Compatibilidade: como funciona no transplante de medula óssea
Atualmente, o doador não precisa ser 100% compatível para a realização de um transplante de medula óssea
Como garantir o máximo de sucesso possível em um transplante de medula óssea (TMO)? O que fazer para evitar a rejeição das células do doador? A resposta para essas perguntas é: compatibilidade. Entenda por que ela é tão importante no TMO.
O que determina a compatibilidade para o TMO?
Viktoria Weihermann, médica hematologista do Hospital Sírio-Libanês, explica que os antígenos leucocitários humanos (HLA) são um conjunto de genes que codificam proteínas encontradas na superfície das células. Essas proteínas mostram ao sistema imunológico pedaços de substâncias, os antígenos, e ajudam na identificação do que precisa e não precisa ser combatido.
“No contexto do transplante de medula óssea, o HLA é o principal determinante da compatibilidade entre doador e receptor”, ressalta Weihermann.
Segundo a hematologista, uma pessoa herda um conjunto de genes do pai e um conjunto da mãe e cada um deles é chamado de haplótipo. Assim, pais e filhos, normalmente, são haploidênticos, ou seja, metade compatíveis, já que compartilham um haplótipo. Já com os irmãos, existe 25% de chance deles serem haploidênticos.
Preciso ser 100% compatível com o doador para um TMO?
Até 2015, no Brasil, os transplantes de medula óssea, geralmente, só eram realizados com doadores 100% compatíveis. Porém, o TMO com doadores 50% compatíveis passou a ser realizado ultimamente, graças “aos avanços nas técnicas de transplante haploidêntico”, afirma Weihermann.
Atualmente, algumas técnicas permitem o TMO com um doador 50% compatível:
- Terapias imunossupressoras: reduzem o risco de rejeição e da doença do enxerto contra o hospedeiro (GVHD). Um exemplo é o uso da ciclofosfamida pós transplante;
- Manipulação das células do enxerto: retira os linfócitos que poderiam causar rejeição;
- Melhor compreensão do controle imunológico pós-transplante.
Segundo a hematologista, “essas inovações ampliam o número de pacientes que podem ser tratados e até mesmo a rapidez com a qual pode ser realizado o transplante”.
Por que compatibilidade é tão importante no TMO?
A hematologista frisa que o mínimo de compatibilidade para realizar um TMO é 50%. Caso a medula óssea transplantada não seja compatível com o sistema imunológico do paciente, as células transplantadas podem ser destruídas, o que é chamado de rejeição.
Segundo Weihermann, o inverso também pode acontecer e as células da nova medula podem atacar o organismo do receptor, o que é chamado de doença do enxerto contra o hospedeiro. “Ambas as situações podem ser graves ou fatais, por isso a compatibilidade HLA é fundamental para o sucesso do transplante”, explica.
Compatibilidade em comunidades fechadas
Comunidades fechadas, por exemplo, as japonesas ou judaicas, podem ter maior facilidade para encontrar um doador de medula compatível dentro de sua própria comunidade.
Isso porque “pessoas de comunidades fechadas tendem a ter menor diversidade genética, especialmente nos genes que determinam a compatibilidade para transplante”, comenta a hematologista, acrescentando: “como os indivíduos dessas comunidades compartilham ancestrais comuns, há maior probabilidade de que dois indivíduos possuam tipos de HLA semelhantes, aumentando as chances de encontrar um doador compatível dentro do próprio grupo”.
Porém, quando essas pessoas procuram doadores compatíveis em populações diferentes, a busca pode ser mais difícil.




