Errata! Certos alimentos atrapalham a ação dos remédios
Última atualização em 28 de julho de 2021
O conflito, chamado interação medicamentosa, sim, prejudica o tratamento oncológico
Realizar o tratamento correto vai muito além de seguir à risca as receitas médicas, que costumam conter a dose e a quantidade dos dias em que devem ser administrados os remédios. Para que os medicamentos apresentem os resultados esperados, todo o cuidado é pouco, incluindo a alimentação que será ingerida juntamente com eles.
Interação medicamentosa
Esse evento clínico pode ocorrer com a interferência entre medicamento-medicamento, medicamento-alimento ou medicamento-drogas (álcool, cigarro e drogas ilícitas). Ou seja, a depender do medicamento, caso seja ingerido junto com um ou mais desses itens, é possível que a absorção, ação ou eliminação não seja eficaz.
E você pode estar se perguntando: mas até os alimentos atrapalham a ação de um remédio? Sim, eles podem atrapalhar. Isso porque o consumo de alimentos pode afetar o funcionamento do sistema digestório, levando a alterações na secreção biliar e enzimática, aumento ou diminuição do tempo de esvaziamento gástrico, alterações na motilidade intestinal e no fluxo sanguíneo.
“Diante disso, a biodisponibilidade de alguns medicamentos pode ser alterada, ocasionando aumento, redução ou demora na absorção, levando à falha no tratamento ou a um elevado risco de efeitos colaterais. Alguns alimentos, como leite, também têm a capacidade de encapsular as moléculas dos medicamentos, impedindo com que eles exerçam suas atividades no organismo. A esse processo, damos o nome de quelação”, explica Mariana Perez Esteves, farmacêutica clínica e coordenadora da comissão de oncopediatria da Sociedade Brasileira de Farmacêuticos em Oncologia.
Chás x medicamentos
Eles parecem inofensivos, afinal, são ervas infusionadas em água. Mas, dos variados benefícios que carregam, quando se trata de ingeri-los juntamente com um medicamento, a história muda.
“Os produtos naturais, como os chás, também podem alterar a absorção de alguns medicamentos. A camomila, em doses elevadas, pode provocar paralisia dos músculos do aparelho digestivo. O boldo, pode aumentar a ação de medicamentos anti-hipertensivos, por exemplo. Já o funcho, potencializa o efeito do antibiótico Ciprofloxacina. O guaco, por sua vez, reduz a ação de anticoagulantes e a cáscara-sagrada pode causar alterações no funcionamento do intestino”, comenta Juliana Nabarrete, nutricionista do Comitê de Nutrição da ABRALE.
Por isso, o consumo de chás deve ser comunicado e adaptado com a equipe multidisciplinar.
Sal e álcool também não são aliados dos remédios
Com relação aos quimioterápicos, a restrição de alimentos vai variar conforme os efeitos colaterais que o paciente apresentar e conforme a particularidade de cada medicamento.
“Antibióticos, de maneira geral, mexem com funcionamento intestinal, assim deve-se evitar alimentos ricos em fibras ou gordurosos. Já em caso de corticoides, alimentos ultraprocessados e o uso de sal em excesso devem ser evitados. Um ponto de atenção no tratamento com corticoides é a escolha correta dos alimentos ingeridos, uma vez que esse medicamento mexe com os níveis de cortisol (hormônio do estresse), aumentando a irritabilidade e o apetite do paciente”, explica Juliana.
Já as bebidas alcoólicas, aumentam a eliminação do medicamento pelo corpo, diminuindo seu efeito. “Pode ocorrer uma sobrecarga no fígado, já que a bebida e o medicamento serão metabolizados nesse mesmo órgão”, complementa a nutricionista.
O que fazer para não ter uma interação medicamentosa?
É sempre importante manter uma comunicação honesta com a equipe médica e multidisciplinar, informando o consumo, a quantidade e a frequência dos alimentos. Como nutricionistas e farmacêuticos são profissionais integrantes das equipes de cuidado do paciente oncológico, eles devem acompanhar, investigar e orientar, evitando as interações medicamento-alimento.
Imatinibe x Toranja
Pacientes com leucemia mieloide crônica (LMC) têm o Imatinibe como um de seus principais tratamentos, com excelentes respostas, possibilitando que tenham uma vida normal e livre da doença. Esse medicamento atua nos processos de proliferação e apoptose celular das células leucêmicas. No entanto, como é um comprimido para uso oral, necessita ser absorvido pelo trato gastrintestinal para poder agir. E, depois, para ser eliminado, depende de vários processos metabólicos que acontecem majoritariamente no fígado.
“A grapefruit (toranja) é um agente que inibe o metabolismo do CYP3A, uma enzima presente no intestino e fígado que participa também do mecanismo de absorção e metabolização do medicamento. Recomenda-se cautela ao administrar imatinibe junto com inibidores potentes do CYP3A4, pois eles podem levar ao aumento das concentrações plasmáticas do fármaco e esse tipo de interação aumenta o risco de ocorrência de efeitos adversos. Portanto, evite consumir suco de toranja e outros alimentos que inibem o CYP3A4 enquanto estiver tomando imatinibe. Claro que a quantidade, a frequência de consumo e o tipo do alimento ingerido interferem de maneiras diferentes. Se tiver dúvidas ou quiser tomar algum suplemento a base de plantas, como chás e remédios fitoterápicos, busque sempre orientação junto a sua equipe de saúde, do serviço em que se trata”, explica Denise Martins, farmacêutica-bioquímica, com especialização em nutrição clínica.
O Serviço de Atendimento ao Cliente do fabricante do remédio, cujo telefone 0800 está na caixinha do medicamento, também pode ser consultado.
Importante! Diferente do que tínhamos escrito anteriormente, a laranja não está na lista dos medicamentos que podem causar interação medicamentosa, quando ingerida junto ao Imatinibe.
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