Recidiva de linfoma: o que é, tratamentos e cuidados com a saúde mental
Última atualização em 28 de julho de 2021
Alguns linfomas têm mais chance de recidiva que outros devido às características das suas células. Em grande parte dos casos é possível tratar esse novo câncer
De forma resumida, a recidiva nada mais é que a volta da doença. Então, a pessoa estava com uma neoplasia maligna e foi submetida a um método terapêutico. Após isso, em certo ponto, não era mais possível detectar as células doentes por meio dos exames tanto de laboratório, quanto de imagem. Isso é chamado de remissão do câncer.
Entretanto, depois de um período, essas células cancerosas voltam a aparecer, caracterizando a recidiva do câncer. Quando isso acontece e a doença só pode ser encontrada por métodos de biologia molecular, é dado o nome de recidiva molecular. Porém, caso a pessoa apresente sintomas ou o tumor possa ser identificado em exames clínicos ou de imagem, dá-se o nome de recidiva clínica.
A Claudia de Sillos Matos, psicóloga do Hospital LeForte, conta que o medo dessa situação acontecer, ou o medo que a pessoa pode sentir ao receber o diagnóstico da recidiva de linfoma, ocorre pois há uma atualização da experiência anterior.
“Muitos pacientes relatam pensamentos de indignação, pois concluíram o tratamento e consideravam o final do momento vivenciado. Como se as emoções anteriores se repetissem no momento da nova descoberta diagnóstica. Entrar em contato novamente com inseguranças e medos pode trazer uma sobrecarga emocional”, diz.
Qual a probabilidade de recidiva de linfoma?
Assim como não existe somente um tipo de linfoma, não é possível determinar uma probabilidade generalizada. Cada subtipo da doença tem uma chance de acordo com as suas características genéticas, velocidade de replicação e estadiamento do câncer.
“Por exemplo, linfoma de células do manto, que pertence ao grupo do linfoma não-Hodgkin, tem maior chance de recidivar que um linfoma de Hodgkin”, conta o Dr. Eduardo Rego, Coordenador da Hematologia da Oncologia D’Or .
Ele ainda ressalta que há uma grande ligação entre a probabilidade de recidiva de linfoma com o fato de ele ser indolente. O motivo disso acontecer é porque a replicação mais lenta das células faz com que elas sejam menos afetadas pela quimioterapia. Entretanto, por outro lado, também faz com que a doença seja mais controlável e o paciente tenha um prognóstico mais favorável.
O estadiamento também acaba sendo um fator relevante para determinar as chances de recidiva. Assim, caso o primeiro linfoma seja diagnosticado em estágio avançado, ele tem maior probabilidade de retornar.
A psicóloga Cláudia fala que o momento do diagnóstico da recidiva pode ser igualmente, ou até mais difícil para o paciente, devido à experiência anterior.
“Mas é importante ter em mente que a experiência anterior não necessariamente será equivalente a sua experiência no momento presente, pois somos seres mutáveis e estamos em constante mudança emocional”, aconselha.
Ela ainda orienta que, apesar de ser comum ter medo de descobrir uma recidiva, o ideal é viver o momento presente. Ficar pensando na volta do câncer pode ser a forma encontrada para evitar frustrações caso ela volte a acontecer. Entretanto, antecipar algo faz com que essa expectativa, seja ela boa ou ruim, passe a ser vivida como uma realidade.
“É preciso viver as situações conforme os acontecimentos, desta maneira minimizamos sinais de ansiedade”, a psicóloga indica.
Tratamento para recidiva de linfoma
Um dos principais fatores na hora de decidir qual será o método escolhido para tratar a recidiva é quanto tempo passou após o primeiro tratamento. De acordo com o Dr. Rego, caso a recaída aconteça menos de um ano depois, é considerado como um curto período e possui pior prognóstico.
Nesses casos, é provável que a célula da recidiva tenha resistência aos medicamentos utilizados na primeira vez. Com isso, é preciso mudar de estratégia do primeiro para o segundo tratamento, preferencialmente alterando a classe de medicamentos.
“Os protocolos são muito variáveis. Se você utilizou o anticorpo monoclonal contra um alvo, por exemplo o CD20, você vai tratar a recidiva mudando. É possível continuar usando o anticorpo monoclonal, mas será preciso um segundo alvo diferente. Se usou uma classe de medicamentos antracíclicos – que além de tudo tem um problema também de toxicidade – é preciso substituir essa classe por outra classe de medicamento que não tenha o mesmo padrão de toxicidade”, explica o médico.
Por outro lado, se a recidiva acontecer mais de dois anos após o fim do primeiro tratamento, é possível que as células sejam sensíveis aos mesmos agentes. Dessa forma, existe a possibilidade de submeter o paciente ao mesmo esquema terapêutico.
“Porém, quando a doença volta, ela, normalmente, costuma ser acompanhada de resistência”, diz o onco-hematologista.
Quando o câncer volta tem cura?
Na grande parte dos casos, é possível tratar um câncer que recidivou. Entretanto, na medida que são realizados vários tratamentos, as alternativas para tratar novas recidivas diminuem. Para os linfomas, apesar das inovações tecnológicas oferecerem mais possibilidades de intervenções terapêuticas, as células também desenvolvem mecanismos para sobreviver. Um desses mecanismos é semelhante à Teoria da Evolução de Darwin.
“Uma célula dentro do conjunto do tumor que possui resistência a um dado tratamento vai ter uma vantagem de sobrevida em relação às demais que não tem aquela mutação. Qual é a consequência disso? Ela vai passar a originar uma recidiva com características moleculares semelhantes às suas”, o Dr. Rego fala.
Outro conceito, que é menos aplicável aos linfomas, mas que acredita-se que vale para outros câncer é que uma pequena parte da célula maligna tenha características parecidas com às células-troncos. Dessa forma, elas podem se diferenciar em um novo tumor resistente aos quimioterápicos utilizados anteriormente.
Apoio psicológico no caso da recidiva
Aliado aos métodos medicamentosos, o apoio psicológico faz parte do tratamento da recidiva, pois pode auxiliar na vivência oncológica. É comum que a notícia da recidiva deixe o paciente com sentimentos de medo, desânimo e raiva, muitas vezes, ligados a auto-culpabilização. Consequentemente, pode ser mais difícil enfrentar a situação e, inclusive, a adesão ao tratamento pode ser prejudicada.
“Sentimentos auto destrutivos prejudicam a estabilidade emocional, direcionar e canalizar a raiva de nós mesmos neste momento não favorece a vivência oncológica. A auto compaixão pode mobilizar em nós mesmos a gentileza, cuidado e preocupação que teríamos com alguém querido. Prestar atenção em si mesmo é entender seus pensamentos, compreender suas emoções e analisar seus comportamentos. A auto percepção facilita o processo do tratamento”, Cláudia salienta.
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