Jovens podem ter mieloma múltiplo? 

Última atualização em 28 de julho de 2021

Não só podem, como o tratamento, nessa faixa etária, apresenta alguns desafios específicos para a Medicina

Também conhecido como apenas “mieloma”, essa neoplasia maligna surge quando os linfócitos B (glóbulo branco) sofrem uma mutação genética durante seu processo de diferenciação. Ou seja, os linfócitos B se tornam plasmócitos e, durante esse processo, ocorre um erro que faz com que plasmócitos anormais passem a ser produzidos de forma descontrolada.

Apesar de se desenvolver, majoritariamente, em idosos, o mieloma múltiplo pode aparecer em adultos, jovens e crianças também. Ainda não se sabe o porquê da doença se manifestar nesses grupos com menos idade.

Alguns tipos mais agressivos da doença tendem a acometer mais as pessoas abaixo dos 40 anos. Como é o caso da leucemia de células plasmocitárias. 

“Entretanto, em geral, pacientes jovens apresentam sobrevida mais longa”, conta a Drª. Fernanda Salles Seguro, médica assistente da Hematologia do ambulatório de Mieloma Múltiplo do Icesp.

Mieloma múltiplo é hereditário?

Não, na maioria dos casos, a doença não tem um fator hereditário, explica a hematologista. 

“Entretanto, a doença é mais comum na população negra e em pessoas que tenham familiares, em primeiro grau, acometidos”, ela complementa.

Quais os sintomas de mieloma múltiplo em pacientes jovens?

A faixa etária da pessoa não interfere nas manifestações da doença. Dessa forma, os sintomas de mieloma múltiplo são:

• dos nos ossos
• fraturas ósseas espontâneas
• cansaço e fraqueza
• perda de peso
• inchaço nas pernas
• insuficiência renal
• infecções constantes
• perda de apetite
• sede exagerada
• constipação grave

Porém, assim como acontece com os idosos, os pacientes jovens também podem ser assintomáticos.

Por outro lado, “alguns sintomas, como cansaço e dor na coluna, podem ser menos valorizados em pessoas jovens”, a Drª. Fernanda ressalta. Ou seja, ao apresentarem esses sinais, esses indivíduos não associam a um possível câncer.

Como é realizado o diagnóstico do mieloma múltiplo?

Tudo começa com o hemograma completo (exame de sangue). Se as células apresentarem algumas alterações específicas, vem a suspeita. Em seguida, é feita uma eletroforese de proteínas no sangue para encontrar a proteína M, muito comum nos pacientes de mieloma.

O próximo passo é realizar um mielograma e biópsia de medula óssea. Caso esses exames apontem mais de 10% de plasmócitos na medula óssea, é confirmado o diagnóstico de mieloma múltiplo.

O hematologista também pode solicitar exames de imagem. Por exemplo, radiografia óssea, tomografia computadorizada, PET Scan e ressonância magnética. Eles são feitos para verificar alterações nos ossos e também se há a presença dos plasmócitos pelo corpo.

Ou seja, o processo é o mesmo independentemente da idade do paciente.

Tratamentos para mieloma múltiplo em pacientes jovens

De acordo com a hematologista, mesmo para esse grupo, as terapias disponíveis atualmente ainda não oferecem um tratamento curativo. Entretanto, a grande diferença é que boa parte desses pacientes podem realizar o transplante de medula óssea (TMO) e apresentam melhor tolerabilidade às drogas.

“Todos os pacientes com mieloma, ao diagnóstico, são avaliados se podem receber transplante autólogo como primeira linha de tratamento. Pacientes jovens, em geral, são elegíveis para transplante”, ela conta.

Para aqueles que não são candidatos ao TMO, o tratamento é feito com medicamentos, de forma contínua e com menor intensidade. 

A Drª. Fernanda ainda fala que “os mais jovens toleram melhor os tratamentos disponíveis quando comparados com os pacientes mais idosos. ”

Dentre os desafios e preocupações do tratamento nessa faixa etária, a doutora cita a necessidade de oferecer terapias que proporcionem maior chance de resposta.

“Como o tratamento do mieloma múltiplo não é curativo e a mediana de sobrevida com as drogas novas é de 10 anos, o principal desafio é oferecer aos pacientes o tratamento que ofereça maiores chances de resposta e com boa tolerabilidade”, diz.

Ela também comenta que a fertilidade é uma questão que gera preocupação em pacientes de mieloma múltiplo jovens. 

“Existem poucos estudos sobre a segurança do uso dos medicamentos anti mieloma na gestação e, alguns deles, como talidomida e lenalidomida, são sabidamente teratogênicos. Além disso, pacientes mais jovens, em geral, realizarão transplante autólogo, o que pode causar infertilidade. ”

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