Por que a mielofibrose e a anemia estão ligadas?
Última atualização em 6 de dezembro de 2023
No tratamento, opções como o transplante de medula óssea, transfusões de sangue e medicamentos são utilizadas para melhorar os níveis de hemoglobina
A mielofibrose e a anemia podem estar ligadas por diversos motivos, sendo que esse quadro pode aparecer tanto como um sintoma, quanto como uma complicação. A gravidade da doença pode ser avaliada por meio de diversos fatores e a queda da hemoglobina é um deles. Porém, a tendência é que, com o tratamento, os níveis desse componente sanguíneo voltem ao normal.
Primeiramente, é importante entender que a mielofibrose é um câncer do sangue e pertence ao grupo das doenças mieloproliferativas crônicas. Em segundo lugar, vale lembrar que as células-tronco se encontram na medula óssea e são responsáveis pela fabricação das células do sangue.
As células do sangue, por sua vez, são constituídas pelas plaquetas, glóbulos brancos e glóbulos vermelhos, sendo que um dos componentes dos glóbulos vermelhos é a hemácia, que contém grande quantidade de hemoglobina.
De acordo com a Drª. Vanessa dos Anjos Bovolenta, médica hematologista do A.C. Camargo Cancer Center, esse quadro acontece quando o nível de hemoglobina está menor que 10g/dl.
Relação entre mielofibrose e anemia
A mielofibrose acontece quando as células-tronco sofrem uma série de mutações genéticas, que as transformam em células anormais e criam uma fibrose na medula óssea. Com isso, há uma redução na produção de todos os componentes do sangue, inclusive de glóbulos vermelhos saudáveis, fazendo com que o paciente possa desenvolver anemia.
A Drª. Bovolenta conta que “a anemia ocorre em até 50% dos pacientes que apresentam mielofibrose. Ou seja, até metade dos pacientes desenvolve esse quadro.”
Considera-se que a queda na quantidade de hemoglobina na mielofibrose seja multifatorial. Ela pode ocorrer por conta da “esplenomegalia (aumento do baço), que causa um sequestro e destruição das hemácias, devido à redução de produção na medula ou até mesmo por causas imunes”, a médica descreve.
Ela ainda complementa que a anemia pode aparecer como um sintoma de mielofibrose ou então que a pessoa a desenvolva ao longo do tempo.
“Por exemplo, um paciente que tem mielofibrose pode piorar da esplenomegalia com o tempo por conta da evolução da doença. Ou também pode acontecer da sua produção medular ficar cada vez mais prejudicada, o que acaba gerando um quadro de anemia ou piora de um quadro já existente”, a especialista esclarece.
Em alguns casos, os pacientes podem apresentar sangramentos tanto como sintomas da mielofibrose, quanto como uma complicação. A perda de hemácias nessas situações também pode impactar no surgimento ou agravamento da anemia.
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Sintomas de anemia
A hemoglobina é responsável por transportar oxigênio até os tecidos e órgãos. Então, quando a quantidade deste elemento está abaixo da considerada saudável, diversos órgãos, como o coração, pulmão e o cérebro, podem não funcionar de forma adequada.
A Drª. Bovolenta relata que, por isso, os principais sinais de anemia são:
- Cansaço
- Fadiga
- Vertigem
- Diminuição da capacidade cognitiva
- Dor no peito e
- Falta de ar
Gravidade da mielofibrose e anemia
Há uma série de fatores que são avaliados para identificar o estadiamento e a gravidade da mielofibrose, dando origem a um score de risco. Segundo a especialista, dentre os critérios avaliados está a presença de mutações genéticas específicas, se o paciente está com sintomas constitucionais, qual o percentual de blastos (células imaturas) no sangue e se a pessoa tem anemia e qual a gravidade dela.
Caso haja a presença de anemia e a depender de quão intensa ela é, esse quadro pode ser considerado um indicador que a doença é mais grave ou está em um estágio mais avançado.
Entretanto, a hematologista afirma que, com o tratamento adequado, a anemia tende a melhorar.
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Como funciona o tratamento para anemia na mielofibrose
Em geral, ao tratar a doença de base, a tendência é que a queda na hemoglobina também seja resolvida. Isso pode ser feito por meio do transplante de medula óssea (TMO), transfusão de sangue e/ou com medicamentos.
No caso de pacientes mais jovens e com boa performance, é possível realizar o TMO. Nesse procedimento, as células doentes da medula óssea são substituídas por células saudáveis. Assim, o corpo consegue voltar a produzir os glóbulos vermelhos, e todos os outros componentes, na quantidade adequada.
Porém, a Drª. afirma que o processo do TMO é intenso e nem todos os pacientes de mielofibrose podem e/ou conseguem passar por ele.
Para os casos em que o transplante não é recomendado, ou até mesmo como um complemento ao TMO, os tratamentos para mielofibrose também acabam por tratar a anemia. A Drª. Bovolenta fala quais são as principais opções.
“Podemos utilizar alguns medicamentos para auxiliar na redução da necessidade transfusional, como o estimulador de eritropoetina. Mas, claro que, se a anemia ocorrer com esplenomegalia ou sintomas constitucionais, temos a opção de inibidor JAK2. Ele tende a melhorar esses sintomas e pode, de alguma maneira, com a melhora da esplenomegalia, melhorar a anemia. Embora seja bom lembrar que esse medicamento também pode provocar anemia.”
Por esse motivo, é fundamental conversar com o médico responsável para entender qual o tratamento mais adequado e também fazer o acompanhamento corretamente, para verificar como o corpo está reagindo à terapia. Em caso de qualquer sintoma ou sinal diferente, também é fundamental comunicar ao especialista.
Por último, ter uma alimentação saudável e consumir todos os nutrientes e vitaminas necessários tende a ajudar no controle desse quadro.
“É sempre interessante termos uma fonte de ferro e manter alimentos que sejam fonte de vitamina B12 e ácido fólico. Eles são materiais básicos para nosso organismo produzir as células”, a Drª. Vanessa dos Anjos Bovolenta diz.
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