Recidiva: por que o câncer pode voltar?
Última atualização em 27 de junho de 2023
É importante saber quando e por quais motivos a leucemia pode voltar, para estar atento e poder diagnosticar e tratar a recidiva o quanto antes
Um câncer pode voltar por alguns motivos, sendo o principal deles quando alguma célula doente fica “escondida” e os exames não conseguem identificar. No momento que isso acontece, não significa que o tratamento realizado foi errado ou não teve efeito. No caso das leucemias, geralmente, a recidiva está ligada à presença de uma mutação genética ou resistência aos medicamentos. Apesar da recidiva poder ser mais difícil de tratar, ainda assim, é possível curá-la.
O que é uma recidiva?
É quando um câncer volta a dar sinais, depois de ficar indetectável por meio de exames.
No caso dos cânceres sólidos, como o de pulmão, mama ou próstata, a recidiva acontece se “o paciente ficou, em algum momento, sem evidência de câncer e, depois, a doença voltou”, o Dr. Óren Smaletz, oncologista clínico do Hospital Israelita Albert Einstein, descreve.
Para as leucemias agudas, considera-se que elas entram em remissão quando há menos de 5% de blastos no mielograma. Caso essa porcentagem aumente, significa que houve uma recidiva.
“Quanto mais o tempo passa, menor a chance de recidiva, mas na Hematologia não usamos os mesmos conceitos dos tumores sólidos e mantemos o acompanhamento. Em geral, o acompanhamento é mais próximo até dois anos após o fim da quimioterapia. Após este período, não há consenso de como deve ser acompanhado, mas a maioria dos médicos ainda mantém o acompanhamento”, a Drª. Mireille Guimarães Vaz de Campos, especialista em Hematologia e Hemoterapia do Instituto Goiano de Oncologia e Hematologia (INGOH), afirma.
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Por que o câncer pode voltar?
No caso dos tumores sólidos, o Dr. Óren explica que a doença pode voltar porque é possível que, no momento do diagnóstico, uma parte das células doentes já tenham migrado para outra parte do corpo e não sejam detectadas.
“As chances dependem justamente do tamanho do tumor, no momento do diagnóstico, e se ele já foi, ou não, para os linfonodos. Isso varia de caso para caso”, o Dr. Óren pontua.
Ele exemplifica que um câncer de mama em estadiamento muito inicial, menor que meio centímetro e que não foi para os linfonodos, tem uma chance de voltar extremamente baixa. Já se a mesma doença tiver 5cm ou tiver acometido quatro linfonodos, há uma maior chance de recidiva.
Por que a leucemia pode voltar?
Quando falamos das leucemias, é preciso lembrar que esse é um câncer do sangue e que o sangue está em todo o corpo, então a recidiva não está relacionada com a migração das células de um local do corpo para o outro. Ela está ligada, geralmente, ao fato das células resistirem ao tratamento realizado.
Também precisamos ter em mente que as leucemias são divididas em agudas e crônicas. No caso das leucemias crônicas, o objetivo do tratamento é controlá-las. “Então, não falamos em cura, mas sim em controle”, diz a Drª. Mireille.
Já para as leucemias agudas, as terapias podem levá-las à remissão, “que significa que o paciente está sem doença detectável do ponto de vista microscópico”, a Drª. Mireille esclarece
Ela conta que há duas principais razões que podem fazer uma leucemia aguda recidivar.
A primeira, e mais frequente, é que a doença alcançou a remissão morfológica (não detectável por microscópio) e imunofenotípica, mas ainda há células doentes que resistiram ou não foram atingidas pelo tratamento
Já a segunda razão é que a doença estava completamente curada, mas, por algum motivo, o paciente desenvolveu um segundo câncer.
“Esses casos são mais raros, mas podem acontecer”, a médica comenta.
Uma recidiva não quer dizer que o tratamento não funcionou
Os tratamentos oncológicos são estudados, testados e aplicados de acordo com protocolos estabelecidos e recomendados pelas sociedades médicas. Então, as terapias indicadas são sempre as mais adequadas para eliminar a doença.
“Uma exceção é quando há uma alteração molecular que exige um tratamento de alto custo. Nestes casos, alguns pacientes não recebem o tratamento ideal, pois não há cobertura financeira para aquele tratamento específico. Outra situação que pode ocorrer e que pode levar a recidivas é quando o paciente não recebe o tratamento com os intervalos recomendados, seja porque estava com uma infecção, seja porque o medicamento está em falta ou porque o paciente abandonou o tratamento”, alerta a Drª. Mireille.
Qual a chance de um câncer voltar?
O Dr. Óren reforça que a probabilidade está muito relacionada ao estadiamento do tumor, ou seja, quanto mais avançado o estadiamento, maior a probabilidade. Além disso, a Drª. Mireille complementa que a presença de determinados marcadores moleculares também pode indicar uma maior chance da doença voltar.
A médica esclarece que, no caso das leucemias, são utilizados os testes de imunofenotipagem, que são uma espécie de lupa. Eles possibilitam identificar e analisar a doença de uma forma mais precisa que o microscópio e permitem verificar se há a presença de algum marcador molecular.
Caso não haja, significa que a leucemia entrou em remissão molecular, isto é, não há nenhum sinal, mesmo que muito pequeno, da doença. Se houver, significa que a pessoa está com doença residual mínima (DRM).
Outra forma de avaliar se o câncer pode voltar é por meio de testes moleculares, que são feitos para identificar se a doença possui alguma mutação genética. Essa informação é útil tanto para definir qual o melhor tratamento, quanto para saber se a leucemia tem mais chance de recidivar.
“Infelizmente, existem tipos de leucemia para as quais ainda não temos teste molecular. A boa notícia é que, a cada ano, surgem novos marcadores moleculares que podem ser usados e que vão sendo progressivamente incorporados na tomada de decisões do médico. A má notícia é que testes como o NGS, que detectam dezenas/centenas de genes, são caros, não são cobertos pelo SUS ou por planos de saúde, e ainda não podem ser feitos para todos”, a Drª. Mireille afirma.
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Essa informação ajuda o paciente a saber o que esperar do tratamento e auxilia o médico a saber quais terapias…
Quando o câncer volta, tem cura?
De acordo com o Dr. Oren, é possível sim curar um câncer recidivado. Mas, isso vai depender do volume da doença, dos tratamentos disponíveis e em quanto tempo ele retornou.
“Se a recidiva for muito precoce, logo depois que o tratamento terminou , as estratégias terapêuticas precisam ser diferentes. Mas, às vezes, se a recidiva é tardia, o tratamento pode ser o mesmo.”
Tratamento para recidiva de leucemia
Aqui, a grande preocupação é que as células restantes podem ter se tornado resistentes aos medicamentos. Por isso, a Drª. Mireille afirma que, quase sempre, é sempre interessante mudar as estratégias terapêuticas.
“No caso das leucemias agudas, sempre tentamos utilizar o transplante de medula óssea como consolidação do tratamento, após o paciente alcançar uma nova recidiva.
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