Como está o acesso à Cannabis medicinal no Brasil
Última atualização em 1 de março de 2023
Assim como qualquer medicamento, essa terapia deve ser prescrita e acompanhada por um especialista, principalmente no caso de pessoas em tratamento de câncer
O uso da Cannabis medicinal no Brasil foi regulamentado pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2019. Desde então, 18 medicamentos feitos a partir da planta foram aprovados e o acesso a eles, facilitado. Mas ainda é preciso seguir alguns passos para comprá-los e o preço também pode ser um obstáculo. Recentemente, foi aprovada uma Lei em São Paulo, garantindo o fornecimento desse tipo de terapia no Sistema Único de Saúde (SUS) do Estado.
Bárbara Arranz, biomédica especialista em Cannabis medicinal e CEO da Hemp Vegan, esclarece que a legislação atual considera a indicação, ou não, da Cannabis medicinal uma responsabilidade do médico. Então, cabe ao especialista avaliar o caso e prescrever, ou não, o uso, bem como fazer a orientação de como utilizá-la.
Atualmente, essa terapia tem sido utilizada para tratar epilepsia refratária em crianças e adolescentes, Alzheimer, doença de Parkinson, doenças psicológicas, como depressão e ansiedade, e para pacientes oncológicos.
Bárbara conta que há alguns estudos avaliando a capacidade dos canabinóides de suprimir os tumores, mas seu principal uso é para amenizar os efeitos colaterais e sintomas.
“A principal função do uso do Cannabis na conduta terapêutica do paciente oncológico seria para ajudar no manejo da dor oncológica, no controle de efeitos colaterais da quimioterapia, como náusea e vômitos, e para ajudar com a ansiedade e depressão.”
A biomédica apenas alerta que há receptores canabinóides por todo o corpo humano, por isso a Cannabis medicinal pode acabar interagindo com outros medicamentos. Dessa forma, ela diz que é importante dar um intervalo mínimo de 3h entre o uso do canabidiol (CBD) e dos medicamentos do tratamento do câncer.
Quem pode prescrever Cannabis medicinal no Brasil?
De acordo com a Resolução RDC Nº 3, todo médico tem autorização para fazer a prescrição de medicamentos à base de canabinoides. Mas, a Bárbara indica que o ideal é buscar profissionais habilitados para fazer a prescrição e o acompanhamento. Sendo que esse profissional pode ser de qualquer especialidade médica, inclusive dentistas.
O Dr. Rodrigo Correa, clínico geral e especialista em cannabidiol e Longevidade, ressalta que “o importante não é a especialização em óleo de canabidiol, e sim o conhecimento que se tem a respeito do produto. Então há médicos que têm mais experiência e que já fazem isso há muito tempo e existem médicos que ainda não sabem fazer. Portanto, é necessário procurar alguém que saiba fazer e como acompanhar o paciente oncológico.”
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Como o acesso está funcionando
O Dr. Correa explica que para fazer uso de Cannabis medicinal no Brasil é preciso ter, primeiramente, a prescrição médica. A partir do momento que o paciente já possui esse documento, pode seguir três caminhos: comprar em farmácias, importar ou procurar associações que produzem o óleo.
No caso da compra do canabidiol em farmácias, “é um medicamento já importado, mas nacionalizado, então você consegue de pronta entrega”, o clínico geral fala. A biomédica Bárbara conta que, hoje em dia, é possível encontrar frascos de 10ml de óleos à base de CBD, a partir de R$300 nas drogarias.
Já para fazer a importação de canabidiol, é preciso solicitar e obter a autorização da Anvisa, por meio do site do governo, e fazer a importação por meio de importadoras autorizadas. O prazo para ter uma resposta sobre a autorização é de, em média, três dias úteis, já o processo de importação pode levar cerca de 45 dias. Nesses casos, o preço do óleo varia de acordo com o preço do dólar, mas pode custar de R$500 a R$1.500.
Também é possível o paciente procurar uma associação que tenha autorização para fornecer o óleo de CBD. Essa costuma ser a opção mais rápida, porém o Dr. Correa salienta que é fundamental estar atento à qualidade do medicamento. Aqui, o preço pode ir de R$250 a R$500.
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Como conseguir o canabidiol pelo SUS?
No final de janeiro deste ano, o governador de São Paulo sancionou uma lei que autoriza a distribuição gratuita de medicamentos à base de canabidiol na rede pública de saúde do estado.
Os medicamentos serão distribuídos apenas para tratar doenças cujo uso de canabinoides esteja indicado na Classificação Internacional de Doenças (CID).
Os pacientes precisarão fazer um cadastro na Secretaria de Saúde do Estado, que pode ser feito online, por e-mail ou presencialmente, apresentando laudo e prescrição médica, além de um atestado comprovando que eles não têm condições financeiras de comprar a medicação.
Esse cadastro terá validade de um ano e só será renovável mediante à apresentação de um novo laudo médico contendo a evolução do caso após o uso do medicamento e nova prescrição com posologia, quantitativo necessário e tempo de tratamento previsto.
É importante saber que:
- O cadastro pode ser feito no nome do paciente ou de um representante legal.
- Só serão distribuídos os tratamentos com concentração máxima de tetrahidrocanabinol autorizado pela Anvisa.
- O laudo precisa ser emitido por um profissional legalmente habilitado e conter a descrição do caso, a CID, uma justificativa para o uso do medicamento e a evolução com os tratamentos realizados anteriormente.
Tanto a biomédica Bárbara, quanto o Dr. Correa, acreditam que a divulgação de informação e um diálogo aberto entre médico e paciente são fundamentais para que todos que possam e queiram ter acesso, consigam adquirir o medicamento.
“A forma mais simples é levar informação, mostrar estudos e relatos de pacientes que fazem o tratamento, mostrar os inúmeros benefícios e como outras pessoas tiveram um aumento significativo na qualidade de vida”, fala Bárbara Arranz.
“Então a gente precisa difundir os benefícios do óleo em pacientes em diversas patologias, inclusive o câncer. Quanto mais divulgação, maior a probabilidade de quebrar o preconceito e muitos outros colegas médicos vão prescrever a medicação para o alívio de muitas pessoas”, comenta o Dr. Rodrigo Correa.
Daora