Gene FLT3 mutado influencia na leucemia mieloide aguda
Última atualização em 8 de março de 2022
A presença dessa mutação ao mesmo tempo que gera preocupação, significa uma importante vantagem
A mutação no gene FLT3 é a mais comum na leucemia mielóide aguda (LMA), e cerca de ⅓ dos pacientes apresentam esse gene alterado. A presença dessa mutação pode significar um pior prognóstico e uma maior possibilidade de recidiva, mas também permite um tratamento específico e diferenciado. As chances de cura variam de acordo com alguns fatores, porém o principal é a elegibilidade da pessoa ao transplante de medula óssea (TMO).
Todo câncer tem origem a partir de mutações genéticas e, com a leucemia mieloide aguda, não é diferente. Então, a LMA pode apresentar uma série de genes alterados e cada um deles pode interferir, ou não, no prognóstico e no tratamento.
O Dr. Marco Aurelio Salvino de Araújo, hematologista coordenador da Unidade Intensiva Hematológica e do Programa de TMO do Hospital São Rafael e professor de Hematologia da UFBA (Universidade Federal da Bahia), conta que a mutação no gene FLT3 é a mais frequente na LMA e tem uma grande importância tanto no prognóstico, quanto no tratamento.
“Em geral, as leucemias que têm essa mutação têm um pior prognóstico. Por outro lado, hoje, ele possui um papel importante na terapêutica, pois já temos terapias-alvo específicas para essa mutação na primeira e na segunda linha. Então, ele sai de um marcador exclusivo de prognóstico ruim para ser também uma mutação que nos guia terapeuticamente”, ele diz.
Identificando o gene FLT3
A LMA FLT3 é diagnosticada por meio da técnica Reação em Cadeia da Polimerase (PCR), na qual é feita uma análise das células doentes. Sendo que é preciso investigar se ela está presente no momento do diagnóstico e também caso haja uma recidiva.
Isso acontece porque, “às vezes, ela está ausente no diagnóstico, mas presente na recaída e vice-versa. Assim, é importante fazer o PCR dessa mutação no diagnóstico e na recaída, por conta do prognóstico e do tratamento”, o médico orienta.
No geral, a presença da mutação gera uma preocupação maior do que quando ela é ausente.
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Tratamento da leucemia mieloide aguda com mutação FLT3
Como falado anteriormente, a presença da alteração nesse gene significa que há uma maior chance da leucemia recidivar ou ser refratária. Entretanto, é importante ressaltar que isso acontece quando é feito um tratamento oncológico convencional.
Por isso, o tratamento desse subtipo de LMA se difere dos subtipos com outras alterações. No caso da LMA FLT3, há a vantagem da mutação permitir realizar a intervenção terapêutica com uma terapia-alvo desenvolvida especificamente para ela.
“Seria interessante se em toda leucemia a gente pudesse agregar alguma terapia específica. Mas, isso não acontece porque nem toda doença tem uma mutação específica e, nem toda mutação específica, tem uma terapia-alvo já desenvolvida”, o Dr. Araújo esclarece.
Ele detalha que o tratamento de primeira linha é feito com quimioterapia associada a um remédio que inibe a mutação FLT3 na LMA. “O Midostaurina é associado com quimioterapia 7+3 para aprofundar a resposta. Isso aumenta a chance de sobrevida livre de doença e a sobrevida global.”
Na maioria das vezes, esses pacientes são submetidos ao TMO alogênico e o próprio procedimento já é utilizado como consolidação do tratamento inicial.
Se, por algum motivo, não for feito o transplante ou se o paciente tiver uma recaída, a terapia de segunda linha também conta com um inibidor de FLT3, o Gilteritinibe. Entretanto, ele é administrado como monoterapia, ou seja, sem estar associado a outras drogas.
“É apenas o comprimido oral e ele traz resultados muito interessantes sem a toxicidade da quimio. Porém, essa terapia está aprovada somente em recidiva ou refratariedade”, pontua o médico.
Ele ainda conta que se o paciente for elegível ao TMO, primeiro é preciso controlar a doença com o Gilteritinibe e depois realizar o procedimento. Em algumas situações, a droga pode ser administrada como manutenção pós-transplante.
Se a pessoa foi inelegível, “você vai utilizar até a progressão, porém não visando a cura.”
Por que os pacientes com a mutação no gene FLT3 têm recidivas mais frequentemente?
Não é incomum que essas pessoas alcancem a remissão, mas também não é incomum que aconteça uma recidiva precoce.
O Dr. Araújo conta que é como se existisse uma célula mãe (mais imatura) que origina células filhas (blasto leucêmico). O tratamento consegue destruir, com uma certa facilidade, essas células filhas, porém tem mais dificuldade de matar a célula mãe. Por isso que a tendência é sempre realizar o TMO, a fim de tentar destruir essa célula mãe, e diminuir a possibilidade da recidiva acontecer.
Entretanto, mesmo assim, em alguns casos, os pacientes recidivam e é preciso entrar com a terapia de segunda linha.
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A da cura da leucemia mieloide aguda com gene FLT3 mutado
Primeiramente, é preciso entender que as chances são muito variadas e depende de alguns fatores prognósticos. O mais importante é a elegibilidade ao transplante e a idade do paciente.
“Mas, em linhas gerais, o paciente com flt3 mutado tem de 30 a 40% de chances de cura. Muito provavelmente, quem tem cura é o paciente que tem elegibilidade para transplante, que são os mais jovens ou pessoas com menos de até 70 anos, mas que tenham um bom performance clínico. Nos pacientes inelegíveis para transplante as chances de cura são muito pequenas e restritas a casos anedóticos”, afirma o Dr. Marco Aurelio Salvino de Araújo.
Ele lembra que existem casos de cura sem o TMO em pessoas mais jovens que conseguiram realizar uma quimioterapia mais intensa em associação com o inibidor.