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A síndrome mielodisplásica é um câncer?

Duas pessoas sentadas frente a frente em uma mesa, discutindo se a síndrome mielodisplásica é câncer.
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Última atualização em 5 de setembro de 2024

Apesar de, em alguns casos, essa doença não causar sintomas, ela nunca pode ser considerada benigna

Escrito por: Natália Mancini

Após receber o diagnóstico, é muito comum que os pacientes questionem se a síndrome mielodisplásica é câncer e a resposta é sim, essa doença é considerada uma neoplasia maligna. Porém, mais importante do que saber essa informação, é entender como essa condição se comporta e ter em mente que ela é diferente de outros quadros onco-hematológicos, como as leucemias. 

A síndrome mielodisplásica (SMD) acontece quando as células-tronco hematopoiéticas (responsáveis pela produção do sangue) sofrem uma série de mutações, se transformam em malignas e passam a fabricar, em maior quantidade, células sanguíneas doentes que não conseguem desempenhar sua função. 

“O que significa isso? Significa que a medula produz células  que são anormais no sentido da morfologia. Então, se olharmos para elas, vamos ver que estão doentes e que possuem características de células não saudáveis. O funcionamento também não é normal. Além disso, essas células anormais ficam armazenadas em grande quantidade na medula óssea e, quando caem na circulação, têm uma sobrevida mais curta e acabam morrendo mais rápido”, explica o Dr. José Ulysses Amigo Filho, médico hematologista do Serviço de Transplante de Medula Óssea da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Justamente por conta desses aspectos, considera-se a síndrome mielodisplásica um tipo de câncer e com capacidade de se transformar em uma doença mais grave: a leucemia mieloide aguda (LMA). “Jamais podemos dizer que uma mielodisplasia é uma doença benigna”, o Dr. Ulysses pontua.

Essa capacidade de progressão, também chamada de “risco”, é o fator que dita como a SMD irá se comportar e direcionar o  tratamento.

Classificação de risco da SMD

A síndrome mielodisplásica pode ser identificada como: muito baixo risco, baixo risco, intermediário (1 e 2), alto e muito alto risco. Sendo que, como mencionado anteriormente, o risco diz respeito à chance da SMD se transformar em uma LMA e essa classificação é feita de acordo com o score IPSS-R (International Prognostic Score System Revisit, que, em português, significa Sistema de Score Prognóstico Internacional Atualizado).

Ícone estilizado de um estetoscópio azul e uma prancheta com marcas de verificação, simbolizando a avaliação médica da classificação da síndrome mielodisplásica.

Para determinar qual o risco, o IPSS-R leva em consideração vários fatores, incluindo:

  • Contagem de células sanguíneas;
  • Porcentagem de blastos na medula óssea;
  • Anormalidades cromossômicas.

“Invariavelmente, a SMD, em algum momento – mais cedo, ou mais tarde – vai se transformar em uma leucemia e o risco está relacionado a exatamente esse prazo. Então, as mielodisplasias de baixo risco são aquelas que levarão um tempo maior para se transformar. Já as de alto risco são as que, em questão de alguns meses, se transformarão em uma leucemia”, o especialista diz.

Ele descreve que, no caso das SMD de muito baixo risco, há a possibilidade de que, ao longo de toda a vida do paciente, a transformação não ocorra. Especialmente no caso de pacientes mais velhos.

 “É uma doença de muito bom prognóstico a longo prazo. Em um período de, mais ou menos, 11 anos, apenas 25% dos casos terão a transformação para leucemia”, o Dr. Ulysses complementa. 

O médico ainda aponta que:

  • SMD risco intermediário: 25% dos casos sofrem progressão em cerca de 3 anos.
  • SMD de risco alto: 25% das transformações ocorrem em pouco menos de um ano/um ano e meio.
  • SMD de muito alto risco: 25% dos pacientes apresentam a mudança em sete ou oito meses.

O que é mielodisplasia de alto risco?

Paciente sentado em frente a uma médica perguntando se a síndrome mielodisplásica é câncer

Além de ser uma SMD com chance de se transformar mais rápido, ela também tende a causar mais sintomas e exigir intervenções terapêuticas.

“Eventualmente, o comportamento clínico desses pacientes é mais agressivo. Então, são indivíduos que vão estar mais plaquetopênicos, com a defesa mais baixa, mais leucopênicos, mais anêmicos e que demandam uma maior necessidade de intervenções terapêuticas como, por exemplo, o uso de transfusão de hemocomponentes, transfusão de hemácias ou plaquetas”, o médico esclarece.

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Diferenças e semelhanças entre a síndrome mielodisplásica e a LMA

O Dr. Ulysses conta que, no passado, a SMD era chamada de “pré-leucemia” ou “leucemias agudas de comportamento brando/indolente”, por isso as duas doenças compartilham muitas características. Mas, também se diferenciam em alguns pontos.

Semelhanças

Ilustração comparativa entre uma célula sanguínea saudável e outra com leucemia destacando as alterações no hemograma, como os glóbulos vermelhos normais contra o aumento dos glóbulos brancos na leucemia.

A SMD e a LMA têm características parecidas, principalmente em relação à produção de células anômalas (doentes) na medula óssea. Em ambas as condições, há presença aumentada de blastos, que são células imaturas. No entanto, na SMD, esses blastos estão presentes em menores quantidades em comparação à LMA.

Diferenças

As principais diferenças entre a SMD e a LMA estão na quantidade de blastos presentes na medula óssea e no sangue, nos sintomas apresentados pelos pacientes e na intensidade desses sinais.

“O blasto é uma célula primitiva da medula óssea e que vira um glóbulo branco maduro. Na mielodisplasia, você já tem a presença dessas células anômalas, uma porcentagem de blastos que são doentes, mas, dependendo da quantidade, eles vão fazer com que essa mielodisplasia seja de baixo risco ou de alto risco”, o  hematologista informa.

Quando esses blastos estão presentes em quantidade ainda maior, podem infiltrar outros órgãos e causar uma série de alterações, dando origem à leucemia mieloide aguda. 

Em relação aos sintomas, “os pacientes de SMD podem ter quedas de células,  só que em valores que não demandam transfusão de sangue. Essas quedas não levam a grandes alterações clínicas, como sangramentos, infecções ou anemia, em que o paciente fica extremamente sintomático, com fadiga extrema. A pessoa leva uma vida relativamente normal, sem grandes problemas”, o Dr. Ulysses comenta.

Já na LMA, as alterações na quantidade de células sanguíneas é mais intensa e, por isso, causam sintomas também mais fortes.

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