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Como funcionam as linhas de tratamento para leucemia mieloide crônica

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Entenda como as terapias funcionam, quando trocar de medicação e o que fazer diante de efeitos colaterais

Escrito por: Revista Abrale

Entender as diferentes linhas de tratamento para leucemia mieloide crônica, quando e por que mudar, e os possíveis efeitos colaterais é essencial para que pacientes e familiares possam tomar decisões informadas junto aos seus médicos. Ter acesso a todas as opções terapêuticas é crucial para garantir o melhor cuidado possível e aumentar as chances de sucesso da terapia.

É importante lembrar que a leucemia mieloide crônica é um câncer hematológico, que se origina na medula óssea e afeta a produção e a função das células do sangue. Ela ocorre devido a uma mutação genética nos cromossomos 9 e 22, conhecida como cromossomo Philadelphia, que leva à formação da proteína BCR-ABL. Essa proteína anormal estimula a produção excessiva de células sanguíneas doentes (blastos), causando a LMC.

Esse câncer é dividido em três fases, caracterizadas, principalmente, pela quantidade de blastos presente. De acordo com a Leukemia & Lymphoma Society, os estágios e suas descrições são:

  • Fase crônica: pacientes nesta fase, geralmente, possuem menos de 10% de blastos e, por isso, os sintomas tendem a ser menos É a fase em que a grande maioria dos pacientes é diagnosticada.
  • Fase acelerada: pacientes em fase acelerada, no geral, apresentam sintomas mais acentuados, especialmente febre, falta de apetite e perda de peso. O exame de sangue apresenta mais de 15% de blastos, podendo também apresentar baixa concentração de plaquetas ou excesso de basófilos, e promielócitos. Nesta fase, mutações e anomalias cromossômicas adicionais também podem ocorrer.
  • Fase blástica: nesta fase, a doença se assemelha mais a uma leucemia aguda. Os sintomas são muito pronunciados, especialmente fadiga, febre e baço aumentado, e as amostras de sangue ou medula óssea mostram mais de 30% de blastos, que podem inclusive infiltrar outros tecidos e órgãos.

Tratamento para leucemia mieloide crônica

Apesar das diferentes fases da LMC, os inibidores de tirosina quinase costumam ser usados em todos os estágios. Eles são medicamentos orais, que devem ser tomados diariamente, de forma ininterrupta e que permitem o controle da doença, mas não a cura.

“Os inibidores de tirosina quinase (ITQs) atuam como uma terapia-alvo, bloqueando o estímulo da proteína anormal BCR-ABL e fazendo com que as células da doença reduzam progressivamente, permitindo que a medula óssea volte a funcionar normalmente”, o Dr. Raphael Costa Bandeira de Melo, médico hematologista do Oncologia D’Or, explica.

O Dr. Melo ainda ressalta que, justamente por conta dos medicamentos promoverem o controle da doença e não a cura, a adesão dos pacientes é um fator fundamental.

“Eles não podem esquecer de tomar as doses”, o médico comenta. Ele ainda informa que os ITQs são divididos conforme o seu mecanismo de ação (a forma como bloqueiam o estímulo da proteína anormal) e a potência do seu efeito. Atualmente, existem três gerações – com todos os medicamentos já aprovados no Brasil:

  • ITQ de primeira geração: representada pelo imatinibe.
  • ITQs de segunda geração: aqui, encontram-se o dasatinibe, nilotinibe e bosutinibe.
  • ITQ de terceira geração: contendo o ponatinibe e asciminibe.
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Normalmente, o tratamento da leucemia mieloide crônica é iniciado com o inibidor de primeira geração. Mas, em alguns casos específicos, o médico pode avaliar a necessidade de iniciar com outra geração devido aos riscos da doença.

“Nos pacientes que possuem risco aumentado, podemos considerar iniciar com inibidores de segunda geração, buscando uma resposta mais rápida e mais profunda”, o Dr. Melo esclarece.

Além disso, é bastante comum que o paciente precise trocar a geração do medicamento. O médico conta que mais de 30% das pessoas tratadas com imatinibe precisarão, em algum momento, interromper o uso desse inibidor e começar a usar outro de uma geração diferente, por exemplo.

Quando e por que trocar a geração do inibidor?

A troca de linha de tratamento para leucemia mieloide crônica pode ser necessária por várias razões, incluindo a falta de resposta adequada ao tratamento inicial, a progressão da doença ou a presença de efeitos colaterais significativos.

É muito importante ter em mente que nem sempre o avanço na linha terapêutica da LMC significa progressão da doença. Ou seja, nem sempre a troca de geração significa que a LMC passou da fase crônica para a blástica ou acelerada.

Porém, justamente por conta do fato de que muitos pacientes precisam fazer essa troca, é indispensável que todas as gerações de inibidores estejam disponíveis tanto no sistema público de saúde, quanto no privado.

“O acesso a todas as linhas permite que essas situações sejam adequadamente tratadas e que o melhor tratamento seja sempre oferecido”, o Dr. Melo pontua.

Falta de resposta ou progressão da doença

Quando o tratamento não atinge os resultados esperados dentro de certos marcos temporais — por exemplo, os níveis de BCR-ABL não diminuem adequadamente nos marcos de 3, 6 e 12 meses — pode ser necessário mudar para outro ITQ. Essa falta de resposta pode indicar uma resistência ao medicamento atual ou uma possível progressão da doença, o que requer atenção imediata.

“Na LMC, sempre buscamos a redução dos níveis da doença, representada pelos níveis de BCR-ABL. Quando não atingimos essa resposta, devemos checar se não há outra medicação interagindo com o ITQ (e atrapalhando o efeito) e se as doses estão sendo tomadas corretamente. Descartadas essas situações, o ideal é trocarmos a medicação”, o hematologista indica.

Além disso, casos raros de progressão, onde a doença avança para uma fase mais agressiva ou outras alterações genéticas são adquiridas, também demandam a troca para um ITQ de segunda ou terceira geração.

Efeitos colaterais

Cada ITQ possui um perfil distinto de efeitos colaterais, que pode variar significativamente entre os pacientes. Quando os efeitos adversos se tornam intoleráveis e impactam a qualidade de vida, pode ser necessário ajustar a dosagem ou mudar para outro medicamento.

A principais reações adversas de cada medicamento são:

Imatinibe: neutropenia, trombocitopenia, anemia, cefaleia, náusea,  diarreia, vômito, dispepsia, dor abdominal, edema periorbitário, dermatite/eczema/erupção cutânea, espasmos e câimbras musculares, dor músculoesquelética incluindo mialgia, artralgia, dor no osso, retenção hídrica e edema, fadiga, aumento de peso.

Dasatinibe: retenção de fluidos (inclui: derrame pleural, edema superficial localizado, hipertensão pulmonar, edema generalizado, derrame do pericárdio, insuficiência cardíaca congestiva/ disfunção cardíaca, edema pulmonar), diarreia, dor musculo-esquelética, erupção cutânea, dor de cabeça, dor abdominal, cansaço, náusea. 

Nilotinibe: cefaleia, náusea, constipação, diarreia, vômito, dor abdominal superior, erupção cutânea, prurido (coceira), alopecia, pele seca, mialgia, artralgia, fadiga. hiperbilirrubinemia, hiperfosfatemia, alanina aminotransferas.

Aumentada, aspartato aminotransferase aumentado, lipase aumentada, colesterol lipoproteico (incluindo de baixa e alta densidade) aumentado, colesterol total aumentado, triglicérides sanguíneos aumentados, neutropenia e trombocitopenia.

Bosutinibe:infecção do trato respiratório, nasofaringite, trombocitopenia, anemia, neutropenia, apetite diminuído, cefaleia, tontura, dispneia, derrame pleural, diarreia, vômitos, dor abdominal, náusea, erupção cutânea, artralgia, dorsalgia, fadiga, pirexia, edema, ALT aumentada, AST aumentada, lipase aumentada, creatinina aumentada.

Ponatinibe: infecção do trato respiratório superior, anemia, diminuição da contagem de plaquetas, diminuição da contagem de neutrófilos, diminuição do apetite, insônia, dores de cabeça, tonturas, hipertensão, dispneia, tosse, dor abdominal, diarreia, vômito, constipação, náuseas, lipase aumentada, aumento da alanina aminotransferase (TGP), aumento do aspartato aminotransferase (TGO), erupção cutânea, pele seca, dor óssea, artralgia, mialgia, dores nas extremidades, dor nas costas, espasmos musculares, fadiga, astenia, edema periférico, estado febril, dor, eventos oclusivos arteriais cardiovasculares.

Asciminibe: infecção do trato respiratório superior, trombocitopenia, neutropenia, anemia, dislipidemia, dor de cabeça, tontura, hipertensão, dispneia, tosse, enzimas pancreáticas aumentadas, vômito, diarreia, náusea, dor abdominal, enzima hepática aumentada, erupção cutânea, prurido, dor musculoesquelética, artralgia, fadiga, edema, pirexia.

“Cada um dos ITQs possui efeitos colaterais que podem ser mais ou menos importantes em cada pessoa. Quando há presença de reações adversas, muitas vezes a redução de dose pode ser o suficiente para reduzir ou resolver o efeito colateral. Já a troca de medicação pode ficar reservada para aqueles efeitos colaterais mais graves ou que não melhorem com redução da dose”, o Dr. Raphael Costa Bandeira de Melo diz.

Importante!

O uso dos ITQs, bem como a troca de geração do medicamento, não deve ser realizada sem supervisão e orientação médica. Em caso de efeitos colaterais, converse com o seu onco-hematologista para saber como lidar com eles ou se o ideal é realmente fazer a troca.

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