O CAR-T pode curar o mieloma múltiplo? Entenda

Pesquisas mostraram que um paciente de mieloma múltiplo, após o CAR-T cell, não precisou de nenhuma outra terapia por cinco anos
No início de julho, Alexandre Padilha, ministro da Saúde, afirmou que o Brasil pretende desenvolver nacionalmente a terapia CAR-T para tratar câncer. A tecnologia é aprovada pela Anvisa para o tratamento de mieloma múltiplo desde 2022, porém, caso fosse desenvolvida no Brasil, os custos e o tempo de espera poderiam ser reduzidos.
Estudos recentes mostraram que, após o CAR-T, pessoas com mieloma múltiplo não precisaram de nenhum outro tratamento por um período de cinco anos. A expectativa é de que esses pacientes sejam curados, porém ainda não há pesquisas que acompanharam por um período de tempo maior os resultados da terapia para esse câncer.
Como funciona o CAR-T para tratar o mieloma múltiplo?
A terapia com CAR-T Cell utiliza os linfócitos T (células de defesa) do próprio paciente. Eles são retiradas, por meio de uma máquina de aférese, e modificadas para que se liguem às células cancerígenas do mieloma múltiplo e as destruam. Vanderson Rocha, professor titular da Faculdade de Medicina da USP e coordenador nacional de terapia celular na Rede D’Or São Luiz SP, explica que são retirados os “linfócitos T e eles são modificados, através de uma terapia biogênica, para que essas células tenham o ligante com as células do mieloma, que nesse caso é o chamado BCMA”.
Atualmente, a modificação das células por terapia biogênica ainda não é feita no Brasil, por isso, após a retirada, Rocha afirma que leva cerca de dois meses para que os linfócitos T possam ser infundidos no paciente.
Quem pode fazer o CAR-T para mieloma múltiplo?
O médico explica que o CAR-T não é a primeira opção terapêutica para pessoas com mieloma múltiplo. Normalmente, ele só será indicado para pacientes resistentes às outras terapias, incluindo o transplante autólogo de medula óssea.
“Existem várias outras opções de tratamento para os pacientes com mieloma disponíveis no Brasil, em torno de quase 25 tipos de medicamentos”, ressalta e continua: “Então, um paciente recém diagnosticado abaixo de 70 anos recebe um tratamento de quimioimunoterapia, posteriormente, o transplante autólogo e só depois é que a gente indicaria o CAR-T”.
O CAR-T cura o mieloma múltiplo?
Vanderson Rocha conta que, há cerca de um mês, estudos mostraram que “em torno de 33% dos pacientes de mieloma múltiplo que receberam o CAR-T estão vivos e sem a doença, após cinco anos”.
O médico relata que é a primeira vez que uma terapia para mieloma múltiplo consegue fazer com que o paciente não precise de outros tratamentos em um período de cinco anos. ”Podemos imaginar que esses pacientes sejam curados, porém ainda precisamos de um segmento maior”, ressalta.
Porém, Rocha lembra que, mesmo depois do CAR-T, a pessoa precisa de acompanhamento médico para evitar infecções que são comuns após a terapia. “A vantagem do CAR-T no mieloma é que você não precisa de medicamentos para o mieloma”, afirma.
Ainda assim, a qualidade de vida da pessoa com mieloma múltiplo aumenta após o CAR-T, uma vez que ela “não precisa ficar vindo ao hospital tomar medicamentos, esse acompanhamento médico é feito a cada dois ou três meses, inicialmente, depois vai se espaçando”, explica.