Leucemia: entenda como é calculada a chance de cura
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Fatores como o tipo de leucemia, a idade e a condição física do paciente podem influenciar o prognóstico
Neste mês, acontece o Fevereiro Laranja, que visa conscientizar a sociedade sobre a leucemia, os possíveis sintomas e sobre a doação de medula óssea. E dentre as perguntas mais frequentes sobre o tema estão: quais são as expectativas de uma pessoa que tem leucemia? Como é calculada a chance de cura? Entenda o que pode interferir no prognóstico da leucemia.
O prognóstico de leucemia depende de diversos fatores como o subtipo de célula que ficou doente, suas alterações genéticas, a idade do paciente, o tipo de tratamento que o paciente tem acesso, sua resposta e adesão a esse tratamento, entre outras condições.
Para entender os possíveis prognósticos da leucemia, antes é preciso compreender que existem quatro tipos diferentes desse câncer e, ainda, diferentes subtipos que influenciam diretamente nas previsões. Os tipos principais são: Leucemia Mieloide Aguda (LMA), Leucemia Mieloide Crônica (LMC), Leucemia Linfoide Aguda (LLA) e Leucemia Linfoide Crônica (LLC).
As classificações “aguda” e “crônica” estão relacionadas à velocidade com que a doença se desenvolve, rápida ou lentamente, respectivamente. A especificação “mieloide” e “linfoide” faz referência ao tipo de glóbulo branco adoecido.
A partir dessa tipificação, as leucemias ainda são classificadas a partir das características das células leucêmicas, ou seja, elas se dividem em subtipos. Danielle Leão, hematologista e pesquisadora clínica da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, conta que a especificação está associada à qual célula adoeceu, quais mutações genéticas ela sofreu e em que fase de amadurecimento estava quando se tornou maligna.
Guilherme Perini, hematologista do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que existem “alterações de melhor prognóstico, em que muitas das vezes a própria quimioterapia pode resolver e curar a leucemia, e alterações de mais alto risco ou de pior prognóstico, e aí consideramos utilizar o transplante de medula, por exemplo”, afirma. Leão lembra que a mutação genética acontece somente nas células doentes e não na genética total do paciente.
Prognóstico de LMA
Alguns dos principais fatores de risco na LMA, segundo Perini, são: leucemias mieloides agudas com cariótipo complexo e com cariótipo monossomal, como monossomia do cinco e monossomia do sete. Alterações de bom prognóstico na LMA são: a translocação 8-21 e a inversão do 16.
O hematologista ainda conta que, caso esse subtipo de leucemia tenha surgido após uma quimioterapia para um outro câncer, por exemplo, o prognóstico também vai ser afetado.
Prognóstico de LLC
Em relação à LLC, a alteração citogenética de maior influência no prognóstico é a mutação do P-53. Segundo Perini, os pacientes com essa alteração se beneficiam da terapia contínua com inibidores de BTK.
“Olha que interessante, durante muito tempo o resultado desses pacientes da mutação do P-53 era muito ruim. Existia uma expectativa de vida de mais ou menos dois ou três anos. Hoje em dia, com as novas terapias, 70% desses pacientes permanecem 10 anos tendo controle absoluto da doença. Houve uma melhora nesses grupos de alto risco em LLC”, ressalta.
Prognóstico de LLA
Para a LLA, o que influencia o prognóstico é a resposta do paciente às quimioterapias. Quando a pessoa faz o tratamento e não é mais possível encontrar o câncer, o prognóstico é melhor do que quando restam indícios da doença, conforme Perini.
Prognóstico de LMC
Na LMC, as mutações citogenéticas não influenciam tanto no prognóstico porque “a alteração que está por trás da LMC, que é o cromossomo Filadélfia, é sempre a mesma. Então, não tem tanto esse impacto de alterações basais citogenéticas”, explica Perini. Nessa leucemia, o que afeta o prognóstico, segundo o hematologista, é o comprometimento do paciente com o tratamento, já que é feita uma terapia contínua com comprimidos e a pessoa precisa tomá-los para obter resultados.
Idade e condições físicas
A idade e as condições físicas também interferem no prognóstico porque alguns pacientes podem responder melhor e conseguir receber tratamentos mais intensos e eficazes. “É muito diferente você tratar um paciente de 18 anos e um paciente de 78 anos de idade. A tolerância à quimioterapia, os efeitos colaterais são bastante diferentes”, conta o hematologista.
Na LMA, os tratamentos intensos, como o transplante de medula óssea e quimioterapias em altas doses, trazem um melhor prognóstico. Porém, eles só podem ser realizados por pacientes que conseguem receber terapias intensas. “Um paciente mais idoso vai tolerar menos um tratamento do que um paciente mais jovem”, o hematologista afirma e continua: “hoje em dia, uma nova medicação chamada Venetoclax tem dado resultados muito bons nessa população que não tolerava a quimioterapia”. Mas a intensidade do tratamento ainda interfere.
Já a LLA da infância possui uma taxa de cura entre 85 e 90%, segundo Leão. Perini explica que isso acontece porque as alterações genéticas de bom prognóstico são mais frequentes em crianças do que em adultos.
Porém, crianças com menos de um ano e mais de 10 anos podem ter alterações genéticas diferentes e um outro prognóstico. Segundo o hematologista, a incidência de rearranjos do gene MLL em crianças com menos de um ano é maior e essa alteração genética interfere no prognóstico. Já as crianças com mais de 10 anos tendem a sofrer mutações parecidas com as dos adultos, o que também altera a previsão.
“Não é a idade em si que tem um impacto, são as alterações genéticas que são mais frequentes nesses estratos de idade”, ressalta Perini.
APOIO:
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