Receber e doar sangue é seguro
Última atualização em 20 de julho de 2023
Há medidas rigorosas para garantir a segurança tanto do doador quanto do receptor. É importante superar o medo e o desconhecimento para aumentar os estoques sanguíneos e ajudar pacientes que dependem de transfusões
Os brasileiros não têm o costume de serem doadores de sangue por diversos motivos, dentre eles está o medo do ato trazer algum malefício para a saúde. Mas é fundamental saber que doar sangue é seguro e há uma série de procedimentos realizados para garantir essa segurança. O mesmo vale para quem recebe essa doação e, atualmente, são realizadas uma série de técnicas para, praticamente, eliminar as chances de contrair uma infecção.
A doação de sangue é um ato importante, que pode salvar até quatro vidas, e consiste na coleta de uma quantidade de sangue do voluntário. Feito isso, a doação é armazenada em um banco de sangue ou hemocentro, por meio de uma bolsa especial, e é encaminhada para quem precisar.
Quase 50% dos brasileiros apontam que não doam, pois têm medo do procedimento ou por falta de informações, de acordo com uma pesquisa realizada em 2021. Consequentemente, no Brasil, o número de doadores está abaixo dos 2% ideais definidos pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e dos 5% determinados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
O reflexo disso é a falta de estoques de bolsas sanguíneas nos hemocentros e também as vidas impactadas, já que as transfusões de sangue são necessárias em diversas situações. Por exemplo, no atendimento de acidentes, em complicações da dengue ou durante o tratamento do câncer, como o da leucemia.
Para reverter esse cenário, vamos explicar como acontece a doação e a transfusão, e as estratégias realizadas para oferecer segurança em ambas.
Doar sangue é seguro
O ato de doar sangue é simples, rápido e seguro e isso acontece porque todo o procedimento da doação, desde o cadastro até a coleta, dura cerca de 40 minutos e “os produtos utilizados são totalmente descartáveis, não tendo risco de contaminação”, a Drª. Mayara da Silva Cardoso, médica hematologista e hemoterapeuta da Fundação Pró-Sangue, afirma.
Para realizar a doação, o voluntário realiza o cadastro, passa por uma triagem, para verificar os sinais vitais e testar a anemia, e precisa responder algumas perguntas em uma entrevista.
“É muito importante que todos os doadores respondam as perguntas com seriedade, com clareza e sejam idôneos. Essa entrevista existe justamente para garantir a segurança dos pacientes que receberão o sangue”, a Drª. Mayara alerta.
Já na doação em si, são coletados, em média, 450ml de sangue, sendo que a quantidade pode variar de acordo com o peso e altura do doador.
Riscos da doação de sangue
De acordo com a especialista, eles são mínimos. O mais comum é o voluntário sentir as reações pós-doação, como tontura e visão turva. Mas, eles “não causam qualquer sequela ou malefício e, na maioria das vezes, são leves e passam rapidamente”, ela diz.
A Drª. Mayara ainda esclarece que, quando isso acontece, os hemocentros já estão preparados para oferecer assistência. Então, o doador é orientado a deitar e colocar suas pernas para cima.
“Em 20 minutos ele já se restabelece e consegue ir para casa. Essas reações não causam sequelas, então não precisa ter medo de vir doar por conta disso”, a médica comenta.
É importante saber também que esse ato não modifica as células sanguíneas, portanto, doar sangue não afina ou engrossa o sangue.
De acordo com a hematologista, “em 24h o plasma já é reposto, fica igual ao que estava antes. Enquanto que as hemácias já se renovam em quatro semanas. Ou seja, depois da doação, o sangue do voluntário volta exatamente como estava antes, depois de um tempo.”
Além disso, há estabelecido uma quantidade máxima de doações que uma pessoa pode fazer por ano, justamente para não interferir na sua saúde. Dessa forma, homens podem doar sangue até quatro vezes por ano, com um intervalo de dois meses entre cada uma delas, e mulheres podem doar até três vezes, com um intervalo de três meses.
“Isso garante que o organismo da pessoa reponha adequadamente os estoques de ferro”, a doutora esclarece.
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Receber sangue é seguro
É fundamental garantir que a transfusão de sangue seja segura, porque os pacientes que irão receber esse sangue, geralmente, estão com a imunidade baixa, vão realizar algum tipo de cirurgia ou não estão completamente saudáveis.
Para isso, é realizado um processo complexo e extenso, que se inicia nos postos de coleta. Logo após verificar que a saúde geral do doador está boa, a bolsa de sangue coletada também passa por uma série de testagens.
O primeiro teste é no setor de imuno-hematologia, onde é feita a tipagem sanguínea para saber se ele é O, A, B ou AB e se o fator é positivo ou negativo.
Já a segunda bateria de testes acontece no setor de sorologia, no qual é feito o teste NAT para detectar os vírus da hepatite B e C e do HIV, além de testes para Sífilis e doença de chagas.
“Tudo isso é feito para garantir um produto seguro para o paciente. Com o avanço nas técnicas de sorologia, as chances de você contrair uma infecção pela transfusão de sangue é mínima. Há até estudos em artigos e revistas que mostram que, por exemplo, a chance de cair um raio na sua cabeça é maior do que contrair alguma doença pelo sangue transfundido hoje em dia”, a Drª. Mayara pontua.
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A doação de sangue não é local para fazer testes sorológicos
“Infelizmente, é cultural algumas pessoas buscarem o banco de sangue para realizar testes para doenças sexualmente transmissíveis, em vez de procurar postos de saúde”, a hematologista comenta.
É de extrema importância ter em mente que essa atitude pode colocar em grande risco quem irá receber o sangue, pois, como mencionado anteriormente, muitas das pessoas que recebem a transfusão estão com a imunidade comprometida. Então, caso eles contraiam qualquer infecção, têm uma maior probabilidade de desenvolver um quadro grave.
A Drª. Mayara reforça que todas as bolsas de sangue doadas passam por um rigoroso processo de testagem, para que, caso alguma delas esteja contaminada, seja descartada. Entretanto, ela explica que existe algo chamado “janela imunológica”, que é quando a pessoa tem alguma doença, como a hepatite ou HIV, mas elas ainda não são detectáveis por meio dos testes.
A médica enfatiza que, por esse motivo, é indispensável o voluntário responder todas as perguntas da entrevista de forma honesta e sincera.
“Ao se voluntariar para doar com o intuito de fazer o teste, a pessoa está expondo aqueles que vão receber esse sangue, que muitas vezes são pacientes com câncer e imunossuprimidos. Está expondo essas pessoas a doenças que poderiam facilmente ser evitadas”, ela alerta.
Para realizar a testagem para os vírus, a orientação é procurar os Centros de Testagem e Aconselhamento.
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