Seguindo o caminho das flores
Última atualização em 29 de julho de 2021
A arte japonesa dos arranjos florais pode ser utilizada também como um dos recursos da terapia ocupacional
Oferecer ao paciente meios para se manter em condições físicas e emocionais ao executar tarefas de valor para ele, independentemente do estágio em que a doença se encontre. Esse é o principal papel da terapia ocupacional.
“A terapia ajuda o paciente a retomar o que deixou de fazer, mesmo as tarefas mais simples”, diz Marília Othero, coordenadora do Comitê de Terapia Ocupacional da Abrale. Entre os diversos recursos da terapia ocupacional encontra-se a ikebana, ou “caminho das flores”, em japonês.
Exercício de sensibilidade, equilíbrio e harmonia, a ikebana é a arte japonesa do arranjo floral. Além das plantas, os materiais utilizados são tesoura, uma toalha pequena, vaso, recipiente com água e uma base com pregos, chamada kenzan, para manter firme o arranjo.
A ikebana atravessou séculos de história até torna-se conhecida no mundo inteiro. Não apenas pelos apreciadores das tradições orientais, mas também por pessoas que buscam, por meio das flores, encontrar paz, alegria e felicidade interiores.
Mais ikebana, menos problemas.
“Quem faz ikebana se esquece completamente de seus problemas”, afirma Emília Tanaka, presidente da Associação de Ikebana do Brasil, com a certeza de quem ensina essa arte há mais de 50 anos. “Combate o estresse, a depressão e é uma excelente terapia”.
Além disso, por trabalhar com sentimentos interiores, cada ikebana tem o toque pessoal de seu criador. “Os indivíduos não são iguais. Nem as plantas. Em uma aula, por exemplo, várias pessoas podem usar o mesmo tipo de galho, o mesmo tipo de flor, mas os arranjos nunca saem iguais. Expressam a sensibilidade de quem os criou”.
A ikebana é uma arte que pode ser praticada por homens e mulheres, embora, no Brasil, desperte mais o interesse do sexo feminino. Aprender esta arte exige tempo e dedicação. A arte não se resume a colocar plantas em um recipiente. Existem regras que precisam ser observadas, com todo um significado e simbologia que não podem ser esquecidos.
“Valorizamos muito os botões das flores, que simbolizam o renascimento”, exemplifica Emília Tanaka. Acrescentando que os arranjos podem expressar, ainda, as estações do ano e simbolizar a passagem do tempo e o ciclo natural de nascimento, crescimento e morte. Por isso, a ikebana também é considerada uma forma de meditação.
Representação das flores.
“É difícil, mas depois de um ano já é possível receber o diploma básico”, diz Emília. Para expressar o passado, são utilizadas flores inteiramente desabrochadas, vagens ou folhas secas. O presente é representado por folhas perfeitas ou flores semi-desabrochadas. Para representar o futuro, botões de flores.
Da mesma forma, a primavera é simbolizada por arranjos vitais, com curvas vigorosas; o verão, por arranjos em expansão e completos; o outono, por arranjos esparsos e delgados; e o inverno, por arranjos melancólicos.
Ikebana é arte que pode ser praticada o ano inteiro, com a utilização de galhos, folhas, flores, sementes, qualquer substância natural. Mas enquanto os ocidentais enfatizam a quantidade e cores dos materiais, os japoneses preferem valorizar as linhas do arranjo e incluíram em sua arte, além das flores, hastes, ramos e folhas.
Os princípios fundamentais da ikebana são indicados por três linhas principais. Simbolinzando o céu (shin), o homem (soe) e a terra (hakae), são a estrutura sobre a qual o arranjo é feito. A mais importante é a haste que simboliza o céu e forma a linha central.
A secundária é colocada de maneira a produzir efeito de crescimento lateral, a partir da linha central. Tem cerca de dois terços da altura da haste principal e deve se inclinar em sua direção. Já a haste terciária (terra) é mais curta e colocada à frente – ou no lado oposto – das outras duas.
Todas são fixadas firmemente no recipiente para dar a impressão de crescer de uma só haste. São acrescentadas flores ao arranjo, mas o que tem mais importância é a posição correta das três hastes principais.
Bem-estar espiritual.
A prática dessa atividade, que reduz a ansiedade e a depressão, é indicada para promover o bem-estar espiritual. “Antes, porém, é preciso fazer uma análise de cada caso, para determinar os benefícios que poderá trazer ao paciente”, ressalva Marília Bense. “Por si só, a ikebana não significa estar fazendo terapia ocupacional. Mas é um recurso que pode ser utilizado”.
O processo terapêutico ocupacional implica a presença do terapeuta, que, a partir da biografia da pessoa, vai ajudá-la a retomar suas atividades mais significativas. Cabe ao terapeuta analisar e promover a vida ocupacional do paciente em seus diferentes aspectos, prescrevendo atividades específicas. O objetivo é proporcionar maior autonomia a pessoas que apresentam limitações funcionais ou dificuldades de participação na vida social.
[…] Brasileira de Linfoma e Leucemia. (2018). Seguindo o caminho das flores. Disponível em: <https://revista.abrale.org.br/o-caminho-das-flores/>. Acessado em […]