Estudos clínicos: uma oportunidade de acesso a novos tratamentos contra o câncer
Última atualização em 19 de dezembro de 2023
Participar desses processos pode ser benéfico para pacientes, ao oferecer acesso a novos medicamentos
Os estudos clínicos são importantes no processo de avaliação e aprovação de um novo medicamento. Nessa etapa, avalia-se todas as questões necessárias para garantir o melhor uso e a segurança de cada terapia. Mas, para que esse processo possa acontecer, é fundamental que os pacientes se voluntariem para participar. Dentre as vantagens, está o acesso, em primeira mão, aos tratamentos.
Welington Rondoni Lopes, aposentado, foi diagnosticado com mieloma múltiplo em agosto de 2021. Inicialmente, foi submetido ao protocolo VCD (Ciclofosfamida, Dexametasona e Bortezomibe) e, depois, passou pelo protocolo VRD (Lenalidomida, Bortezomibe e Dexametasona).
“No momento do diagnóstico, eu estava com 80% de infiltração e com o protocolo VCD conseguimos reduzir para 40%. Depois, eu fui para Jaú, no interior de São Paulo, para fazer o transplante de medula óssea autólogo”, ele relembra.
Porém, após fazer uma série de exames e passar por diversos médicos, percebeu-se que seria melhor ele não realizar o transplante, pois ele tinha um risco maior de ter certas complicações.
“Eu tenho Doença de Crohn e aí fazer o TMO era um risco muito alto, eu poderia ter mucosite no intestino e sepse. Então, avaliamos que não seria a melhor alternativa”, contou.
Nesse meio tempo, Welington estava em contato com outros pacientes por meio de sites e grupos no WhatsApp e no Facebook e ficou sabendo da existência de estudos clínicos que estavam avaliando novos tratamentos para o mieloma múltiplo. Ele buscou sua médica, no Hospital do Câncer de Presidente Prudente, e falou para ela que gostaria de participar de uma pesquisa que avaliasse o uso de um anticorpo biespecífico ou da terapia CAR-T Cell.
Ela o encaminhou para uma clínica na cidade de São Paulo e, lá, ele começou todo o processo para participar da pesquisa clínica.
Qual a importância da pesquisa clínica?
Ela é uma etapa fundamental para aprovar e possibilitar que as pessoas tenham acesso a novos tratamentos contra o câncer e de diversas outras doenças.
“Os ensaios clínicos dão subsídios para garantir que novos medicamentos são seguros e eficazes”, afirma a Drª. Greyce Lousana, Presidente Executiva da Sociedade Brasileira de Profissionais em Pesquisa Clínica (SBPPC).
Entretanto, ela pode ter uma relevância ainda maior e mais específica para cada um dos pacientes.
“Um ensaio clínico, em algumas situações, pode ser a única opção de acesso a determinadas terapias. Vale salientar que cada estudo possui diferentes características e temos que avaliar quais são os critérios de inclusão e exclusão de cada projeto, sua fase de desenvolvimento, tipo de produto em estudo, enfim, a inclusão de um indivíduo, que passa a ser denominado de participante de pesquisa em um estudo, pode ser um fator relevante para a qualidade de vida de um indivíduo”, a Drª. Lousana diz.
Wellington concorda e fala que seu caso foi um exemplo da situação mencionada pela especialista.
“Com toda certeza, se não fosse o estudo clínico, eu teria muita dificuldade para ter acesso às medicações, porque, para mim, as drogas disponíveis no SUS estavam e são muito limitadas”, relata. Welington faz tal afirmação pois, para ter acesso à lenalidomida, ele precisou entrar com um processo de judicialização.
“Então, tudo que viesse dali para frente, também teria que ser por meio da judicialização. Por isso, tive muito privilégio de estar participando do estudo clínico e tendo acesso aos melhores medicamentos e que ainda não estão aprovados no Brasil.”
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Por que participar de estudos clínicos?
A Drª. Lousana reforça que ser voluntário em um estudo clínico é uma forma do paciente oncológico ter acesso ao tratamento/protocolo que ainda não está disponível para as pessoas em geral.
“Antes de um medicamento ser aprovado pela ANVISA e incorporado pela Conitec ele deve passar por um processo de estudo. Dessa forma, os participantes de pesquisa recebem tais produtos sob investigação primeiro.”
Para Wellington os benefícios de participar vão além do fato de ele ter tido acesso ao anticorpo biespecífico em primeira mão. Ele acredita que essa é uma forma de ajudar outros pacientes a terem a oportunidade de também fazerem uso do medicamento.
“Além da possibilidade de eu, talvez, encontrar a cura nessa medicação, uma vez que ela entrar no mercado brasileiro, pode trazer a cura ou remissão muito prolongada para várias outras pessoas. ”
Ele ainda descreve que ele mesmo só pôde participar desse estudo porque outros voluntários já haviam testado o medicamento previamente. Isso porque, antes do estudo chegar ao Brasil, a droga foi avaliada na Espanha – cerca de 300 voluntários participaram da pesquisa – e foi aprovada nos Estados Unidos da América.
“Eu sou grato a esses pacientes que participaram, porque eles viabilizaram a medicação que eu estou usando agora e que pessoas nos EUA já estão se beneficiando dela. ”
Inicialmente, Welington fazia o tratamento no ambulatório toda semana, depois espaçou para 14 dias e, hoje, toma o anticorpo biespecífico a cada 14 dias e outro medicamento a cada 28 dias.
Como participar de estudos clínicos para tratamentos contra o câncer
De acordo com a Drª. Lousana, as principais formas dos pacientes saberem se há alguma pesquisa clínica aberta na qual ele pode se inscrever é conversando diretamente com o seu médico ou acessando o site da ANVISA ou o site http://www.clinicaltrials.gov/.
Ela complementa descrevendo que “todos os estudos possuem critérios de inclusão e exclusão. Dessa forma, para que um paciente seja inserido em um projeto ele passa por um período de avaliação, denominada ‘triagem’. Nesse período, são realizados diferentes exames e demais procedimentos, de acordo com as informações que constam no projeto de pesquisa.”
E foi o que aconteceu com Wellington. Ele e sua médica avaliaram quais eram os critérios para participar da pesquisa – era preciso ter mieloma recidivado, ter feito previamente uma linha de tratamento com lenalidomida e o nível de hemoglobina não poderia estar baixo – e viram que ele se encaixava.
Depois disso, ele viajou para São Paulo e realizou uma série de exames, sem ter nenhum custo, para garantir que cumpria todos os critérios e que participar do processo seria benéfico.
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Cobaias x voluntários
Há uma crença que pessoas que participam de pesquisas clínicas são “cobaias”, mas tanto Welington, quanto a Drª. Lousana, ressaltam que isso é uma inverdade.
“Cobaias são animais que, infelizmente, não podem decidir se querem ou não fazer parte de um projeto de pesquisa. Já um paciente possui autonomia para decidir, após ser esclarecido de forma exaustiva pela equipe de pesquisa, se ele quer ou não ser inserido em um projeto”, a médica esclarece.
Já o voluntário fala que em momento algum se sentiu como uma cobaia e que, na verdade, enxerga a pesquisa como uma grande oportunidade em sua vida.
“De forma alguma eu acho que uma pessoa que participa de um estudo clínico seja uma cobaia, muito pelo contrário. É uma oportunidade! Eu penso dessa maneira e sempre pensei assim. Sempre quis participar, porque é uma oportunidade de, talvez, até encontrar a cura para o mieloma múltiplo, coisa que a gente não tem com as drogas que já são consagradas. Então, eu encarei dessa maneira, como uma oportunidade que eu estou tendo de acesso a medicações que eu teria que judicializar para conseguir. ”
Além disso, os voluntários são acompanhados por uma equipe médica a todos os momentos, para solucionar qualquer dúvida ou, caso necessário, prestar ajuda.
“A gente é muito bem cuidado e muito bem amparado. A equipe está sempre atenta a qualquer sinal ou sintoma, temos contato constante com a equipe médica de plantão. Esse cuidado é muito importante, porque traz uma segurança para nós, e isso é muito bom”, Welington pontua.
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Concordo com o Welington que o estudo clínico e uma oportunidade de acesso a novas tecnologias.
Olá, Wellington, como vai?
Realmente, participar de estudos clínicos pode ser uma experiência muito importante!
O senhor é paciente oncológico?
Abraços!