O chá verde pode curar o câncer? Entenda

Em alguns casos, o chá verde pode reduzir a eficácia da quimioterapia contra a doença
O chá verde é conhecido popularmente por trazer diversos benefícios para a saúde e algumas pessoas pensam que ele pode até mesmo melhorar e curar o câncer. Porém, em alguns casos, essa substância pode atrapalhar o tratamento e causar outras doenças.
O chá verde pode curar o câncer?
Isabelle Novelli, do Comitê de Nutrição da Abrale, explica que não existe nenhuma evidência científica de que o chá verde “cure” o câncer. “Mesmo os resultados laboratoriais promissores com EGCG (epigalocatequina-3-galato) ainda não se traduziram em benefício clínico robusto”, afirma.
A nutricionista destaca que nenhuma planta ou “remédio natural” mostrou eliminar tumores humanos. “Alegações de cura costumam vir de relatos pessoais, estudos in vitro isolados ou marketing enganoso. Quando usamos de método científico e investigamos esses produtos eles falham em provar qualquer tipo de eficácia”, alerta.
‘Mal não vai fazer’. Será?
Segundo Novelli, além de não trazer benefícios, algumas substâncias podem inibir o efeito da quimioterapia. Ou seja, a expressão “se não fizer bem, mal não faz” não se aplica a algumas substâncias naturais.
“‘Natural’ não é sinônimo de seguro. Qualquer substância com atividade biológica suficiente para ‘ajudar’ também pode: modificar a metabolização de quimioterapias, aumentar toxicidade do tratamento e trazer contaminantes (metais pesados, pesticidas, adulteração com fármacos)”, ressalta.
Quais substâncias naturais podem ser tóxicas e atrapalhar o tratamento?
O chá verde, por exemplo, pode inativar o medicamento bortezomibe, usado em mieloma múltiplo, e reduzir a eficácia do tratamento.
Assim, a nutricionista entende que, em alguns casos, pode ser indicado, durante o tratamento, o paciente não tomar ou tomar em pequenas quantidades esse chá. Ervas como a de São João “induzem enzimas hepáticas (como a CYP3A4), diminuindo a concentração de quimioterápicos”, a nutricionista cita e continua: “Pode acontecer toxicidade direta, têm casos de hepatite fulminante por uso de fitoterápicos, como os ‘chás detox’, contaminados”.
A graviola e o chá de folhas de graviola, substância conhecida popularmente como “anticancerígena”, quando é consumida em altas doses, todos os dias, pode causar um parkinsonismo atípico devido a neurotoxinas presentes na planta.
A cúrcuma e o gengibre, em cápsulas concentradas ou em megadoses, também podem ser prejudiciais. “Em doses culinárias são seguras, mas suplementos concentrados podem interferir em quimioterápicos metabolizados no fígado”, explica Novelli.
Altas doses de vitamina C, chamada de “terapia metabólica” na internet, podem estabilizar medicamentos baseados em metais, a cisplatina, por exemplo, e isso tira o efeito do quimioterápico. Segundo a nutricionista, essa “terapia” também pode levar pacientes vulneráveis à falência renal.
Outra substância que, em excesso, pode causar hepatite é a babosa. “O consumo em doses medicinais carece de provas de eficácia contra o câncer e já foi ligado à hepatite tóxica e colite severa”, ressalta Novelli.
Abandono da quimioterapia
A nutricionista lembra que, algumas vezes, os pacientes também substituem quimioterapias e remédios com eficácia comprovada por substâncias “naturais” que supostamente combatem as células cancerígenas.
Ela recomenda que “antes de iniciar qualquer suplemento ou fitoterápico, avise o oncologista, o farmacêutico clínico ou o nutricionista”, diz e acrescenta: “Fitoterápicos podem ter lugar como adjuvantes em protocolos bem estudados, mas nunca como substitutos – e sempre sob orientação da equipe de saúde”.