Musicoterapia: o que é e como funciona para o câncer
Última atualização em 16 de junho de 2023
As músicas e sons além de serem agradáveis para os ouvidos, também podem ser ótimas ferramentas para ajudar pacientes oncológicos
A musicoterapia é um tratamento complementar que utiliza os sons e as músicas para trabalhar questões emocionais e espirituais. Dentre os principais benefícios dessa terapia está o alívio dos sintomas da ansiedade, depressão e pode ajudar com o isolamento. É possível realizá-la para diversas doenças, inclusive para o câncer, e em vários momentos, sendo útil desde o diagnóstico até a alta.
Lara Teixeira Karst, musicoterapeuta graduada pela Universidade Federal de Goiás, Mestre em Música pela UFG, musicoterapeuta do setor de Oncologia Pediátrica do Hospital Araújo Jorge, da Associação de Combate ao Câncer em Goiás, pontua que é muito importante a musicoterapia ser realizada e aplicada por um profissional com formação acadêmica específica na área. Isso acontece porque, por meio da especialização, os terapeutas conseguem identificar e trabalhar as queixas e necessidades trazidas pelo paciente ou seus familiares.
Ela explica que “a musicoterapia é uma forma de tratamento em saúde que utiliza a música, os sons, as experiências do paciente com a voz, os instrumentos musicais e os movimentos estimulados pelas sonoridades para possibilitar mudanças.”
O que a musicoterapia estimula?
É possível trabalhar diversos aspectos emocionais e espirituais dos pacientes, promovendo:
- Melhora dos sintomas da ansiedade
- Alívio dos sintomas da depressão
- Diminuição da dor
- Aumento da sensação de bem-estar
O Instituto Nacional de Câncer (INCA), recomenda a musicoterapia como um tratamento coadjuvante para o câncer desde 2002. De acordo com o órgão, está comprovado que a música é capaz de interferir na batida cardiovascular, no sistema respiratório e na tonicidade muscular.
Lara ainda complementa que “a musicoterapia pode trazer benefícios diversos de acordo com as variadas áreas de atuação. Podemos generalizar alguns como: possibilitar uma escuta genuína e sem julgamentos do que é trazido pelo paciente ou pela família; validar toda forma de expressão, sem julgamentos estéticos; estimular a auto-expressão por meio do canto, da invenção de canções, da criação de histórias musicadas, do tocar instrumentos musicais; estimular a interação, socialização e autoconhecimento.”
Acupuntura para quem tem câncer
Essa antiga técnica pode auxiliar no manejo da dor durante o tratamento Um estudo publicado no Jama Oncology, um dos…
Como a musicoterapia funciona?
Um atendimento dessa terapia dura, em média, de 50 minutos a uma hora, pode ser feito tanto individualmente, quanto em grupo, e o principal objetivo é criar uma conexão entre o terapeuta e o paciente, por meio dos sons.
“Cada sessão é única e é construída considerando as necessidades e potencialidades de cada paciente”, a especialista fala.
A musicoterapia pode ser trabalhada por meio da escuta, ou seja, a pessoa ouve os sons e músicas tocados pelo terapeuta, ou da interação com os instrumentos e cantando. Lara comenta que ambas as formas são importantes.
“Em um atendimento de musicoterapia o paciente pode estar interagindo somente escutando. O fato de a experiência do paciente com a música ser de audição, não a torna menos importante do que uma experiência de tocar ou cantar, por exemplo.”
Aplicações
Ela pode complementar o tratamento de diversas doenças e condições, como:
- Estresse
- Hipertensão
- Parkinson
- Autismo
- Acidente Vascular Cerebral (AVC)
- Dor e
- Sinais e sintomas do câncer
Escolha das músicas
Não há uma fórmula para trabalhar determinada questão, por exemplo, um ritmo que relaxe, outro que dê sono ou deixe a pessoa alegre. Cada paciente reagirá à música de uma forma diferente, então o musicoterapeuta precisa identificar um estilo musical que agrade o paciente e que possibilite ajudar nas suas queixas.
“Um estilo musical que agrada um paciente, pode ser extremamente irritante para outro. Desse modo, o ritmo musical em musicoterapia é ditado pelo próprio paciente. Cabe ao musicoterapeuta compreender o tempo interno da pessoa e validar o que ela produz”, Lara esclarece.
É possível que o terapeuta ou o paciente toquem os instrumentos ou cantem livremente, deixando os sentimentos fluírem. Mas, também há a possibilidade de trabalhar músicas já gravadas e conhecidas publicamente. Nesses casos, a canção escolhida nunca é trazida por acaso, já que, na maioria das vezes, elas funcionam como porta-vozes dos sentimentos e emoções. Então, é preciso ter certeza que o paciente esteja pronto para trabalhar e trazer à tona esses sentimentos.
“Uma música nem sempre será benéfica, podendo desencadear emoções que a pessoa não estaria preparada para lidar. Uma canção que faça lembrar um momento com um ente querido já falecido, por exemplo. Por isso dizemos que a audição musical deverá priorizar a escolha do paciente. Se ele autoriza que determinada canção seja tocada pelo musicoterapeuta, ele está sinalizando que está pronto para lidar com ela e com todos os sentimentos que ela pode fazer emergir”, Lara diz.
Ela ainda exemplifica que o melhor ritmo musical também está relacionado com o momento que o paciente está.
“Em um hospital oncológico, por exemplo, podemos ter tanto pacientes em estado mais grave, como pacientes que estão clinicamente muito bem. Cada pessoa apresentará um ritmo próprio que condiz com o seu momento clínico. Quem está mais debilitado pode apresentar um movimento mais lento, interagindo menos e se colocando em uma postura mais passiva. No entanto, um paciente que esteja bem pode querer interagir por meio de instrumentos musicais e voz.”
O que dizer a alguém com câncer: palavras de conforto e apoio
Reconhecer os sentimentos e medos dos pacientes e oferecer ajuda de maneira prática são os principais pontos
Musicoterapia no câncer
De acordo com a musicoterapeuta, a terapia pode ser indicada em qualquer momento do tratamento oncológico, desde o diagnóstico até a alta, e pode trazer melhoras espirituais e, até mesmo, biológicas.
“Com um paciente oncológico que está mais queixoso de dor, o musicoterapeuta poderá trabalhar os aspectos emocionais e descobrir que ele está sentindo muito medo. A partir do momento que a dimensão emocional é cuidada, esse paciente pode apresentar uma resposta positiva na diminuição da dor física que estava relacionada com ansiedade, medo, angústias”, Lara descreve.
Segundo ela, isso acontece porque todas as dimensões humanas estão interligadas e quando uma delas é esquecida compromete o bom funcionamento das demais.
Muitos hospitais brasileiros possuem musicoterapeutas na equipe multidisciplinar e a maior parte das instituições fornece os atendimentos por meio do Sistema Único de Saúde.
Mas, “o paciente oncológico também pode procurar serviços de atendimento particular em clínicas ou musicoterapeutas que atendam a domicílio”, Lara Teixeira Krast afirma.
Deixe sua opinião ou dúvida sobre esta matéria abaixo! ?