, caso seja necessário, instituir tratamento que possa ser o mais rápido possível para um controle ágil da doença”, disse.
Já fiz um transplante de medula óssea. Posso fazer outro?
Alguns pacientes precisam de um segundo procedimento, mas isso acontece poucas vezes e, geralmente, a técnica apresenta uma boa resposta…
Mieloma múltiplo em recidiva também tem tratamento!
Embora realmente possa ser angustiante o paciente apresentar uma recidiva naquele momento que mais tinha esperança para uma cura, saber que há opções de tratamento para esta condição com certeza traz uma força maior para enfrentar o mieloma múltiplo.
“Hoje nós temos, no Brasil, aprovação de vários medicamentos e combinações desses medicamentos para tratamento da doença recidivada no paciente idoso. Três classes de medicamentos se destacam pela eficácia tanto em pacientes idosos quanto em jovens. Os anticorpos monoclonais, como o daratumumabe e isatuximabe são potentes e pouco tóxicos, sendo excelentes opções terapêuticas. Hoje o daratumumabe pode ser utilizado na forma subcutânea, o que diminui o tempo em que o paciente permanece no setor para aplicação. Entre os inibidores de proteassoma, que já há muito tempo é um sucesso no tratamento do mieloma, temos o bortezomibe, que está disponível no SUS e o ixazomibe que tem as vantagens de ter poucos efeitos adversos e ser em comprimido, o que facilita a sua utilização. Entre os imunomoduladores se destaca a lenalidomida, comprimido potente, pouco tóxico e muito utilizado em todas as linhas de tratamento e a talidomida que está disponível no SUS. A escolha do melhor esquema de combinação vai depender dos tratamentos já utilizados, de características da doença e do paciente, e do acesso às novas terapias. Sendo assim o melhor tratamento é personalizado e não deve ser o mesmo para todos os pacientes”, comenta o Dr. Rafael.
Sem sombra de dúvidas, os avanços na Medicina vêm permitindo o resgate de muitos pacientes.
“O desenvolvimento de inúmeras medicações nesta última década, com diferentes mecanismos de ação, têm mostrado respostas profundas e duradouras em muitos pacientes, mesmo no cenário recidivado e refratário, o que antes não era muito frequente. Portanto, apesar da preocupação da recidiva em uma doença oncológica ser totalmente compreensível, novos tratamentos e novas pesquisas clínicas nesse cenário do mieloma múltiplo tem permitido melhor controle da doença, melhor qualidade de vida e uma melhora importante para o controle a longo prazo do MM”, finaliza o Dr. Ederson.
Ao longo de todo o mês de março, além de prestar homenagens aos pacientes diagnosticados, por meio de vídeo-depoimentos, a Abrale fará ações informativas sobre esse tipo de câncer nos canais informativos da organização:
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