Ministério da Saúde nega, pela segunda vez, Ruxolitinibe no tratamento para mielofibrose
Última atualização em 4 de abril de 2022
Apesar dos diversos benefícios já comprovados que esse medicamento pode trazer, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS – CONITEC negou sua incorporação ao SUS novamente. Vamos mudar essa realidade!
Atualmente, o tratamento para mielofibrose, muitas vezes, não tem o objetivo de curar a doença, mas sim controlar os sintomas. Dessa forma, o paciente pode ter uma melhor qualidade de vida. Mas, os medicamentos disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) não apresentam resultados tão positivos. Por esse motivo, foi solicitado que o Ministério da Saúde, por meio da Conitec, avaliasse a incorporação do remédio Ruxolitinibe nos centros de tratamento públicos. Mesmo essa droga, que já foi aprovada pela Anvisa, trazendo diversos benefícios para as pessoas com essa patologia, o órgão recomendou a não incorporação, por duas vezes.
A mielofibrose é um tipo de câncer do sangue que acontece por conta de uma mutação nas células-tronco. Essa anomalia faz com que se forme uma cicatriz (fibrose) na medula óssea, prejudicando a produção das células sanguíneas.
O Dr. Fábio Pires, hematologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, explica que, na mielofibrose, há um gene mutado, chamado JAK2, que está sempre funcionando demais. Isso pode acontecer por dois motivos principais.
“Às vezes, porque há uma mutação, que é o famoso JAK2 positivo, a mutação V617F. Mas, em outras situações, o JAK2 está funcionando em excesso por conta de outra mutação, que vai lá e liga o JAK2 de maneira permanente. Por exemplo, a mutação MPL, ou mutação K1R. Mas o JAK2 está sempre funcionando demais na mielofibrose, então você precisa desligá-lo para conseguir melhorar a doença”, ele diz.
Tratamento para mielofibrose
De acordo com o hematologista, a terapia tem como base a administração de um inibidor de JACK2 e, caso seja possível e necessário, o transplante de medula óssea (TMO). Alguns medicamentos para suporte, como eritropoetina e prednisona, podem ser usados para melhorar a anemia. Já para quadros graves refratários, pode ser considerado realizar quimioterapia, radioterapia no baço ou cirurgia para retirada desse órgão.
O TMO pode ser realizado se o paciente tiver uma mielofibrose grave e for constatado que ele tem condições clínicas de realizar o procedimento. Esse é o único tratamento que pode curar a doença, mas não é indicado para pessoas com mais de 65 ou 70 anos por conta dos riscos que apresenta. Além disso, caso a doença não seja tão agressiva “não vale a pena você fazer o paciente passar pelo risco do TMO, sendo que ele ainda pode ficar muitos anos relativamente bem”, pontua o médico.
Para a maioria dos casos, a principal terapia é realizada com um inibidor de JAK2. Ou seja, um medicamento que vai inibir justamente esse gene que está funcionando de forma anormal e que contribui para o surgimento da doença. Aqui, o objetivo é melhorar a qualidade de vida e sintomas e controlar a progressão da mielofribose na medida do possível.
São esses inúmeros pacientes que poderiam ser beneficiados com o medicamento Ruxolitinibe, pois ele é um inibidor de JAK2.
“Essa é uma medicação, em comprimido, que o paciente toma e vai inibir a função do JAK2, fazendo ele parar de funcionar”, o Dr. Pires esclarece.
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Benefícios do Ruxolitinibe
Fernanda Maria Pereira, 58 anos, paciente de mielofibrose desde 2010, conta que, em 2013, fez parte de um estudo clínico que analisava o Ruxolitinibe e, desde então, faz uso do medicamento diariamente.
“Antes desse remédio eu tinha muitos sintomas. A minha doença me agredia de uma forma que não me permitia fazer quase nada; meu baço era alterado, eu tinha muita dor abdominal, meus braços e pernas coçavam demais, eu tinha um cansaço extremo que eu não conseguia, sequer, subir uma escada”, ela relembra.
Entretanto, com o uso do medicamento todos esses sintomas se amenizaram e ela conseguiu até realizar atividades físicas – tarefa que era impossível antes. “Ele me permite fazer coisas que eu já não conseguia mais”, relata Fernanda.
O Dr. Pires afirma que esses benefícios têm sido observados nos casos de diversos pacientes. “O Ruxolitinibe diminui o tamanho do baço do paciente, melhora a disposição, os sintomas, o mal estar, a fadiga, o ganho de peso e pode diminuir a febre. Os pacientes, de um modo geral, sentem-se muito melhor quando tomam esse remédio.”
O médico descreve que dois importantes estudos, COMFORT-I e COMFORT-II, compararam pacientes de mielofibrose que estavam tomando placebo com pacientes tomando a melhor terapia até então disponível no mercado (antes da aprovação do Ruxolitinibe). As evidências mostraram que, em ambos os casos, os resultados foram semelhantes.
“Então, a melhor terapia disponível, muitas vezes, não é muito melhor que um placebo para tratar a mielofibrose. Isso indica que o que a gente tem de armas no SUS é insuficiente hoje em dia”, o especialista ressalta. Ele ainda comenta que “em comparação com os medicamentos disponíveis no SUS, o Ruxolitinibe, sem dúvida nenhuma, é superior. Ele melhora os sintomas e também diminui a mortalidade, quando utilizado nos casos de formas mais graves de mielofibrose, de tal forma que os pacientes tendem a viver mais.”
Fernanda complementa afirmando que sabe que esse medicamento pode não trazer a cura, mas permite que ela tenha uma boa qualidade de vida. “São mais de sete anos de intensa vivência auxiliada por esse medicamento.”
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Ruxolitinibe no SUS
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou em 2015 o uso do Ruxolitinibe para pacientes de mielofibrose de risco intermediário ou alto. É importante saber que esse é o único tratamento disponível para tratar especificamente esse tipo de doença. Mas, até hoje, o medicamento somente está disponível para pacientes que se tratam na saúde suplementar. Isto é, ele não é ofertado para aqueles que dependem do SUS.
Em julho de 2019, a Abrale enviou um ofício para a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS – CONITEC solicitando a incorporação do medicamento na rede pública de saúde. Em fevereiro de 2020, um novo ofício foi enviado reforçando a recomendação de inclusão. Como resposta ao segundo ofício, a Conitec informou que estava avaliando a incorporação e que o resultado seria divulgado em poucos dias. Em junho do mesmo ano, a Comissão decidiu pela não inclusão alegando que a droga era paliativa e não apresentava custo-benefício.
No dia 10 de março de 2022, a Conitec retomou a avaliação da incorporação do Ruxolitinibe no SUS para tratamento de adultos com mielofibrose, IPSS intermediário-2 ou alto risco, plaquetas acima de 100.000/mm3 , inelegíveis ao transplante de células-tronco hematopoiética.
Nessa reunião (106ª Reunião Ordinária da Conitec), a paciente Fernanda Maria Pereira colaborou, por meio da Perspectiva do Paciente, contando como tem sido sua experiência com o medicamento e as diversas vantagens que ele trouxe. Mesmo assim, a Comissão não aprovou de imediato a inclusão do remédio e recomendou a realização de uma Consulta Pública, porém determinou que o parecer deve ser desfavorável.
Ou seja, o poder público solicitará a opinião da sociedade em geral a respeito desse assunto para, depois, tomar sua decisão.
Para mudar esse cenário e pressionar os dois órgãos, a Abrale criou um abaixo-assinado e tem a meta de coletar cinco mil assinaturas. Para contribuir basta clicar no botão abaixo!