Covid-19 ainda mantém impacto nos serviços oncológicos
Última atualização em 25 de novembro de 2021
Abrale levantou dados com os principais hospitais especializados do país
Por Comunicação da Abrale
O novo coronavírus chegou ao mundo trazendo muitos desafios. Os impactos da pandemia na Saúde são imensos : acesso à vacina para toda população; notícias falsas sobre medicamentos que curam a COVID-19 ou até mesmo sobre os imunizantes que estão sendo aplicados na população; jovens se aglomerando por não entenderem a gravidade do vírus; falta de recursos financeiros, estruturais e humanos para o atendimento aos infectados, dentre outros.
Na Oncologia, a preocupação fica para a retenção de novos casos de câncer, já que por conta da pandemia e distanciamento social as pessoas acabam por deixar suas consultas de rotina de lado. E, claro, sem contar com a paralisação nos atendimentos, que aconteceram em diversos centros de tratamento do país.
Entre os dias 8 de abril a 1 de outubro de 2020, 774 pessoas responderam ao questionário online realizado pelo Movimento Todos Juntos Contra o Câncer, um projeto da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), em conjunto com mais de 200 organizações de saúde.
Foram relatadas alterações no tratamento oncológico, como interrupções e adiamentos de consultas e procedimentos, em decorrência da SARS-CoV-2. Participaram pacientes com câncer de mama, linfoma, leucemia e outros tipos de tumores e também profissionais de saúde.
No SUS, 61% dos profissionais de saúde afirmaram que os tratamentos sofreram alterações. 19% disseram que os exames de acompanhamento foram cancelados e 15% das quimioterapias, remarcadas.
De acordo com os pacientes entrevistados, 29% tiveram suas consultas com especialistas canceladas, 25% dos exames cancelados e 15% dificuldades para receber seus medicamentos.
Mas a pandemia está longe de acabar e, neste início de ano, a quantidade de novos infectados e de óbitos pela COVID-19 aumentou muito no Brasil. Por isso, a Abrale quis entender com alguns dos principais centros oncológicos do país como vem acontecendo os diagnósticos e tratamentos em 2021.
Importante: os dados apresentados são referentes aos meses de janeiro e fevereiro de 2021. a
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Impactos da pandemia no atendimento oncológico por estado
SUDESTE
A reportagem da Abrale entrou em contato com o INCA, mas em retorno disseram que ainda não têm os dados fechados de 2020 e 2021.
A reportagem da Abrale entrou em contato com o Hospital do Amor, mas em retorno disseram que ainda não têm os dados fechados de 2020 e 2021.
De acordo com a assessoria de comunicação, o atendimento oncológico do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ) foi mantido durante a
pandemia, tanto no Serviço de Hematologia (tumores hematológicos) quanto no Serviço de Oncologia (tumores sólidos). Também no Serviço de Radioterapia, onde é feito o tratamento, os pacientes continuam sendo encaminhados.
NORDESTE
Em 2019, ano anterior a pandemia, o Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP) realizou, em relação aos atendimentos ambulatoriais, 71.328 (consultas nos ambulatórios cirúrgicos), 41.713 (na Oncologia Clínica) e 3.567 (hematologia).
Já em 2020, ano da pandemia, o HCP realizou, em relação aos atendimentos ambulatoriais, 64.685 (consultas nos ambulatórios cirúrgicos), 36.191 (na Oncologia Clínica) e 3.195 (hematologia).
No mês de março de 2020, início da pandemia, recebeu 751 novos atendimentos. Em abril do mesmo ano, com fechamento de fronteiras intermunicipais e barreiras sanitárias, o número foi para 309 novos atendimentos.
Em janeiro de 2021, foram 550 novos atendimentos, em fevereiro de 2021 (até 15/02), receberam 376 novos atendimentos.
Dessa forma, ao somarmos os atendimentos, observamos uma queda de 12,64% entre o início da pandemia, em 2020, e agora.
Em nota, a assessoria de comunicação esclarece que desde o início da pandemia do novo coronavírus, o Hospital de Câncer de Pernambuco reforçou a importância da continuidade do tratamento de câncer e manteve os procedimentos oncológicos, incluindo cirurgias, exames, quimioterapias e radioterapias, além do seu serviço de triagem, para o recebimento de novos pacientes. Com a flexibilização das medidas de prevenção adotadas pelos governos municipais e estaduais, criando o plano de convivência com a Covid-19, o HCP instituiu um novo formato de atendimento e, gradativamente, retornou os demais serviços oferecidos pela instituição, como as consultas de segmento e os exames de rastreio.
CENTRO OESTE
Instituição privada e de carácter filantrópico, a Associação de Combate ao Câncer (ACCG) mantém e administra o Hospital de Câncer Araújo Jorge (HAJ), a Unidade Oncológica de Anápolis (UOA) e o Instituto de Pesquisa e Ensino (IEP), oferecendo atendimento para pacientes vindos dos 246 municípios do estado de Goiás e dos demais estados brasileiros.
Total de pacientes atendidos em 2019: 65.425, sendo 56.848 no HAJ e 8.577 na UOA
Total de pacientes atendidos em 2020: 63.180, sendo 57.439 no HAJ e 5.741 na UOA
Em março de 2020, início da pandemia, foram atendidos 1.310 pacientes, sendo 1.102 no HAJ e 208 na UOA. Em abril deste mesmo ano, 939 pacientes foram atendidos, sendo 777 no HAJ e 162 na UOA.
Em janeiro de 2021, foram 1.019 pacientes atendidos – 792 no HAJ e 227 na UOA. Em fevereiro, 705 atendimentos, sendo 408 no HAJ e 297 na UOA.
Ao somar os atendimentos entre entre o início da pandemia em 2020, e agora, percebemos uma queda de 23,34% nos atendimentos.
“A queda foi reflexo do pavor da população diante da pandemia de Covid-19 e da comparação que a maioria dos pacientes acabou fazendo entre as duas doenças – o que é um grande equívoco. Precisamos lembrar que uma não é pior que a outra e que, mesmo diante da gravidade do coronavírus, o câncer não espera. No Hospital de Câncer Araújo Jorge, desde março, estamos realizando um intenso trabalho de conscientização sobre a importância da continuidade do tratamento oncológico e, mesmo assim, muita gente tem deixado de vir até a instituição, remarcando consultas, adiando o início do processo terapêutico e até não comparecendo às cirurgias já agendadas. Se em um primeiro momento, essa demora pode resultar em diagnósticos mais tardios e em uma piora da resposta ao tratamento, a longo prazo poderemos registrar um aumento da mortalidade pela doença”, declarou o Dr. Carlos Henrique Ribeiro do Prado, diretor técnico do Hospital de Câncer Araújo Jorge.
No Hospital do Câncer de Mato Grosso, em 2019, foram abertos no CID oncológico 7.710 atendimentos. Em 2020, 6.975 atendimentos.
Entre março e abril de 2020, início da pandemia, foram abertos 1.593 novos prontuários. Já entre janeiro e fevereiro de 2021, 1.674* prontuários foram abertos.
Observamos um aumento de 5% entre os prontuários abertos no início da pandemia, em 2020, e agora.
Em nota, o Hospital reforça que nem todos os atendimentos gerados são registrados com CID e que, portanto, pode haver divergência. Assim, informam que houve queda, mas não tão significativa, pois o hospital tentou manter o número de cirurgias e atendimentos oncológicos.
*De acordo com o Hospital de Câncer de Mato Grosso, esses números não incluem somente pacientes com câncer, por isso a ligeira alta.
NORTE
Em 2019, a Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas realizou mais de 1 milhão de serviços ambulatoriais e mais de 31 mil procedimentos hospitalares em Oncologia, entre cirurgias, consultas médicas, procedimentos de radioterapia e quimioterapia, dentre outros.
Em 2020, foram realizados mais de 850 mil procedimentos em serviços ambulatoriais e mais de 26 mil procedimentos hospitalares em Oncologia, entre cirurgias, consultas médicas, procedimentos de radioterapia e quimioterapia, dentre outros. Os dados ainda estão em consolidação.
Entre março e abril de 2020, início da pandemia, foram abertos 553 novos prontuários. Já entre janeiro e fevereiro de 2021, 481 novos prontuários. Uma queda de 13% em novos prontuários abertos.
Em nota, a Fundação CECON destaca que o número de prontuários abertos não significa que todos os pacientes já tenham a confirmação do câncer, já que há um percentual em investigação.
A reportagem da Abrale entrou em contato com o Hospital do Amor, mas em retorno disseram que ainda não têm os dados fechados de 2020 e 2021.
SUL
O Hospital do Câncer de Londrina (HCL), em 2019 realizaram 1.458.534 de atendimentos. Em 2020, este número passou para 1.059.882. Queda de quase 400 mil atendimentos/ano.
Em março de 2020, foram atendidos 109.754 e, em abril do mesmo ano, 81.460. Em janeiro de 2021, foram realizados 84.890 atendimentos e em fevereiro, 79.389. Uma queda de 14,08%.
Os novos pacientes, ou seja, aqueles que receberam novos diagnósticos, entre março e abril de 2020 foram 603. Já em janeiro e fevereiro deste ano, 933 novos pacientes. Um aumento de 54,72%.
“Observamos um aumento no número de pacientes novos nos meses de janeiro e fevereiro de 2021 em relação a março e abril de 2020. Atribuímos este aumento a uma demanda latente, mas que permaneceu reprimida durante todo o ano de 2020. Janeiro e fevereiro de 2021 foram meses de flexibilização de algumas medidas de restrição em relação à pandemia, o que pode ter estimulado novos pacientes a buscar o primeiro atendimento junto à nossa instituição”, disse Mara Rossival Fernandes, diretora de Ações Estratégicas e Projetos.
No setor de Oncologia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, entre março e abril de 2020, realizaram um total de 7.307 consultas. Já em janeiro e fevereiro de 2021, o número foi de 7.981 consultas. Um aumento de 9,22%.
No Hospital Erasto Gaertner (HEG), para casos novos de pacientes (via E-SAUDE), os números foram:
Março e abril de 2019 = 1.184 pacientes confirmados e 1.458 agendados
Março e abril de 2020 = 711 pacientes confirmados e 1.054 agendados
Janeiro e fevereiro de /2021 = 845 pacientes confirmados e 1.082 agendados
Um aumento de 9,17% no volume de pacientes com presença confirmada e consultas agendadas, quando compara-se o início de 2020 e agora.
Já o volume geral de atendimentos protocolados (via TASYREL), foi:
Março e abril de 2019 = 19.853 pacientes, gerando 60.185 atendimentos
Março e abril de 2020 = 14.799 pacientes, gerando 43.156 atendimentos
Janeiro e fevereiro de 2021= 17.593 pacientes, gerando 53.945 atendimentos
Aumento de 25% no volume de atendimentos, quando comparado o início de 2020 e os dois primeiros meses deste ano. “Em 2020, percebemos uma redução de casos novos entre 20 e 25% na média nos meses. Como causa, muito provavelmente o impacto da pandemia”, comentou a Dra. Carla Martins, diretora geral do Hospital Erasto Gaertner.
O relatório de todos os atendimentos realizados no Centro de Pesquisas Oncológicas (CEPONSC), que incluem consultas médicas e atendimentos multidisciplinares, em 2019 foram realizados 139.607 atendimentos presenciais. Já em 2020, foram feitos 114.492 atendimentos presenciais. Uma queda de 18% nos atendimentos.
Já as consultas médicas presenciais no ano de 2019 foram um total de 83.447, enquanto em 2020 foram 67.475.
Quanto aos novos pacientes atendidos, entre março e abril de 2020, foram 355. Já entre janeiro e fevereiro de 2021, 475 pacientes. Um aumento de 33,80%, se compararmos ambos os anos.
Em nota, o CEPON informa que suas metas de atendimentos para 2019 e 2020 não foram modificadas. A pandemia reduziu o número de consultas presenciais de pacientes em seguimento, ou seja, aqueles fora de tratamento. Estes, inclusive, tiveram acesso a consultas não presenciais. Dessa forma, aqueles pacientes que precisavam de tratamento tiveram acesso mantido e garantido.