Dengue como uma das causas da leucemia
Última atualização em 19 de junho de 2024
Pessoas infectadas pelo vírus teriam duas vezes mais chance de desenvolver esse tipo de câncer
O estudo foi realizado utilizando as bases de dados populacionais da Saúde de em Taiwan e foi publicado no American Association for Cancer Research, um periódico científico norte-americano. Para fazer a análise, os pesquisadores identificaram, entre 2002 e 2011, 12.573 pacientes infectados por dengue. A cada um paciente com dengue, foram selecionadas cinco pessoas que não haviam sido infectadas pela doença. Dessa forma, ao final, eram 62.865 as pessoas saudáveis.
Fatores como nível de renda mensal e comorbidades, ou seja, doenças que já estavam presentes, foram controlados. O acompanhamento durou até o fim de 2015.
Após as análises, identificou-se que aquelas pessoas que haviam sido infectadas, tinham duas vezes mais risco de desenvolver leucemia. Porém, esse risco maior acontece somente durante um período de três a seis anos após a doença. Assim, uma pessoa que contraiu dengue em 2010, por exemplo, teria uma maior risco de desenvolver leucemia entre 2013 e 2016.
Uma limitação importante do estudo foi a impossibilidade de controlar os fatores de risco para leucemia, como estilo de vida e exposições ambientais. Isso aconteceu porque essas informações não estavam disponíveis na base de dados utilizada para a pesquisa. Além disso, as pessoas que contraíram a dengue eram mais propensas a viver em áreas urbanas em comparação com as que não haviam sido infectadas. Ou seja, elas possuíam hábitos diferentes.
Dengue como uma das causas da leucemia
Falar sobre fatores de risco para as leucemias ainda é complexo, pois esse tipo de câncer é multifatorial. Isto é, ele acontece devido a uma série de condições e não está diretamente ligado a um único agente. Diferentemente da neoplasia maligna de pulmão, por exemplo, que tem uma relação direta e evidente com o tabagismo.
“Na maioria dos casos de leucemia aguda não identificamos nenhum fator de risco. Isto não quer dizer que não haja relação entre estes fatores e leucemia. Também não quer dizer todos que tenham se exposto aos fatores de risco vão evoluir com leucemia”, ressalta o Dr. Nelson Hamerschlak, hematologista e membro do Comitê Científico Médico da Abrale.
De acordo com Guey Chuen Perng, primeiro autor do trabalho, há uma estimativa que, aproximadamente, 15% dos cânceres humanos em todo o mundo sejam causados por infecções potencialmente evitáveis.
A infecção pela dengue causa uma série de alterações no sangue que ainda não foram completamente identificadas e entendidas. Entretanto, sabe-se que a mais grave é a plaquetopenia (queda no nível das plaquetas). Na leucemia também há a queda desse componente sanguíneo, porém por motivos e mecanismos diferentes.
Na dengue, ela acontece por supressão da medula óssea, quando há uma deficiência na fabricação das células, ou por mecanismos imunológicos. Além disso, há também a liberação de substâncias inflamatórias. Por outro lado, na leucemia, a queda das plaquetas acontece devido ao crescimento das células doentes na medula óssea. Dessa forma, elas diminuem o espaço para a fabricação das células saudáveis.
“Esse estudo mostrou que o risco de desenvolver leucemia é duas vezes maior em quem teve dengue. Esta é a única conclusão e ainda precisa ser melhor estudada e repetida por outros autores. Devemos olhar para estes dados como indícios e não como causa-efeito”, salienta o Dr. Hamerschlak.
O que é dengue?
A dengue é uma doença viral que é transmitida por meio da picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti. Existem quatro tipos diferentes de vírus e todos podem causar as diferentes formas da patologia: clássica, hemorrágica e com complicações.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que há uma subnotificação de casos de dengue. Apesar disso, estima-se que ocorrem 390 milhões de novas infecções por ano, sendo que 96 milhões se manifestam clinicamente. Ou seja, causa sintomas, independentemente da gravidade e intensidade.
O mosquito transmissor do vírus tem hábitos diurnos e se multiplica em locais com água parada, como nos quintais e até mesmo dentro das casas. Por isso é importante verificar vasos de plantas, pneus, garrafas plásticas, piscinas sem uso e sem manutenção e pequenos recipientes que possam acumular água.
A dengue pode ser caracterizada como: de forma benigna, similar à gripe; com sinais de alarme, quando há alterações da coagulação sanguínea, e grave, forma mais rara, porém que pode levar à morte se não houver atendimento especializado e rápido.
Quais os sintomas da dengue
Normalmente, a primeira manifestação é uma febre alta, de 39ºC a 40ºC, que aparece inesperadamente. Em seguida, os principais sintomas de dengue são:
- Dor de cabeça;
- Dores musculares, nas juntas e atrás dos olhos
- Vermelhidão no corpo
- Fraqueza
Algumas pessoas também apresentam náuseas, vômitos e diarreia, mas essas manifestações são menos frequentes.
Esses são os sintomas iniciais da dengue como sinais de alarme, cuja gravidade é moderada. Nesse tipo da doença, depois de três dias, quando a febre começa a amenizar, surgem os sinais de hemorragia. Por exemplo, sangramento nasal, gengival e vaginal. Além do rompimento dos vasos sanguíneos da pele, causando manchas roxas pelo corpo e hematomas.
Esses sintomas estão relacionados com a plaquetopenia, mencionada anteriormente. As plaquetas são responsáveis pela coagulação do sangue e, como há uma queda no nível desse componente, o corpo não consegue interromper o sangramento.
Já na dengue mais grave, os sintomas são:
- Alterações neurológicas (delírio, sonolência, depressão, coma, irritabilidade extrema, psicose, demência, amnésia);
- Sintomas cardiorrespiratórios;
- Insuficiência hepática;
- Hemorragia digestiva
Diagnóstico de dengue
Para confirmar a doença, é preciso fazer um exame em laboratório.
Caso haja uma suspeita logo no começo, entre o trigésimo e o quinto dia, é possível identificar o vírus direto no sangue. Se ultrapassar esse período, é preciso fazer um teste sorológico para detectar os anticorpos contra o vírus.
O tratamento da dengue é feito por meio de analgésicos e medicamentos para abaixar a febre. Também orienta-se que a pessoa consuma muito líquido para evitar a desidratação.
Existe vacina contra dengue?
Em 2015, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou o uso de uma vacina francesa contra a dengue. Entretanto, ela não está disponível no SUS e só pode ser utilizada por quem já foi infectado pela doença e mora em áreas endêmicas.
Inicialmente, ela havia sido liberada para todas as pessoas de nove a 45 anos. Porém os resultados de alguns trabalhos científicos, que foram divulgados após a vacina já ter sido distribuída, apontaram que haveria uma contraindicação.
Esses estudos mostraram que quem tomou a vacina antes de ter contato com a dengue, quando foi infectado, tinha mais chances de desenvolver as formas mais graves. Assim, a vacina não causava doença, mas se a pessoa que tomou a vacina contraísse a dengue, ela teria mais chances de ter a doença de maneira mais grave.
Com isso, a Anvisa atualizou a bula e determinou que apenas indivíduos que já foram previamente contaminados podem fazer uso da vacina. A faixa etária continua a mesma. Isso acontece porque, nessa situação, a vacina demonstrou 80% de eficácia na redução de hospitalizações e casos graves.
“Pode-se contrair dengue até quatro vezes durante a vida, apresentando sintomas ou não, devido à circulação de quatro tipos diferentes de vírus. A dengue é uma doença única, e a segunda infecção tende a ser pior que a primeira. Logo, tanto do ponto de vista individual quanto de saúde pública, prevenir uma infecção subsequente em pessoas que já tiveram dengue pode desempenhar um papel importante, podendo reduzir a carga social e econômica da doença”, divulgou o órgão na nota de explicação.
Excesso de higiene pode causar leucemia infantil?
Qual o link do artigo científico na íntegra?
Olá, Emanuelly, como vai?
No segundo parágrafo da matéria há um hiperlink em rosa/vermelho. A senhora pode clicar diretamente lá, que será redirecionada para o estudo, ou clicar no link a seguir: https://cebp.aacrjournals.org/content/29/3/558.
Abraços!
Obrigada pelo retorno ?