Quando a pega da medula acontece?
Última atualização em 22 de fevereiro de 2024
Esse momento pode representar um renascimento para o paciente e tem um papel muito importante na sua recuperação
A pega da medula óssea acontece quando o corpo do paciente volta a conseguir produzir células-tronco por conta própria após um transplante de medula óssea. O tempo para que isso aconteça varia de pessoa para pessoa e depende de fatores como a quantidade de células transplantadas. Em geral, é preciso ficar sob observação durante os 100 primeiros dias após o procedimento para garantir que a recuperação ocorra conforme o esperado.
O transplante de medula óssea alogênico (TMO alogênico) é um dos principais tratamentos existentes para as doenças hematológicas, como as leucemias e linfomas.
Ele é separado em algumas fases, sendo que a primeira é o condicionamento, na qual o paciente recebe altas doses de quimioterapia e/ou radioterapia. Isso é feito para eliminar as células-tronco doentes e “abrir espaço” para o transplante das células saudáveis do doador. Devido a essa etapa, o corpo da pessoa não consegue mais produzir as células sanguíneas por conta própria.
Após isso, é feita a infusão das células-tronco do doador e é preciso esperar um tempo para que elas consigam começar essa fabricação. Vale explicar que a infusão é semelhante a uma transfusão de sangue ou quando é administrado soro pela veia.
A pega da medula acontece quando a medula enxerta, tornando-se funcional e independente. “É o dia a partir do qual aquela medula produz células de uma forma autônoma, sem que a pessoa precise de transfusões e também consiga produzir os leucócitos em uma quantidade adequada e capaz de defender o paciente contra infecções”, explica o Dr. Celso Arrais, onco-hematologista, professor de Hematologia da UNIFESP e diretor de Hematologia da Rede Dasa.
Quanto tempo demora para a pega da medula?
De acordo com o especialista, é muito complexo fazer uma previsão de quanto tempo leva, pois isso depende de uma série de fatores, como a quantidade de células-tronco coletadas e o local de onde elas vieram. O mais comum é que a pega da medula leve de 10 a 20 dias para acontecer.
O Dr. Arrais conta que, na prática, considera-se o dia da pega como o primeiro dia em que o paciente alcançou a marca de 1.000 glóbulos brancos e mais de 500 neutrófilos. Entretanto, ele alerta que é preciso conseguir manter esses resultados por, pelo menos, três dias.
“A gente considera que tem que conseguir manter isso, porque tem pessoa que aumenta um pouquinho e depois cai de novo, então não conta. A pega é o primeiro de, pelo menos, três dias sustentados”, o médico detalha.
De acordo com o especialista, é nesse intervalo de tempo que as células novas vão procurar sua “nova casa” na medula óssea e se instalar. Depois de instaladas, elas passam a se multiplicar e produzir seus descendentes, possibilitando que a pessoa tenha glóbulos brancos, glóbulos vermelhos e plaquetas em uma quantidade saudável.
Em alguns hospitais a equipe médica e os pacientes fazem até um bolão para ver quem acerta qual será o dia da pega da medula. Dependendo do centro de tratamento, no dia da pega, canta-se parabéns para o paciente, representando um dia de renascimento.
“Eu falo até para os pacientes não ficarem muito ansiosos, porque assim como tudo na vida, quando a gente está muito ansioso por algo, parece que demora mais para acontecer”, o Dr. Arrais aconselha.
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Fatores que influenciam na pega da medula
Há alguns fatores que podem fazer com que a pega da medula seja mais rápida ou leve alguns dias a mais. Dentre os principais estão se o sangue é periférico ou da medula óssea e a quantidade de células-tronco coletadas e injetadas.
“Então, se a gente usa sangue periférico e não da medula óssea, tende a ser mais rápido. Também depende da quantidade de células. No mínimo, a gente precisa infundir 2 milhões de células-tronco chamadas de CD34. Se a pessoa não conseguiu mais células, demora um pouco mais. Agora, se a pessoa infundir 8/9 milhões, tende a ser uma enxertia mais rápida”, o médico descreve.
Em quanto tempo a imunidade volta ao normal?
Assim como não é possível estipular um prazo para a pega da medula, também não se pode determinar quanto demora para que a produção das células sanguíneas retorne ao normal.
O Dr. Arrais explica que, numericamente, alguns pacientes atingem níveis normais de células sanguíneas cerca de quatro meses após o transplante, enquanto outros podem demorar mais.
Também não é preciso entrar em pânico caso haja uma variação de um exame para outro, como, por exemplo, se ocorrer uma queda no número de plaquetas. Isso pode acontecer justamente por ser um período em que as células-tronco novas estão se adaptando ao corpo. Então, o indicado é sempre buscar o médico responsável para fazer uma interpretação adequada dos resultados dos exames.
Do ponto de vista funcional, o médico faz uma comparação entre o paciente recém-transplantado a um recém-nascido. “A pessoa nasceu de novo”, ele diz.
Assim como um bebê, o sistema imunológico do paciente precisa de tempo para se fortalecer. Nos primeiros meses após o transplante, é importante evitar comportamentos e locais que aumentem a exposição às infecções, como ir para uma festa ou local cheio e abraçar e beijar várias pessoas.
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Acompanhamento após o transplante autólogo
Após o procedimento, é muito importante que o paciente realize exames de acompanhamento regularmente.
O Dr. Arrais detalha que, inicialmente, a pessoa deve retornar ao hospital duas vezes por semana e, conforme a recuperação for progredindo, essas visitas se espaçam.
“Nessas consultas, a gente deve fazer exames gerais, hemograma, exames de função renal, enzimas do fígado e também dosar esse imunossupressor e também fazer pesquisa de algumas infecções, principalmente o citomegalovírus”, ele diz.
Para que seja possível realizar esse acompanhamento de perto, recomenda-se que a pessoa permaneça próxima ao hospital durante, pelo menos, os 100 primeiros dias após o transplante.
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