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Vida além da LLA: a jornada do diagnóstico ao pós-câncer

Paciente de LLA
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Última atualização em 4 de agosto de 2023

Ser diagnosticado com um tipo raro de leucemia linfoide aguda (LLA) na adolescência mudou a forma que Kaue vê a vida. Hoje, ele tem uma rotina normal, perseguindo sua carreira e hobbies, e valoriza cada momento em remissão

Escrito por: Natália Mancini

Já imaginou descobrir que você tem câncer por meio da pessoa com quem você está dividindo o quarto de UTI? Pois foi assim que Kaue Figueiral, que na época tinha 14 anos, descobriu que era um paciente de LLA. Depois de um intenso tratamento, hoje, ele está bem e acredita que os três pilares que deram, e ainda dão, suporte para chegar mais longe são a família, o amor e a fé.

“Foi até uma situação engraçada. Eu já estava internado no Hospital das Clínicas, no setor de quimioterapia de alto risco, e dividia o quarto com um colega. Um dia eu fiquei sozinho com esse colega e ele perguntou ‘Qual tipo de câncer você tem?’. Eu nem sabia que eu tinha câncer ainda, meus pais me protegeram um pouco disso e, a partir dessa situação, começaram a vir as explicações bem detalhadas de tudo que estava acontecendo e quais seriam os próximos passos”, Kaue Figueiral, economista no mercado de capitais, 25 anos, conta. 

Ele relembra o início e a jornada até o diagnóstico.

“Eu tinha 14 anos na época e sempre fui um menino muito ativo, então eu participava de campeonatos de skate, fazia jiujitsu e sempre pratiquei muitos esportes.”

Em certo momento, algumas manchas roxas começaram a aparecer no corpo do Kaue e seu nariz começou a sangrar. Ele buscou diferentes médicos para investigar os sintomas, mas eles disseram que não era nada preocupante, que era devido ao esporte.

“Até que, certo dia, senti muita dor na minha lombar, na parte do cóccix, e acabei não conseguindo mais andar. Fui para o pronto socorro, em um posto de saúde de Curitiba, e eles fizeram um exame de sangue.”

Os médicos do posto identificaram algumas alterações muito suspeitas no hemograma e encaminharam Kaue de ambulância para o Hospital das Clínicas.

 “Eu entrei em uma ambulância e simplesmente fui para o outro hospital e, ali, segui internado”, ele recorda.

A surpresa de ser um paciente de LLA

Na época, Kaue estava tão mal, que não se atentou ao diagnóstico. Então, quando descobriu o que estava acontecendo, já estava prestes a começar a quimioterapia. Foi quando seu colega de quarto, como mencionado anteriormente, contou a ele que estava com câncer.

“A minha descoberta do câncer foi um susto, porque meu colega de quarto era uma pessoa bem pessimista e também me perguntou ‘Quanto tempo você tem de vida?”, relata. 

Paciente de LLA

Ele também menciona que, depois de receber todas as explicações detalhadas, passou a compreender melhor a leucemia. Inclusive, seu pai se tornou um grande estudioso sobre seu câncer, então ambos estavam sempre à par de tudo que estava acontecendo e como e quais seriam os tratamentos.

Kaue havia sido diagnosticado com uma leucemia bastante rara, era uma leucemia linfoide aguda (LLA) em crise blástica com cromossomo Philadelphia positivo.

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A dúvida era: como tratar essa LLA rara?

Por não ser uma leucemia comum, não havia um protocolo de tratamento totalmente definido. Então, Kaue diz que sua terapia foi quase um tratamento teste, no qual ele foi submetido a diversas quimioterapias em vários formatos.

“Foram quase quatro meses de quimioterapia intensa. Fiz quimioterapia de alto risco, fiz quimioterapia ambulatorial, quimioterapia via oral. Então, nesse primeiro momento, na primeira internação, foi a parte mais ‘punk’.”

Tratamento para LLA infantil

Mas, seu corpo e a doença não reagiram da forma que os médicos esperavam e a solução encontrada foi realizar um transplante de medula óssea (TMO).

“Eu fiquei feliz e assustado com a notícia do transplante, mas muito contente que tinha uma saída e tinha um tratamento. Olhando para o lado mais macro do negócio, para os meus pais foi um baita de um alívio, uma saída e uma luz no fim do túnel”, ele fala. 

Mais uma surpresa aconteceu nesse momento, porém, dessa vez, uma maravilhosa: seu irmão mais novo, que, na época, tinha só sete anos, fez o teste de compatibilidade da medula e descobriram que ele era 100% compatível.

“Isso me provou que Deus escreve certo por linhas tortas, foi o momento que descobriram que meu irmão era 100% compatível comigo, ou seja, o gene dele é o meu. Na consulta, o médico falou, principalmente para a minha mãe, ‘Olha, agora você pode chorar, porque é muito difícil isso acontecer, então agora você pode chorar e de alegria!’’, o economista relembra.

O pré-TMO

Antes de internar para começar o condicionamento para o transplante, Kaue e sua família viveram o que eles passaram a chamar de “Tempo do Amor”.

“Eu fiz uma viagem para o Rio de Janeiro com os meus parentes. Fiz um roadshow (viagem de carro com várias paradas) e fiquei lá uma semana. Eu encontrei familiares e fui a restaurantes que amo, então eu tive esse tempo do amor, que a gente chamou aqui em casa, e aí sim entrei para o transplante.”

Depois de internado, ele começou com o condicionamento, fazendo sessões diárias de quimioterapia e radioterapia até chegar o D0, dia da transfusão da medula óssea. 

TMO para paciente de LLA

“Meu irmão de sete anos doou a medula para mim, foi um sucesso, foi lindo, a minha medula pegou rápido e aí começou o pós-transplante”, Kaue descreve. 

Essa parte foi desafiadora de um jeito muito diferente para o jovem paciente. Ele conta que ter de ficar dois anos sem tomar Sol e tendo um cuidado extremo com a higiene foi uma fase bastante complicada.

Kauê considera que tudo correu bem nessa etapa graças a sua mãe.

“Eu tenho que dedicar o meu sucesso de vida à minha mãe, que foi uma pessoa que me colocou numa bolha dentro de casa. Ela lavava todo dia os meus lençóis, fazia minha comida, trocava minhas toalhas. Então, ela me deixou em um ambiente muito higiênico e muito cuidadoso, que foi o que me fez ter sucesso, passar sem ter nenhuma bactéria e ficar bem.”

Depois de três ou quatro meses, os médicos passaram a liberar algumas atividades: andar de skate sem pegar Sol e, um pouco mais para frente, voltar para a escola.

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O tratamento não acabou por aí, mas a vida queria acontecer

Como vimos, a LLA do Kaue era rara e tinha a alteração genética conhecida por “cromossomo philadelphia positivo”. Por este motivo, ele também precisou utilizar um inibidor de tirosina-quinase, o imatinibe, medicamento bastante conhecido aos pacientes com leucemia mieloide crônica.

“Quando eu soube que precisaria tomar esse remédio para o resto da vida,  fiquei frustrado e depois eu entendi a importância de ter um tratamento, de eu estar vivo, estar lutando e trabalhando”, Kaue confessa.

O economista descreve que, desde então, sua vida tem sido uma montanha-russa. Teve duas recidivas, mas, em ambas as vezes, alcançou a remissão novamente e tentou interromper o uso do imatinibe, mas não deu certo.

Paciente de LLA
Paciente de LLA pós-tratamento
Paciente de LLA
Paciente de LLAPaciente de LLA pós-tratamentoPaciente de LLA

“A cada seis meses eu tenho que voltar ao hospital para fazer o exame de medula e é um turbilhão de emoções. É uma ansiedade para saber se eu estou bem. Mas, sempre que vem a notícia de remissão e que você está estável, é um alívio, é uma comemoração aqui em casa – a gente sempre sai para jantar, sempre fazemos alguma coisinha. No aniversário de transplante é a mesma coisa, sempre tem bolo”, o economista fala. 

Ele detalha que hoje em dia, está formado em economia, trabalha no mercado financeiro e tem uma rotina normal, graças ao medicamento. 

“Hoje eu vivo minha vida, eu luto, eu faço meu jiu-jitsu, ando de skate, surfo, pego Sol, trabalho muito e estudo muito. Tenho uma vida normal. Agora estou me preparando, conversando com os médicos, para ter filhos e construir minha família. Então, eu tenho uma expectativa e uma vontade de viver que é maravilhosa. É uma notícia linda estar em remissão. A gente tem que ter garra, porque a vida é linda, a vida é longa e o amor e a família e a fé são os três pilares que vão sempre dar suporte para a gente chegar mais longe”, Kaue Figueiral declara.

O que achou sobre a história do Kaue? Deixe sua opinião abaixo e compartilhe sua experiência também! ?


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Para quem está passando por esse desafio, tenha certeza que fé, amor e paixão pela vida são os ingredientes para superar esse desafio. História linda e inspiradora

É um lutador nunca desistiu. Eu como vó tenho maior orgulho desses meus dois netos. Um salvou a vida do outro. Isso era predestinado.

Tenho muito orgulho do homem que você é e da sua história, que o teu testemunho de vida sirva para inspirar e incentivar pessoas. Nada é por acaso! Amo você e te desejo muita vida ??

Não o conheço mas sou amiga de sua avó e sei do orgulho q ela tem dos netos. Kauê foi guerreiro não desistindo nunca e seu irmão seu herói salvando sua vida. Fé, amor e família salvam vidas. História linda de superação.

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