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Obesidade infantil pode causar câncer no futuro

Obesidade infantil pode causar câncer
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Última atualização em 7 de dezembro de 2022

Combater a obesidade é algo que deve ser feito desde cedo, para diminuir as chances do desenvolvimento de um câncer durante a vida adulta

Escrito por: Natália Mancini

O aumento da obesidade infantil no Brasil e no mundo tem preocupado muitos especialistas na área. Isso acontece não só por conta dos riscos que o peso excessivo pode causar durante a própria infância, mas também pois o quadro aumenta as chances do aparecimento de algumas doenças quando essas pessoas forem um pouco mais velhas, como é o caso do câncer. Para evitar, é preciso oferecer uma vida mais saudável desde o nascimento e isso deve ser garantido pelas famílias e por meio de políticas públicas. 

De acordo com o World Obesity Atlas 2022 estamos passando por uma epidemia de obesidade e, até 2030, 7,7 milhões de crianças brasileiras estarão obesas. Apesar da obesidade infantil, por si só, já ser uma preocupação, por conta dos diversos problemas de saúde que ela pode causar, como o diabetes, também há uma apreensão em relação ao futuro desses jovens.

“Os hábitos e estilo de vida, relacionados ao ganho excessivo de peso, que se iniciam na infância, tendem a se perpetuar na vida adulta. Então, quanto mais cedo inicia-se a obesidade maior a chance de a criança vir a se tornar um adulto obeso”, a Drª. Fabíola Isabel Suano de Souza, presidente do Departamento Científico de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) alerta. 

Ela conta que a obesidade é uma doença multifatorial, ou seja, que diversos fatores influenciam no desenvolvimento do quadro. Dentre os principais motivos estão os hábitos alimentares, a não realização de atividades físicas, questões genéticas e, nos últimos anos, uma outra questão acabou influenciando bastante: a pandemia da COVID-19.

“As crianças foram afastadas da escola e atividades habituais por quase dois anos. Permaneceram em casa consumindo alimentos ultraprocessados e estavam envolvidas em ambiente de estresse tóxico (sofrimento, mortes e perdas de familiares). O empobrecimento da população e a inflação dos alimentos, que foi muito maior nos quesitos considerados saudáveis, levou as famílias a consumirem mais alimentos ultraprocessados, que ficaram relativamente mais baratos. Esse padrão de alimentação pode levar a todas as formas de ‘má-nutrição’, como desnutrição, obesidade e carência de micronutrientes”, a médica esclarece.

Câncer e obesidade infantil

O excesso de peso não pode ser considerado um fator de risco para o câncer nas crianças, porque o tempo de exposição é baixo. Isto é, o tempo que a criança passa convivendo com a obesidade não é suficiente para causar um câncer durante a própria infância e juventude, explicam as doutoras Marise Moretti, da Nutrologia pediátrica do GRAACC, e Cristiane Ferreira Marçon, nutricionista Clínica do GRAACC.

Criança com obesidade no médico

Entretanto, elas concordam com a Drª. Fabíola sobre a importância de controlar a obesidade desde a infância e ainda acrescentam que “é desde a mais tenra idade que devemos cuidar para que não haja desenvolvimento de tumores na idade adulta”. E o controle de peso é uma das formas de prevenir o câncer.

As médicas do GRAACC alertam que, no caso de crianças com câncer que são obesas, o peso excessivo pode estar ligado a um pior prognóstico. 

“Estudos mostram que a obesidade pode ser um fator de pior evolução durante o tratamento e, pensando a longo prazo, estudos sugerem um possível aumento no risco de uma segunda neoplasia ainda na infância ou adolescência.

Por esse motivo, elas orientam que durante o tratamento do câncer infantil é ainda mais importante ter uma alimentação adequada. 

“A dieta deve ser baseada, prioritariamente, em alimentos in natura ou minimamente processados, com controle do consumo de alimentos processados e ultraprocessados, como bebidas açucaradas, salgadinhos e doces.”

Leia também:

Como prevenir a obesidade infantil

Alimentação saudável para crianças

É importante saber que  ela deve ter início, na verdade, desde antes do nascimento. 

As doutoras Marise e Cristiane comentam que “uma alimentação saudável e balanceada deve ser priorizada desde a gravidez, e até mesmo no período pré-concepcional. É crescente o conhecimento de que já no período fetal a exposição a fatores de risco pode levar à obesidade futura. Por isso, fala-se cada vez mais na importância do estilo de vida saudável, com consumo alimentar adequado e atividade física regular.”

Alimentação saudável para crianças

A Drª. Fabíola complementa que o ganho de peso que a mulher tem durante a gravidez também aumenta a chance da criança ter obesidade nos primeiros anos de vida.

Uma alimentação saudável para crianças menores de 2 anos, segundo o Guia Alimentar publicado pelo Ministério da Saúde, inclui:

  • Aleitamento materno
  • Alimentos in natura e minimamente processados
  • Preparações culinárias que envolvam alimentos regionais (de época) 
  • Consumo de água em vez de refrigerantes e sucos

Um ponto importante que a nutróloga ressalta é que a fase de alimentação complementar, na qual os alimentos naturais e a água devem ser incluídos, somente se inicia após os seis meses de vida. Até esse período, o recomendado é somente oferecer leite materno.

“Sabe-se que o aleitamento é uma estratégia potente para reduzir doenças em curto e longo prazo para as crianças, incluindo a obesidade. Além de também trazer benefícios para a mãe, como redução do diabetes e de câncer de mama”, ela diz.

Em relação aos alimentos ultraprocessados, a Drª. Fabíola esclarece que eles são produtos altamente palatáveis, isto é, que agradam muito o paladar. Então, se a criança se acostuma com esses sabores desde cedo, isso influenciará nos seus hábitos alimentares ao longo da vida. Sendo que esses alimentos estão relacionados com o desenvolvimento de sobrepeso e obesidade.

Mesmo para crianças com mais de dois anos, o consumo desse tipo de comida deve ser limitado e reduzido.

Hábitos de vida saudáveis

A Drª. Fabíola salienta que o principal objetivo é reduzir o sedentarismo, aumentando a prática de atividades físicas. Isso envolve, especialmente, a movimentação dentro e fora de casa, e prática de esportes.

Ela pontua que é muito importante reduzir o tempo que as crianças passam em telas (tablet, celular, televisor, computador). Além dessa atividade ter um baixo gasto energético, também expõe a criança a propagandas que estimulam o consumo de alimentos ultraprocessados.

Crianças se exercitando para evitar a obesidade infantil

“As famílias devem incentivar e acompanhar as crianças em atividades ao ar livre que envolvam brincadeiras, esportes e contato com outras crianças. Criança que brinca esquece de comer demais, gasta energia, toma sol e, certamente, fortalece aspectos da sua saúde mental”, a doutora recomenda.

Políticas Públicas

Para que as famílias possam proporcionar ambientes saudáveis para as crianças, um dos primeiros passos é a cidade estar mais preparada para  possibilitar a realização de atividades fora de casa.

De acordo com a Drª. Fabíola, “a cidade deve estar mais preparada para isso em termos de espaços adequados (verdes, seguros, com brinquedos adequados para idade) e a população deve preservar esses locais. Quanto mais espaços verdes perto do domicílio, maior a chance de a criança aumentar o tempo com atividades não sedentárias. Isso é um fato.”

Políticas públicas para saúde das crianças

Ela também chama a atenção que “não adianta nós falarmos que a família deve ter uma alimentação saudável se isso não está encaixando no orçamento. Só aumenta a frustração e o estresse que a sociedade já está vivendo.”

Por isso, para que todas as famílias consigam oferecer às suas crianças uma alimentação adequada e saudável, a Drª. Fabíola Isabel Suano de Souza lista algumas medidas importantes:

  • Redução dos preços dos alimentos in natura e minimamente processados
  • Promoção da alimentação adequada na escola por meio do fortalecimento da PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar)
  • Educação nutricional na atenção básica
  • Estímulo à agricultura familiar (campo e nas cidades) 
  • Redução do desperdício 
  • Melhora da rotulagem dos alimentos  
  • Combate a propaganda abusiva de alimentos inadequados para crianças (ultraprocessados)

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