Alimentação infantil durante o tratamento oncológico
Última atualização em 29 de julho de 2021
Comer, de forma balanceada, é essencial para um desenvolvimento saudável, além de ajudar a diminuir os efeitos colaterais do tratamento do câncer em crianças
Enfrentar dificuldades para comer é uma situação comum para quem está passando pelo tratamento contra uma neoplasia maligna. No caso do câncer infantil, não é diferente. Esses pacientes também podem apresentar perda de apetite, enjôos, alteração no paladar, boca seca e diarreia.
“Quando uma criança ou adolescente inicia um tratamento oncológico, um dos maiores desafios é garantir o fornecimento de uma alimentação que seja nutritiva e atraente. Também é preciso que supra toda a demanda metabólica exigida para recuperação imunológica, sem comprometer o crescimento e o desenvolvimento que naturalmente devem ocorrer nas crianças e adolescentes”, diz Giovana Lourenção, nutricionista do Centro Infantil Boldrini .
Para criar uma dieta que ofereça todos esses nutrientes, é essencial avaliar cada paciente individualmente e conhecer sua família. Dessa forma, é possível sugerir uma alimentação que considere a dinâmica alimentar daquelas pessoas e a melhor estratégia nutricional para o período do tratamento.
O que está proibido na alimentação infantil durante o tratamento oncológico?
Em geral, nenhum alimento está proibido, apenas é preciso tomar alguns cuidados com as chamadas “tranqueiras”. Por exemplo, doces, frituras, salgadinhos etc. Entretanto, caso seja preciso controlar a glicemia, quantidade de açúcar no sangue, ou a pressão, pode ser preciso cortar esse tipo de comida.
De acordo com a nutricionista, poucos alimentos são excluídos durante o tratamento do câncer infantil. Contanto que ele seja saudável e bem aceito pelo paciente, deve ser incluído na alimentação infantil, mesmo se fornecer pouca caloria.
“Os doces, frituras, devem ser consumidos com muita moderação. Pois além de serem isentos de nutrientes essenciais, como vitaminas e minerais, carregam diversas substâncias químicas, como corantes e conservantes. Essas substâncias, em excesso, podem levar a outras reações adversa”, Giovana explica.
Em curto prazo, as “tranqueiras” podem levar à desnutrição, fazendo com que a tolerância ao tratamento seja menor. Ou seja, o jovem pode ficar fraco e não responder conforme esperado à terapia, sendo necessário alterar as estratégias antineoplásicas.
Já a médio e longo prazo, o consumo excessivo de gordura, sal e açúcar é fator de risco para doenças crônicas não transmissíveis no adulto. Como hipertensão arterial, diabetes tipo 2 e obesidade.
Qual quantidade desses alimentos pode ser consumida por dia?
Seguindo a pirâmide alimentar infantil, a ingestão diária máxima de açúcar adicionada à alimentação de 2 a 18 anos não deve ultrapassar 25g/dia. Equivalente a seis colheres de chá por dia.
“Lembrando que uma porção de 20g de bala mastigável, por exemplo, pode conter até 19g de açúcar. Já um copo de refrigerante tipo cola pode chegar a até 17,4g de açúcar”, ressalta a nutricionista.
O consumo de sódio não deve ultrapassar 1500mg por dia, o que corresponde a 4g. “Um pacote de macarrão instantâneo possui, em média, 2068mg de sódio; uma salsicha tem 575mg e molhos prontos, 340 mg”, Giovana conta.
Quanto aos lipídeos, ou gorduras, não devem ultrapassar 30% das necessidades nutricionais daquela pessoa. Porém, o ideal é que essas gorduras venham de fontes saudáveis, como azeite extra virgem, abacate, castanhas e sementes oleaginosas. Em vez de serem originárias de embutidos, frituras, recheio de bolachas e afins.
“Os lipídios são essenciais para absorção de vitaminas lipossolúveis. Além de serem uma excelente fonte energética para aumento do aporte calórico em pacientes desnutridos”, a especialista comenta.
O que o paciente infantil deve ter na sua alimentação?
Não há nenhum alimento ou tipo de alimento que possa, sozinho, fornecer as calorias e nutrientes que o metabolismo exige. Assim, é necessário inserir na alimentação dos jovens uma grande variedade de comida. Para entender qual o tipo mais adequado para aquele paciente é feita uma análise do seu estado nutricional, suas preferências e quais pratos ele não gosta, e os hábitos.
“Os sinais e sintomas decorrentes do tratamento oncológico, embora comuns a grande maioria dos pacientes, variam. Dependem das características individuais, sua tolerância aos medicamentos, seu diagnóstico diferencial e ao tratamento como um todo”, Giovana informa.
Por exemplo, dois jovens com a mesma idade, tipo de câncer e tratamento semelhantes. Eles podem apresentar desnutrição em intensidades diferentes e isso pode ocorrer tanto devido ao tratamento quanto ao estado nutricional daquele paciente antes do diagnóstico. Por isso é necessário realizar a avaliação individual.
Frequentemente, os pacientes apresentam deficiência de nutrientes devido aos efeitos colaterais do tratamento, como náuseas, vômitos e diarreia. Sendo que, normalmente, as A, C, D e complexo B têm uma queda maior. Fora os elementos como zinco, selênio e ferro, que também sofrem uma diminuição significativa.
“Desta forma, a insistência por estimular uma alimentação rica e variada em frutas e hortaliças, cereais, grãos, carnes magras, peixes, é essencial para manutenção dos níveis adequados de vitaminas e minerais, e garantia de melhor resposta ao tratamento”, a nutricionista alerta.
Esses elementos podem ser consumidos por meio de sopas, purês, sucos de frutas variados, caldos enriquecidos com legumes e outros.
Porém, caso o paciente não consiga suprir suas necessidades nutricionais por meio da dieta, podem ser utilizados suplementos vitamínicos.
Quais alimentos que ajudam no tratamento do câncer infantil?
A dica número um. e que vale para auxiliar a amenizar vários efeitos colaterais relacionados à alimentação, é manter-se hidratado! Além da própria água, os sucos são uma ótima opção. Principalmente os de laranja, limão, tangerina, acerola, abacaxi e maracujá, com um pouco de hortelã ou gengibre. Outra opção é fazer geladinhos, picolés, frozen e iogurtes com essas frutas.
Dentre os alimentos para enjoo encontra-se o limão, que pode ser consumido conforme mencionado acima. Ou ainda, como um tempero para a comida, pingando algumas gotas do seu suco no prato.
“Apenas deve ser evitado o consumo de limão se o paciente estiver em quimioterapia com drogas tóxicas à mucosa gastrointestinal. Bem como na vigência de aftas/feridas orais ou gastrointestinais”, Giovana reforça.
Outras formas de diminuir as náuseas são:
- Aumentar o fracionamento da dieta, reduzindo o tamanho das porções,
- Evitar jejuns prolongados;
- Dar prioridade a alimentos mais secos, como torradas, biscoitos;
- Evitar excesso de líquidos com as refeições;
- Preferir alimentos com temperaturas mais frias/geladas (picolés, sucos de frutas, geladinho de frutas, bebidas gasosas são bem toleradas;
- Evitar alimentos muito doces, preferir os cítricos, pois aumentam a salivação;
- Evitar alimentos fritos, gordurosos, pois exigem maior esforço digestivo;
- Fazer refeições em ambiente calmo e tranquilo e livre de odores
- Tomar os remédios contra enjoos e vômitos conforme orientação médica e não somente quando apresentar os sintomas.
Alimentos para diarreia
Alguns alimentos para diarreia ou outras alterações nas fezes são os sem gordura e condimentos. Como arroz, batata, cenoura, chuchu, frango, banana maçã, maçã sem casca, caju e goiaba.
A dica da hidratação vale para esses casos também, porém recomenda-se preparar os sucos com frutas que diminuam a diarreia. Por exemplo, caju, goiaba, maçã, limão.Também podem ser utilizados isotônicos ou soros, chás e água de coco.
Para esses casos, alimentos gelados e pastosos podem satisfazer melhor o paciente.
“Caso ocorra persistência do quadro, ou piora clínica, como desidratação, procure o serviço de referência imediatamente”, orienta a nutricionista.
Essas dicas também podem ajudar a diminuir a alteração do paladar, podendo fazer com que a alimentação infantil seja facilitada.
“Os jovens necessitam de um olhar um pouco mais íntimo em virtude da própria característica da adolescência, com as mudanças comportamentais e físicas intensas desta fase. E se não estivermos atentos, podemos deixar passar situações que poderiam ter sido resolvidas antes de tornarem-se mais graves”, Giovana Lourenção finaliza.
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Olá, meu filho fez tratamento oncológico entre 3 meses de idade até 1 ano de idade e segue tomando medicamento anticonvulsivante. A introdução alimentar dele foi dentro do tratamento e sem muito sucesso. Hoje ele tem 1 ano e 9 meses e uma intensa rejeição e neofobia alimentar. Penso, inclusive em transtorno, estou lendo sobre TARE. O que vocês podem me informar sobre os efeitos da quimioterapia em bebês com relação à alimentação.
Olá, Maria, como vai?
Seu filho realizou tratamento para qual tipo de câncer?
A quimioterapia, geralmente, causa alterações no paladar, além de poder deixar um gosto ruim na boca e fazer com que ela fique seca. O tempo para normalizar essa situação varia de paciente para paciente, mas costuma levar alguns meses. É possível também que o anticonvulsivante cause, como efeito colateral, alterações no apetite e afins.
Recomendamos que a senhora procure algum(a) nutricionista que faz parte da equipe médica responsável pelo tratamento oncológico do seu filho ou um nutricionista especializado em alimentação infantil para analisar o que pode ser feito!
Abraços
Ele fez tratamento de um tumor cerebral: carcinoma do plexo coróide. Percebemos também que a questão da alimentação em decorrência do tratamento está afetando a fala, por não ter havido um processo de mastigação, motricidade. Já estamos buscando ajuda. Obrigada pelo retorno
Como deve ser a alimentação de uma criança de 2 anos após a retirada de um tumor no fígado?
Olá, Maria Da Glória, como vai?
Em geral, a dieta de crianças em tratamento oncológico devem seguir os princípios que indicamos nesta matéria. Porém, reforçamos que cada paciente tem necessidades específicas, então é essencial contar com a orientação de um(a) nutricionista oncológico.
Como esse paciente acabou de realizar uma cirurgia, é bem provável que haja indicações específicas por conta do procedimento em si e, dependendo de como foi essa retirada, algumas orientações e restrições por conta do órgão afetado. Devido ao fato de nós não atendermos esse tipo de tumor e de não conseguirmos fazer uma avaliação do paciente, não temos a autorização para indicar o que ele deve, ou não, consumir. Por isso, o ideal é conversar com o oncologista que acompanha o caso, com a equipe de cirurgia ou com o nutricionista da equipe médica.
Abraços!