Cozinhar no fogão causa câncer?
Última atualização em 30 de agosto de 2023
Pesquisa teria identificado relação entre o fogo do fogão e o câncer, devido ao benzeno, mas, para os brasileiros, não há motivo para pânico
Pesquisadores da Universidade de Stanford realizaram um estudo falando sobre o fogão e o forno a gás serem perigosos por conta de uma substância chamada benzeno. Essa descoberta tem gerado grande preocupação entre os brasileiros: será verdade que o fogo do fogão causa câncer? Afinal, muitas residências em nosso país utilizam esses eletrodomésticos. Mas, segundo a Coordenação de Prevenção e Vigilância do Instituto Nacional do Câncer, esse resultado não é motivo para preocupação. É fundamental lembrar que o estudo em questão foi conduzido nos Estados Unidos, onde as casas e os hábitos diferem dos nossos.
Nessa tese, que foi publicada na revista científica Environmental Science & Technology, os pesquisadores dizem que deixar uma boca do fogão a gás acesa com chama alta ou ligar um forno, também a gás, em, aproximadamente, 180ºC gera uma grande emissão do benzeno. Além disso, eles ainda identificaram que fora a emissão no momento em que a chama é ligada, o benzeno consegue permanecer por algumas horas no ambiente, poluindo o ar dentro da casa e chegando aos quartos.
De acordo com Ubirani Barros Otero, epidemiologista e membro da Área Técnica Ambiente, Trabalho e Câncer, da Coordenação de Prevenção e Vigilância – Conprev, do Instituto Nacional de Câncer – INCA, a exposição ao benzeno pode sim causar câncer, inclusive sabe-se que ele está ligado a alguns tipos de leucemia, mas que os resultados desse estudo não devem ser vistos com pânico.
“Os resultados desse estudo devem ser vistos com cautela, uma vez que o próprio autor descreve que ‘não foi publicado estudo semelhante a este que se tenha conhecimento’”, Ubirani alerta.
O que é o Benzeno?
Essa substância química é um hidrocarboneto aromático, um poluente atmosférico, que é utilizado em diversas situações. Além do gás do fogão, o benzeno também está presente na gasolina que abastece os automóveis.
Ubirani explica que nosso organismo absorve e metaboliza essa substância química com muita facilidade. Depois de estar dentro do corpo, pode induzir o estresse oxidativo, causar danos aos genes, deixar a pessoa imunossuprimida e ser tóxico para a medula óssea.
Por esse motivo, a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer – IARC o classificou como “agente reconhecidamente cancerígeno”. Ou seja, a exposição ao benzeno pode causar câncer, principalmente leucemia linfocítica aguda (LLA), leucemia linfocítica crônica (LLC), mieloma múltiplo e linfoma não-Hodgkin (LNH).
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O fogo do fogão causa câncer?
Como explicado pelo Ubirani, ter contato com o benzeno pode sim gerar um aumento na probabilidade de ter um câncer. Entretanto, ela ressalta que é preciso esperar termos mais estudos avaliando a emissão dessa substância pelos eletrodomésticos para poder afirmar ou negar que o fogo do fogão causa câncer.
“Não se tem conhecimento suficiente ou mesmo evidências de que a exposição ao benzeno oriunda das emissões de fogão ou forno a gás, no interior de residências, cause câncer”, ela pontua.
A epidemiologista reforça que, na literatura, há sim evidências científicas relacionando o benzeno como um fator de risco para o câncer. Entretanto, esses estudos são referentes à exposição ocupacional, ou seja, quem tem contato por conta do trabalho, como é o caso de profissionais que atuam em postos de gasolina.
“Uma das premissas da causalidade é a consistência com outros estudos. A literatura menciona a exposição ocupacional ao benzeno como a mais estudada e mais relevante. Aguardemos o avançar da ciência para que a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer ou outra agência que avalia o potencial cancerígeno de agentes químicos se posicione a partir de evidências científicas.”
Além disso, há outros pontos na pesquisa que não condizem com a realidade brasileira e fortalecem a orientação de não precisar entrar em pânico.
Um desses pontos são os locais onde as avaliações foram feitas. Ubirani comenta que algumas das medições foram realizadas em ambientes mantendo portas e janelas fechadas, algumas até mesmo seladas.
“Nós temos hábitos muito diferentes dos americanos. Geralmente nossas residências ficam abertas e são bem ventiladas. Isso reduz muito a concentração de qualquer gás no interior das residências”, ela fala.
Diminuindo a quantidade de benzeno no ambiente
Apesar de, por enquanto, não haver necessidade de preocupação, há alguns hábitos simples que podem ajudar a diminuir a exposição ao benzeno em casa. São eles:
- Manter portas e janelas abertas, para permitir a ventilação dos ambientes
- Usar um exaustor
- Reduzir o tempo de cocção dos alimentos
- Evitar deixar a temperatura elevada (chama alta) e
- Quando possível, preparar os alimentos em equipamentos elétricos
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A exposição à gasolina causa câncer?
Pessoas que trabalham diretamente com a gasolina, como nos postos de combustível, têm um contato mais intenso com o benzeno, o que pode aumentar o risco do desenvolvimento de câncer.
“A exposição ocupacional a agentes químicos geralmente envolve doses mais elevadas do que o observado na população geral. São grupos específicos de trabalhadores que atuam em atividades econômicas que têm o agente químico como intermediário ou como produto final”, Ubirani diz.
Segundo ela, há evidências científicas bem consolidadas relacionando a exposição ocupacional ao benzeno com o risco de desenvolvimento de cânceres, principalmente os hematológicos.
“O frentista, por exemplo, passa um período igual ou maior que 8h exposto ao benzeno, que é absorvido pelas vias inalatória e dérmica. Soma-se também a exposição a outros agentes químicos como o tolueno, xileno, etilbenzeno e vários outros compostos tóxicos durante seu processo de trabalho”, esclarece.
Ubirani Barros Otero fala sobre a importância de não misturar os resultados do estudo dos pesquisadores da Universidade Stanford com as pesquisas que já estão bem estabelecidas.
“Os resultados do referido estudo devem ser vistos com muita cautela, buscando não retirar o foco da exposição ocupacional, que é muito preocupante e devidamente documentada. Porém, resultados como esse levantaram hipóteses que permitirão/propiciarão estudos adicionais, permitindo o cálculo da medida do risco associado.”
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